23/02/2014

"Memórias de Um Mestre Falsário", de Graham Joyce

Participei num passatempo do Facebook cujo prémio era este livro; vi-lhe a capa e li a sinopse que encantam pelo despretenciosismo e graça:

 
William Heaney é uma fraude. Ainda assim, uma fraude cheia de charme. Escritor de talento, prefere escrevinhar poesia para um amigo (que se torna famoso à conta disso). Produz também primeiras edições falsas de obras de Jane Austen para espoliar os tolos e ambiciosos coleccionadores de primeiras edições. Mas não é maldoso. O dinheiro vai direitinho para um lar de sem-abrigo, e os seus crimes na verdade não fazem mal a ninguém. Há razões para não ter chegado mais longe. Quando jovem fez algumas coisas de que se envergonha.

Ah, e vê demónios!

Esta é a sua história. A história de um homem que vive com remorsos, que bebe demais, que é refém do seu demónio e é capaz de ver os dos outros: figuras sombrias, indistintas, esperando, alcandoradas no ombro das pessoas. À espera de um erro, de um momento de fraqueza… Entretanto, William aguarda sem saber bem o que aguarda. Algo que o resgate dos sofrimentos do mundo? O amor? Mas até lá, toma-se mais um copo?...


Fiquei à espera de uma narrativa mirabolante, cheia de salas escuras a cheirar a químicos e fugas apressadas às autoridades, assim ao estilo de "Apanha-me se puderes"... Apesar de não estar nem próximo disso, o que encontrei não me deixou insatisfeita. O palco é a cidade de Londres e são dadas, quase sem notarmos, todas as coordenadas, ruas e bares duvidosos onde o nosso protagonista se desloca, tendo uma especial preferência por bares ou pubs obscuros onde algum escritor famoso costumasse destilar a sua inspiração. Pode-se fazer um roteiro desses locais. É um pormenor engraçado...
William Heaney é narrador e protagonista; charmoso, sem dúvida, com um humor e sarcasmo muito tipicamente masculinos. Gosto disto. Gosto de romances que gritam que foram escritos por homens; falta-lhes algo de pegajoso que as escritoras femininas costumam ter.
Conhecemos o seu círculo de amigos e conhecidos, personagens muito diferentes, muito bem caracterizadas, correspondentes cada um ao seu próprio tipo. E pela voz de William são contadas, mais ou menos em simultâneo, três histórias diferentes: a do seu presente de mestre falsário, que afinal não o é assim tanto. É mais como um Robin dos Bosques da actualidade. A da sua juventude sombria, na Universidade, de onde vem a sua familiaridade com os demónios (que mais não são do que os medos e os fantasmas de cada um), e ainda a história de Seamus, um veterano da guerra do Golfo que tem um impacto brutal na vida de William.
 
O livro devora-se e, lamento dizer, mas o final luminoso e optimista deixou-me tremendamente insatisfeita. Não é que eu goste que aconteçam desgraças às minha personagens, atenção. Mas a história que se constrói ao longo do livro é densa e esperava um final a condizer, em vez de um em que tudo se sana e fica leve e feliz... Só tenho pena deste pequeno pormenor... pequenino...

14/02/2014

"Acácia - Ventos do Norte", de David Anthony Durham


Ora porra...gostei mesmo. E digo "ora porra" porquê?
Porque esta saga, composta de 3 volumes, foi transformada pela editora portuguesa em 6 volumes, sendo que cada um dos originais, foi dividido em 2. Deste modo, a curiosidade pela capa e pela sinopse levou-me a ler o primeiro volume, na esperança de não gostar da fantochada de um mundo todo alternativo e coiso... mas afinal gostei. E agora cá estou eu à caça dos seguintes volumes... Quem me manda pôr-me a jeito??

Acácia é a ilha a partir da qual é governado todo o Mundo Conhecido. As suas várias nações vivem em paz há 22 gerações, governadas pela família Akaran. Mas uma disputa antiga, que enviou uma velha família nobre de Acácia para o exílio nas terras geladas do Norte, é reacesa quando o Rei é assassinado e os seus 4 filhos separados e escondidos em locais seguros.
A aparente paz de Acácia é mantida graças a um pacto feito pelo primeiro rei com um povo vizinho, comprometendo-se este último a fazer entrar drogas no reino, que mantêm o povo dócil e fácil de manipular, em troca de um tributo de crianças acacianas que lhes são entregues periodicamente, para serem usadas presumivelmente como escravas.
É contra este sistema que os rebeldes do Norte se insurgem e o leitor é confrontado com um dilema moral acerca de quem são os bons e os maus da fita.

A elaboração desse Mundo Conhecido, diferente de tudo o que existe no nosso mundo, das suas culturas, tradições, religião, língua, foi feita de forma fascinante. Senti-me realmente "absorvida" por algo de diferente, cheia de curiosidade e empatia pelas diversas personagens... e não sei quanto tempo irá durar a angústia da procura dos volumes seguintes... Espero que não dure muito!

Karma? ...és tu??

Odeio o dia dos namorados. Odiava-o antes de ter namorado. Odeio-o este ano da mesma forma... tanto que não tinha nada mais combinado com o respectivo além de um jantar de pizza e ver um filme com uma mantinha no colo...

...e eis que o rapaz, que já ontem se queixava de mal-estar, me acorda hoje tão doente que se calhar nem o vou ver, para não me pegar os vírus... Ora porra.

Sr. Karma, já percebi.

11/02/2014

Esquizofrenias

Dentro de mim há mundos. Há muitas mulheres: a dócil, a passiva, a fria, a orgulhosa, a solitária, a carente, a ácida, a amante... Há homens também. Há dias de um pragmatismo e inocência quase masculinos. E há bestas: há feras enraivecidas e irracionais.
Dentro de mim há lugar para todos eles. Às vezes cedem o lugar dominante uns aos outros de forma pacífica; são as variações de humor que vêm com os dias e as variações do próprio estado do tempo. Outras vezes, infelizmente, confrontam-se em debates brutais para apurar qual se irá impor.  E aí eu ouço vozes na minha cabeça, sinto impulsos ora destrutivos, ora pacíficos, alternando-se de minuto a minuto. São dias de exaustão emocional, em que me sinto cansada e frágil.
Não os sei explicar a quem me questiona acerca da estranheza do meu humor. Não os sei explicar sequer a mim própria.
Quando penso neste fenómeno, dou por mim a desejar com todo o coração que a Briseis dócil, serena, "masculina" se imponha mais frequentemente.
Pode-se dizer, acho, que tenho em mim uma versão um pouco mais elaborada e insana do Dr. Jekyll e Mr. Hyde.
Será maravilhoso se conseguir alternar entre as minhas várias naturezas tirando partido do melhor de cada uma delas em cada situação. E será catastrófico se, em vez de as domar a elas, me domarem elas a mim, numa espiral de descontrolo imprevisível e fatigante.

06/02/2014

Para não me esquecer

O Amor não e um teste. Não é uma prova que presto ou ele me presta todos os dias.
A minha ansiedade desvairada e ridícula faz-me, às vezes, quando ando em "modo esfregão", pensar que não estou "apta" ou "capaz" de ser quem ele conhece e quem ele espera encontrar em mim. Este é o meu terror, para com ele, para com todo a gente, para com o mundo. Algo em mim se desliga do exterior e sinto-me desajustada e estranha e ameaçada. Ele também me assusta quando estou assim. Porque ele é o meu Amor. Se há alguém no mundo para quem eu quero estar sempre bem e dar sempre e só o melhor de mim, é ele. Logo, a minha responsabilidade e o peso que sinto para estar bem com ele é incalculável.
Mas o Amor não é um teste. O Amor não requer o melhor de nós todos os dias. O Amor é precisamente a antítese disso: é o compromisso trocado entre duas pessoas de que vão compreender-se e apoiar-se e esperar-se todos os dias, cada dia. Sem pressão, sem pressa. Adaptando-nos um ao outro como a roupa se adapta ao estado do tempo.
O Amor é a manta que sabemos que está à nossa espera quando regressarmos a casa. É a palavra apaziguadora e reconfortante que nos compreende sem necessitar de entender racionalmente as nossas razões.
O Amor é uma declaração feita todos os dias; uma declaração de que nos gostamos, nos queremos e de que nos sentimos a falta na ausência. O Amor é algo bom. E é uma arma que tenho agora para combater a minha ansiedade e os meus medos. Não devo ter medo do meu Amor.
É insano colocar sequer essa hipótese.

05/02/2014

"O Leitor", de Bernhard Schlink


Já vi o filme há bastante tempo, e desde essa altura me ficou uma curiosidade por ler o livro.
Talvez tenha escolhido um tempo um bocadinho infeliz, pouco depois de terminar a leitura de "Ele está de volta", que relata um hipotético regresso de Hitler e a retoma dos seus planos para dominar o mundo, e na semana em que se celebrou o Dia Internacional de Recordação das Vítimas do Holocausto, a 27 de Janeiro...
"O Leitor" é um livro que se sente. No período do pós-guerra, uma geração jovem vê-se a braços com o dilema de perdoar, ignorar ou condenar abertamente os crimes levados a cabo, activa ou passivamente, pelos seus pais.  Michael é um jovem invulgar, que conhece uma mulher invulgar em circunstâncias invulgares também. Começam uma relação que se pauta por encontros regulares em que ele a visita em casa, lê para ela páginas e páginas de livros e, depois, fazem amor... Este romance quase idílico tem um fim repentino, quando ela, Hanna, desaparece sem uma palavra. Anos mais tarde, enquanto frequenta o curso de advocacia, Michael volta a vê-la, numa sala de tribunal, sendo acusada, com um grupo de mulheres, de crimes contra os judeus nos velhos campos de concentração.
O livro é uma reflexão profunda do significado dos sentimentos e das emoções, do peso do nosso passado e da nossa capacidade de ocultar um segredo a todo o custo. É uma história de redenção e rancor e perdão. Um livro onde, me pareceu, a palavra mais repetida é "embotado". Parece uma contradição, um livro onde o narrador, o próprio Michael, afirma tantas vezes ter os sentimentos ou o pensamento embotado e que, no entanto, reflecte tão profundamente sobre os temas apresentados.
É pequeno. Lê-se bem. Leiam.

03/02/2014

Michael Bublé na Meo Arena


Oh, senhores... que classe, que graça, que charme, que voz...! Que espectáculo!
Um artista que chamou "crazy bitch" a uma fã que veio de Espanha para o ver, e que beijou o palco no final do concerto... Foi único. O melhor presente de aniversário de sempre! sim...estive desde meados de Dezembro em pulgas para isto! =)

Fantando-me as palavras, achei este texto maravilhoso porque me fez reviver alguns momentos: http://myway.pt.msn.com/noticia/michael_buble_em_lisboa_senhor_amor_19129.aspx