...ou, como gostamos muito de mostrar como falamos bem inglês, Port Wine Day!
Ao contrário do que é meu hábito, hoje não vou fazer um post egocêntrico. Hoje, só hoje, abandonemos o meu Sistema Brisar (para quem aqui venha parar pela primeira vez, é o Sistema Planetário do qual Briseis é o centro), e vamos reflectir sobre este lodo vergonhoso que vem emporcalhar a história de uma das jóias nacionais.
A Região Demarcada do Douro, primeira região demarcada e regulamentada do mundo (se forem leigos no assunto, vão lá perguntar ao tio Google o que é que isto quer dizer), foi criada por um decreto do Ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, que ficaria para a História como Marquês de Pombal, assinado a 10 de Setembro de 1756. Exactamente. No ano a seguir ao Terramoto. Assim nunca mais se esquecem.
Logo por aqui, o dia deveria ser o Dia da Região Demarcada do Douro. Mas pronto, a demarcação foi para servir e defender a qualidade daqueles que viriam a ser mais tarde baptizados oficialmente de vinhos do Porto, por isso, podemos simplificar. Não quero ser picuinhas.
Em pleno final de semana celebratório, eis que a Região em festa recebe jornalistas, bloggers, gente gira dos mais variados países. Vêm para ser recebidos pelos donos de organismos e agências, quintas e operadores, directores e RPs, servidos com todas as cerimónias e regalias, fazer programas charmosos e exclusivos, e ter uma experiência que vão relatar lá nas suas revistas, blogues, livros, publicações, com palavreado finório a elogiar a generosidade da natureza, o labor do homem, a doçura do vinho e o dom de bem servir destas gentes.
Hipócritas. Se querem avaliar, venham sem se fazer anunciar. Paguem o bilhete de entrada. Misturem-se com os turistas ocasionais, ouçam o que os guias têm para oferecer. Às vezes são cassetes gravadas, mas há sítios com contadores de histórias maravilhosos. Serão servidos com menos pompa mas é isso que o turista que vem vai ter. Em vez disso, a região patrocina as viagens de um punhado de privilegiados que vão relatar experiências artificiais, para não dizer, enganosas.
Isto, no dia em que vi a notícia sobre algo que toda a gente desconfia que vai acontecendo, mas que não se menciona, porque se não se falar é como se não fosse verdade. Acerca da exploração dos trabalhadores nas empresas marítimo-turísticas. No rio, como em terra.
A notícia está aqui https://www.publico.pt/2017/09/08/local/noticia/denuncia-de-medo-e-escravatura-nos-barcos-do-douro-sai-a-rua-1784736