24/08/2010

Sobre a Dor

"Dor é uma sensação desagradável, que varia desde desconforto leve a excruciante (...)." in WikipediaComo dizer apenas "sinto dor" quando o que mais precisamos expulsar é um grito?
Como é que um monossílabo pode expressar o monstro que nos rasga interiormente?
Nunca pensamos nela e, no entanto, ela está tão iminente. Sempre.
Na porta que se fecha sobre o nosso dedo, na postura incorrecta que nos massacra as costas, no som perfurante que nos fere os tímpanos, no ardor de uma ponta de cigarro sobre a pele, nas palavras escusadas de alguém... porque ninguém nega que as dores da alma podem ser tão ou mais dolorosas do que as do corpo.
Omnipresente. Omnipotente. A dor tira-nos a ousadia e só pedimos que passe. Rápido.
A dor é desagradável. É dolorosa. Má.
Procuramos refúgio num analgésico envenenado mas não há por onde lhe escapar. Não há alívio ou consolação. Dói. Há sentimento mais redutor e asfixiante?
E será que a dor dói a todos de igual forma?
Eu não sofro quando tiro sangue; fiz uma tatuagem sem me queixar... Mas nem por isso sou muito valente.
A dor é relativa, pessoal e intransmissível.
O mesmo beliscão pode doer-me mais a mim do que a ti. Talvez eu "sinta" mais; ou posso apenas "aguentar" menos. Não importa. A dor não se quantifica.
Eu sofro, queixo-me. E também sofro com os teus queixumes, com as tuas dores.
Físicas ou não, legítimas ou estúpidas, mais ou menos intensas. O que importa isso?
Sofres, eu sofro. E consolo-te. E não me é agradável sentir que, quando eu sofro as minhas dores, alguém as quantifica, relativiza e diz para eu não julgar que sofro mais do que os outros.
Nunca julguei que o meu sofrimento fosse maior. Mas, decerto, é desconhecido de todos.

20/08/2010

Post nº 100

Pois é, meus amigos, seguidores, leitores assíduos, ocasionais passantes e até aqueles que cá subam hoje por acaso e nunca mais cá ponham os pés... O MEU PEDESTAL tem hoje e aqui o seu post número 100!!!
Parece que foi ontem que me sentei pela primeira vez aqui nos altos, ainda com uma sensaçãozita de vertigem, por me colocar tão assumidamente acima dos reles mortais; mas hoje, 100 posts decorridos, já me movo com total liberdade e conforto aqui pelos meandros do meu poleiro... Faz daqui a duas semanas 1 ano que comecei este blog; em 349 dias de blogger, 100 posts dá uma média de um post a cada 3,49 dias, o que me parece um bocado exagerado. Afinal, ando sempre a queixar-me que a minha vida é um marasmo e, no fim de contas, tenho um acontecimento ou pensamento importante para escrever a cada 3 dias e meio... Dei por mim a fazer o balanço do conteúdo que para aqui fui semeando e apercebi-me que aquele "pequeno egocentrismo" que anuncio logo no cabeçalho é, afinal, de um tamanho desmesurado, porque venho sempre escrever sobre mim e o que me acontece a mim, e do que eu acho e do que me fazem e do que eu sinto... Começo então a pensar que talvez isto seja um bocado fútil e que deveria reduzir-me ao silêncio do espaço que ocupo, que é a insignificância da cadeira... Até que uma epifania me faz lembrar o nome que dei a este espaço. Este é O MEU PEDESTAL, onde EU impero, e onde a MINHA vontade é soberana. Já é suficientemente redutor eu ser um funcionário no trabalho, um membro na família, um elemento no grupo, uma crente na igreja, uma estatística no país, um átomo no mundo. Aqui é o sítio onde eu cresço e me torno maior do que todos. É o meu poleiro. E a quem me achar tirana, prepotente e egoísta (egocêntrica não digo, porque sei que sou) pede-se o favor de descer na próxima paragem.

17/08/2010

Na ressaca...

...porque a ocasião das festas da terra é uma tremenda borracheira. Estamos alterados, todos. Tudo é extremo, sejam as alegrias, sejam as tristezas. Se acontece algo bom, somos os mais felizes do mundo porque tudo contribui para a euforia. Se acontece algo mau, somos os mais desgraçados porque todos os outros festejam, indiferentes à nossa amargura. A nossa percepção da realidade é distorcida. Exagerada. Por isso digo que as festas são uma tremenda borracheira. Têm a fase da ressaca e tudo, que é quando tudo termina. A euforia esgota-se. Passa a solenidade das procissões e a efusividade das noites de música e arraiais e fica aquele amargo de boca que é uma mistura de cansaço, alegria serena e já a nostalgia porque agora festa assim, só para o ano...
E este ano a minha "borracheira" teve direito aos dois extremos. Tanto dancei, como ri, como falei alto, como saudei; da mesma forma que tremi, sofri, murmurei e chorei, até. Porque o encontro com os outros, com todos, é inevitável. E os que se mantiveram num afastamento saudável a maior parte do tempo voltaram a cruzar-se. E eu, que já era forte e imune, fui mais uma vez toldada pela presença perturbadora daqueles que eu já conheci e quis bem e me conheciam e queriam bem, e agora não nos conhecemos nem queremos nada uns dos outros. Bem... eu até queria. Queria ver que, apesar de tudo, nesta altura, e porque é tradição, e 14 de Agosto não é 14 de Agosto se não estivermos juntos, ainda éramos capazes de nos encontrar e desfrutar, sem pensar em vícios e pecados antigos. A coisa correu bem no 1º dia; abanou um bocado no 2º; e no 3º e último dia de festa, caiu tudo abaixo.
Fiquei triste. Mas já passou. Estou a ressacar. Estou a recuperar das noitadas; das refeições feitas à pressa; as pessoas começam a dispersar novamente e eu começo a recuperar o distanciamento que me faz forte; ainda sinto o cansaço, o ombro dorido de carregar o andor, o estômago apertado pelas emoções destrutivas que me perseguem mas já passa. Amanhã já passa.

11/08/2010

"Pessoas como nós", de Margarida Rebelo Pinto

Pois é... Parece impossível mas é verdade... Eu, que proclamo gostar de literatura "da pesada", que não tolero "leituras de verão" porque são ligeiras e insípidas, e que tenho alergia aos grandes sucessos, eis-me a ler Margarida Rebelo Pinto, a nossa escritora mais genial e romântica, na opinião de uns; e a mais fútil e socia-light, na opinião de outros. Foi a Belinha quem me trouxe dois livros da dita: o supracitado e o "Não há coincidências".
Apesar de gostar mais do título do segundo, a leitura da sinopse assustou-me um bocado. Aparentemente, é a história de uma mulher que namorou com X, teve um caso com Y, anda enrolada com Z, dá umas voltas com Fulano e tem um caso mal resolvido com Sicrano... Enfim, uma monumental salgalhada! Pelo que me atirei à leitura do outro...
A história é pobrezinha. Na verdade, arrisco-me a dizer que nem história há. O livro é, todo ele, um emaranhado de monólogos e introspecções de três mulheres completamente diferentes, tristes e frustradas. Não existe acção. Apenas tristezas e culpas, revolta e angústia, ciúme, solidão, ocasionais alegrias...
Apesar de já ter ouvido falar muito nele, só agora compreendo o conceito de "literatura light". Não nos dá nada; não nos "engorda". Brinda-nos com frases melodiosas e profundas, que nos fazem descolar os olhos da página e pensar que bem que aquilo encaixa na nossa vida e resume certos sentimentos complexos mas, capítulo após capítulo, não aprendemos nada, não encontramos um fio condutor que nos faça tentar adivinhar o que virá a seguir ou imaginar o desfecho que gostaríamos para a história. No fim, vão perguntar-me se gostei do livro e sobre o que era e eu vou ver-me à rasca para responder porque, basicamente, aquilo é sobre coisa nenhuma. Dá a ideia de que ela se sentou e foi escrevendo "ao correr da pena", sem ter muito clara a ideia do que viria a seguir...
Decerto não vou ler o outro livro dela que tenho em minha posse porque gosto de livros que me ensinem algo, que me mostrem um mundo diferente daquele onde vivo, onde descubro uma filosofia de vida mais nobre, um sacrifício redentor, uma sabedoria insuspeita, uma acção envolvente, frases bem feitas e sonoras que me façam pensar e voltar atrás para as ler uma e outra vez, romances arrebatadores e com finais grandiosos, não necessariamente felizes.
Esta é uma história que o vizinho do lado podia ter escrito ou vivido. É uma história de gente como nós e, se calhar, é por isso que agrada a tanta gente. E é definitivamente por isso que me desagrada a mim, porque eu exijo mais dos livros que leio. Assim a ser, anda por aí muito blogger que podia imprimir uns posts e ganhar uma pipa de massa...
Hum... Estou a ficar cá com umas ideias... =)

08/08/2010

Emigrantes

Portugal é uma país engraçadinho onde todos os anos , pontualmente no 1º de Agosto, acontece um estranho fenómeno que duplica a população residente. Não falo de nenhum Baby-Boom mas, é claro, nas vagas de emigrantes que regressam à pátria para as festas da terrinha.
Entenda-se: nada tenho contra os emigrantes. Tenho uma série deles na família, admiro a bravura de ir para um país estranho em busca de mais e melhor do que o que poderiam encontrar cá e até consigo achar piada ao estereotipo do garrafão, a fieira de ouro ao pescoço, o português falado mal e porcamente e a mania do "lá fora é tudo bom, este país é atrasado".
Mas quando estes queridos vêm em manada e parecem brotar do chão de um dia para o outro, deixam de ser uma visita simpática e tornam-se uma PRAGA!!!
Sair de casa testa-me os nervos, porque sei que vou ver a minha terrinha pacata e sem engarrafamentos transformada num constante rebuliço de pessoas ociosas que passeiam mal vestidas, a comer farturas e gelados e algodão doce e outras porcarias hiper calóricas e gordurosas, a falar seja lá a língua em que melhor se entendem, a ocupar todos os lugares de estacionamento legal, mais os de segunda fila, as placas das rotundas, os passeios e as paragens de autocarro.
Eu, que até sou uma pessoa pacata e de índole bondosa, torno-me uma fera quando tenho que andar durante 20 minutos a passear na cidade para encontrar uma porra de um buraco para enfiar o carro. E note-se que a dada altura perdi o interesse em encontrar um bom lugar e não teria remorso de deixar o bichinho em cima da relva de algum jardim ou em segunda fila num sítio qualquer mas nem isso encontrei!!! Chamei-lhes tantos nomes, fiquei tão possessa que nem tive pachorra para depois ir ter com os amigos e fui para casa comer gelado à colherada directamente do balde! O raio que os parta, que não os suporto!!!
Todos os anos, durante um mês, dão cabo da vida de quem cá passa o tempo todo. Podiam ser discretos, mas não... Vêm com grandes carros, de matriculas esquisitas, onde insistem em pôr a música num volume que devia ser proibido; andam em grupos grandes, avós, filhos, netos, noras, genros, cunhadas, primas em 12º grau... Falam alto, intercalando o português com ocasionais "oui, voilá". As mulheres têm a terrivel mania de andar com o soutien todo por fora dos tops. Se calhar, lá isso é considerado sexy. Aqui acho que nem tanto. Pagam tudo com notas grandes e, quando vão ao banco cambiar os francos têm a mania de sair com o maço de euros ainda na mão, demorando-se, antes de os meterem na carteira.
Que manada ruidosa e irritante. Hei-de arder no inferno por causa deste palavreado todo, mas esta gente faz-me saltar o pipo!