Apaguei a luz e sentei-me confortavelmente, pus uma musica suave e tencionava fazer a minha meditação diária... É uma forma de terapia, a par das consultas com a psicóloga que já faço há tantos meses, faço agora estas meditações diárias, em que acalmo o meu ritmo cardíaco e mental, olho para dentro de mim, para o que sou, em contraste com o que aparento ser, e o que gostaria de ser, o que preciso melhorar, a nível dos meus pensamentos e sentimentos, para deixar de ser tao susceptível a ataques de ansiedade, medos e inseguranças. É um momento de pausa diário, que costumo fazer à noite, mas hoje aproveitei estar de folga para o fazer ao final da tarde, enquanto a casa está vazia...
No minuto em que inicio o processo estoura a tempestade no apartamento de cima; a familia acaba de chegar a casa e são só gritos loucos e coléricos de uma, respostas amedrontadas de outra, a voz do pai que tenta pedir calma, mais gritos e rugidos de revolta, de vergonha, palavrões, maldições proferidas, e "estou farta", e "tenho vergonha", o bebé chora, ouvem-se soluços convulsivos de uma, e nova rajada de gritos e insultos de outro lado...
Não há álcool naquela família. Não há vícios, nem pobreza, nem vergonhas que sejam o escândalo da rua e dos vizinhos... Há apenas uma família, que como todas as outras tem os seus problemas quotidianos, os seus choques de personalidade, o cansaço que traz para casa depois do trabalho... E que ultimamente nao tem sido capaz de lidar com isso sem ser desta maneira ruidosa e que causa tanta dor aos que ali vivem, e que hoje me perturbou tanto.
Ia fazer a minha meditação mas há uma familia a desfazer-se por cima da minha cabeça, a dizer coisas tao horríveis, a arranhar a voz para cuspir palavras com intenção de magoar...
Uma das coisas que peço na minha meditação é para deixar o medo e a insegurança, mas hoje esta tempestade que veio ribombar sobre a minha cabeça trouxe memórias e a reacção instintiva que aprendi durante tantos anos, que é encolher-me e chorar em silêncio.
A vizinhança também me "presenteia" com situações dessas de vez em quando.
ResponderEliminarBoa semana
Faz parte, não é, Pedro? Ouvirmos em pano de fundo a vida dos vizinhos na nossa própria casa, mas desta vez mexeu comigo. Estava sensível =)
ResponderEliminarAs vantagens de morar no campo, em casa isolada (não muito, que há aqui vizinhança, mas a casa não pega com qualquer outra)é não perceber assim tão facilmente as tempestades dos outros.
ResponderEliminarSim, luisa, é algo que todos os dias nos perturba, é ouvir a rotina do vizinho, desde uma discussão ao autoclismo!
EliminarB o barulho perturba-me imenso, sempre, mesmo o som da TV alto. Detesto barulho por isso adoro estar só e viver na quinta onde só se ouve o som dos animais. Uma família...podem ser muito complicadas e quando as coisas já são gritadas...péssimo.
ResponderEliminarBeijinhos
É o grande problema, se não o maior, de viver num apartamento. Estar paredes meias com os vizinhos é partilhar a vida com uma outra família. Ás vezes, partilha-se alegrias, mas neste caso, foi uma partilha de violência.
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