29/10/2009

Revelação

Há uma música que todos conhecemos, do nosso caríssimo Jorge Palma, que diz:
"Pois é, pois é... Há quem viva escondido a vida inteira.
Domingo sabe de cor o que vai dizer segunda-fe-ei-ra"
Tenho algo a anunciar: Essa pessoa sou eu.
Tenho horror ao imprevisto. A ser apanhada desprevenida. A ficar sem reacção. A não ter a resposta na ponta da língua. A deixar toda a gente a pensar que sou uma nódoa.
Por isso, sofro de ansiedade. Imagino e prevejo tudo ao pormenor. TUDO. É claro que sai sempre tudo diferente daquilo que eu vaticino... E até nem costumo sair-me mal... Eu sou jovem, tento ser alegre, viva e optimista, tento melhorar o dia de todos os que se cruzam comigo... Mas a verdade é que continuo a ficar sempre ansiosa. Por tudo. Por nada.
Sofro de ansiedade a um nível mesmo patológico, fico sem conseguir comer, tremo, doi-me a cabeça, sinto um peso no peito, transpiro...
Odeio surpresas. Não como aquelas pessoas que dizem que odeiam surpresas mas estão sempre à espera que alguém lhes faça uma... Odeio, mesmo. Porque, no momento em que sou surpreendida, sou tomada pelo pânico, porque fui apanhada desprevenida, e os olhos estão postos em mim... E eu sou tão pequena...

22/10/2009

Dizer não ao sofá

Passei o dia indisposta. Com uma leve dor de barriga, pouca vontade de comer, tive frio, sentia cansaço... Espirrei algumas vezes e, por 2 segundos, pensei se teria Gripe A. Percebi que não. Deitei-me no sofá. Dormitei e acordei mesmo a tempo de ir para o ginásio fazer a aula de step. Hesitei, pensei não ir. Mas fui. "O pior que pode acontecer - pensei - é eu ter de facto gripe A e contaminar toda a gente (que me vai ficar infinitamente agradecida por poder faltar ao trabalho) ou, no caso de isto ser só fraqueza, por causa das minhas eternas anemias, desmaiar". Lá fui.
Foi tão bom...!!! Esqueci as dores, esqueci o frio, esqueci que já não sou a melhor amiga do meu melhor amigo (simplesmente porque ele já não pode/quer ser o meu melhor amigo também), esqueci aquela tristeza estúpida que, de quando em vez, vem morder-me os calcanhares, e dancei... Cheguei a casa cansada e bem disposta.
Às vezes, quando o malvado do sofá nos tenta seduzir, há que dizer que não. Lá fora há gente e esquecimento. E quando estes não resultam, o sofá está lá na mesma, quando voltarmos para casa.

19/10/2009

À minha mãe

A mamãe voltou!!! Esteve fora, a trabalhar...
Estive mais de 6 meses sem ver a minha mãe. Ela voltou. E agora parece que nunca saiu daqui. Parece que esteve sempre tudo igual.
Foram 6 meses. Para mim, que sou tão dependente da força e do exemplo da minha mãe, foi uma provação... que eu passei com distinção, atrevo-me a pensar...
Tingi algumas peças de roupa, queimei o jantar uma vez ou outra, há coisas na arca frigorífica que nem sei que lá estão... mas cresci tanto! Cresci, mãezinha!
Eu nem sou sentimentalona nem nada. Não gosto nem sei falar destas coisas mas, sinto-me tão orgulhosa por saber que te sentes orgulhosa de mim...!
E, apesar de tudo, foi bom. Foi bom eu ter "voado sozinha"... Agora sinto, não que vivo contigo, mas que vivemos juntas. ...mais a peste da mana mais nova, que está na tenebrosa idade do armário...

12/10/2009

O Frio

Os dias estão mais frios. Não saio convenientemente agasalhada e volto a casa tolhida de frio. Dispo a roupa que me gela e ponho uma manga comprida, talvez até o roupão fofinho e pesado. A roupa é macia e quente sobre a minha pele fria, mas não a aquece. Acontece-me muitas vezes. Agasalho-me, mas o calor reconfortante dos tecidos não me penetra a pele. Estou sempre fria. Apesar de tudo, se assim não fosse, eu não sentiria o calor delicioso que se desprende das coisas. Se não tivesse frio, seria insensível ao calor do que me rodeia. É uma sensação agradável, afinal.
Quando, finalmente, começo a aquecer, a sensação de conforto desaparece. Estou quente. A tristeza funciona como o frio: faz-nos reparar nas alegrias que, por insensibilidade, ignorámos.
Quem nunca sentiu frio, não sabe definir o que é ter calor. Porque já fui triste, hoje sou conscientemente alegre em tudo o que faço.

10/10/2009

Restos

É uma música dos Toranja que, na opinião de muitos, pode não ser "brilhante", mas que me deixa arrepiada de cada vez que a ouço...
A escultura é "Cupido e Psique". É transcendental... Podia ficar horas a olhar para ela.

Tanto uma como outra são despojamento e entrega. Rendição e transparência.
Quando me sinto como a música, a escultura é como desejo que alguem me apanhasse...

05/10/2009

Momento glorioso no início do meu dia

Primeiro visitante do dia, um solitário homem, olhos meio em bico, talvez oriental, talvez não... Por isso, cumprimentei-o com um “bom dia!”, ao qual ele apenas acena com a cabeça. Nem um sorriso, nem uma carranca, nem um músculo se mexeu naquela cara amarelada. Apenas baixou leve e rapidamente a cabeça (mais um indício de que o homem era proveniente dali daqueles lados do sol nascente). “Can I help you?” – tento. “No”, reponde ele. Assim. Sem mais nem quê. “No”; não. E lá vai ele caminhando pela galeria dentro, entra no espaço da exposição sem fazer a mais remota ideia de onde está ou do que vai ver, aposto. Sinto vontade de correr atrás dele, plantar-me no meio do caminho com a minha mais convincente cara de “olhe que eu sei Kung-Fu” e mãos nas ancas, à moda da boa e brava mulher portuguesa, a gritar-lhe que tem que pagar bilhete, mas você pensa que está onde, seu malcriadão, isto não é a via pública para entrar por aqui adentro assim, sem acompanhamento e sem pagar.
...Ele teria que pagar, se não fosse a obscena sorte que teve em aparecer precisamente no dia em que o Douro está de “portas abertas”... Então fico indolentemente no meu posto, a remoer a minha irritação, enquanto a dita personagem dá a sua voltinha pela galeria.
Deparo-me com gente muito estranha no meu trabalho de Recepção, ora pessoas que se cosem às paredes, muito tímidas, quase com medo de respirar, que se mexem como se estivessem numa igreja, que têm medo de perguntar o que quer que seja; outras vezes, pessoas arrogantes que recusam qualquer ajuda ou informações e que acabam perdidas e depois vêm reclamar que está tudo mal sinalizado.
Pessoas estranhas. Enquanto isto, o estranho visitante saiu como entrou: mudo.
Meia hora depois, outro visitante disse que mesmo não se pagando as entradas neste dia, não está interessado porque é da região (que lata) e virou-me as costas ainda enquanto lhe explicava onde se dirigir para comprar vinho, informação que ele próprio pediu.
P*#%§ que os pariu!!! Falta muito civismo e educação nas nossas relações formais e de circunstância mas, mesmo assim, todos insistimos para que nos tratem por senhor doutor XPTO... Hipócritas.