As coisas que as pessoas dizem constituem uma parte pequenina daquilo que ouvimos. O resto, a maior parte, é constituído por aquilo que o nosso entendimento lhes acrescenta.
Hoje, acompanhada do meu livro a apanhar sol no cais, um casal velhinho, que não conheço, passou junto a mim e a senhora saudou-me alegremente dizendo: "Assim é que está bem, sozinha... A ler, a meditar...". Olhei e sorri-lhes enquanto passavam e fiquei com aquelas palavras a retinir... Eu estava, de facto, bem, ali sozinha. Estava a ler. E ia fazendo uns pequenos intervalos para me permitir meditar no calor do sol, no burburinho do rio, na alegria do cão que se atirava à agua uma e outra vez em perseguição dos patos. Ali é que eu estava bem.
Mas, na verdade, a minha mente interpretou as palavras de outra forma. Da forma que reconhece que, mesmo que quisesse, naquele momento, eu nao poderia estar senão sozinha. Que estou sozinha, de facto, agora que ninguém partilha a sua existência comigo.
E dei graças por ter vindo apenas esse pensamente triste, em vez do ominoso e sentencioso "aí é que estás bem, sozinha, porque não sabes ser de outra forma e é isso que mereces e é assim que hás-de continuar".
A amorosa senhora não teve noção que, se a imaginaçãome tivesse batido para o lado errado, eu poderia ter-lhe sorrido e, a seguir, ir para casa para cortar os pulsos... Perdoem-me o exagero, mas espantei-me verdadeiramente com a constatação de que, mesmo nas palavras dos outros, é apenas a nossa consciência que ouvimos. Por isso, cuidemos dela com amor e dedicação, para que ela nos cante, em vez de nos condenar.
De um momento para o outro, quando e onde menos se espera, aparece quem nos virá fazer companhia.
ResponderEliminarSou o exemplo vivo dessa realidade.
Pedro, fico feliz por saber que tem uma história bonita! =)
EliminarUma reflexão muito bonita e intensa!
ResponderEliminarUm beijinho
Obrigada, Chic' Ana, por teres reflectido comigo! =)
EliminarB interpretamos a mesma frase de maneira diferente. A senhora era de idade, já viveu muito, deve achar que estando sozinha é a melhor maneira de viver, podes ler, meditar...Coisas que se estivesses com alguém não poderias fazer. Já pensaste que há por aí muita gente que não está só por medo? Medo do futuro, de enfrentarem a velhice sós, de precisarem de alguém e não terem ninguém que ajude, etc. Se ouvires o que diz o povo quando alguém de idade vive só vais chegar a essa conclusão. Só é livre quem vive só, não duvides disso. Momentos bons também há quando se está só e não tens que satisfazer ninguém, apenas a ti.
ResponderEliminarBeijinhos
Obrigada pelas palavras, Mary, como sempre! eu não tenho medo de estar só porque convivo muito bem com o meu espaço e os meus pensamentos... Fui só tanto tempo! ...sou-o novamente, com o que isso tem de bom. Mas nem por isso me esqueci do que era bom em não estar só e, é quando essas saudades vêm, que eu escrevo estas coisas... =)
EliminarAo desconhecido, a apreciação do que se vê é sempre muito vago e momentâneo, mesmo onde, a simpatia das palavra podem ter efeitos duplos. Ainda que a intenção seja boa, uma palavra mal escolhida pode ser um "inferno" emocional a quem é dirigida.
ResponderEliminarBjnhs
A quem o dizes, mz! Assei muitas vezes no inferno de dar sentidos tristes às palavras inocentes (ou talvez não) das outras pessoas. Mas é um hábito a mudar =)
EliminarE a uma mesma palavra podemos atribuir sentido diverso, dependendo do nosso estado interior.
ResponderEliminarSim , Luisa... o nosso estado interior molda tudo, como se de plasticina se tratasse...
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