31/07/2010

Tive um sonho

Há duas noites sonhei que a minha mãe estava morta. Não digo "sonhei que morria" porque não me apercebi do quando nem como ou porquê. Só sei que estava na minha vida e a voz de alguém disse "a tua mãe está morta". E pronto. Eu não ia vê-la mais.
Quando, esporadicamente, sonho que alguém me morre, acordo lavada em lágrimas e passo o resto do dia a pensar nisso. Esta vez não foi excepção mas, ao pensar no assunto, apercebi-me que eu não chorava por sentir a falta dela ou por saber que não ia voltar a vê-la. A coisa que não me saía da cabeça era que ela tinha morrido assim, de repente, tão jovem, e sem levar nada da vida. A minha mãe, que sempre se sacrificou tanto, que sempre trabalhou, que teve um mau marido, que teve depressão, que viveu anos reduzida a um frangalho, fraco e aterrorizado sem no entanto poder em momento nenhum baixar os braços e descansar, que me viu a mim definhar todos os dias pelo mesmo motivo, culpando-se por não pôr um ponto final na situação... A minha mãe que foi jovem e bonita e queria ser costureira e que na vida pouco realizou que fosse totalmente seu desejo e de forma totalmente egoísta, para si, para o seu bem, para sua alegria.
Tenho saudades da minha mãe.

30/07/2010

Vou hibernar só até isto passar...

Há dias em que conseguimos levar a nossa vida com ligeireza e graça... Em que nos sentimos bem e capazes e bonitos e os sorrisos são fáceis. Porque sim. Porque não?!
E há outros dias em que certas atitudes, mentalidades, palavras e reacções dos que nos rodeiam nos cortam as asas, nos fazem sentir medo de aparecer, de falar, de dizer mais do que devemos, de não fazer aquilo que "suas excelências" acham que deve ser feito. Há pessoas incapazes de aceitar, de tolerar, de compreender. Pessoas que levam tudo a peito e a mal, e um "olha, desculpa lá, prejudiquei-te mas tive que fazer isto assim" é uma ofensa mortal, premeditada e humilhante. Há pessoas que até aparentam boa índole mas que a vão deixando esmorecer ante os ataques gratuitos e impossíveis de responder à altura; tornam-se desconfiados e intolerantes e, à força de mostrar que abriram os olhos e não vão mais ser pisados, revoltam-se contra todas as ninharias, porque é por aí que o domínio maior começa...
Isto é um estupor de um ciclo vicioso onde não existe uma "terra de ninguém" onde se possam abrigar pessoas como eu. Eu gostava de resolver as coisas de outra maneira. Gostava que todos fossem frontais. Que não houvesse teorias da conspiração, alcoviteiras nem bufos nem vítimas nem carrascos.
Estou no ponto em que vejo alguém aproximar-se e no lugar das mãos vejo presas afiadas; os dentes, em vez de sorrirem, arreganham-se com ferocidade; a cabeça é um lugar obscuro onde as rodas dentadas da engrenagem rangem dolorosamente, congeminando mais uma traição, mais uma afronta, mais um cinismo.
Tenho medo desta gente. O território está todo marcado; há milhentos limites invisíveis que os mais incautos atravessam sem desconfiar no que se estão a meter. Ouço uma conversa agora e no momento seguinte vou perceber que o que foi dito tinha imensas ramificações discretas e venenosas, que se multiplicam que nem ervas daninhas.
Puta que pariu, que isto parece uma porra de uma máfia.
Deixámos de caber todos no mesmo sítio. O ar que o outro respira parece estar a ser roubado do espaço que me cabia a mim... Que esupor de cadeia alimentar. Raios partam isto tudo!

26/07/2010

Apetecia-me mesmo.... #6

...ter mais dias como o de hoje. Não fiz questão de ficar em casa. Não fiz questão de limpar tudo... Não me enfureci com o calor. Não me lamentei pelo cansaço. Diverti-me e soube infinitamente bem... a conversa, o ginásio, a piscina, o descanso agora...
Satisfeitaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.............

22/07/2010

Carpe Diem...

...é muito mais fácil de praticar do que pensamos...Não é preciso grandes gestos ou rebeldias... Basta fazer o trabalho bem feito, ir para o ginásio com vontade de "suar a camisola" e suá-la mesmo... Sair do ginásio e, precisamente quando estamos a aproximar-nos de casa, começar a dar uma daquelas músicas que já não ouvimos há algum tempo e que, combinada com o céu cor-de-rosa do lusco fusco, torna o fim da tarde celestial... Vai daí, eu contorno a rotunda e vou dar uma voltinha pela marginal, para apreciar o momento...
É destas pequenas coisas, meus amigos... É destas pequenas coisas que são feitos aqueles momentos que ficam para a posterioridade...

18/07/2010

"Aquarela", de Toquinho

Se, por acaso, eu não tivesse estado com a colega brasileira naquele dia, naquele local, a falar daquilo, não teria ficado a conhecer esta música... E queria ser criança para poder cantá-la plenamente.

podem ver o vídeo AQUI

"Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu
Vai voando, contornando a imensa curva Norte-Sul
Vou com ela, viajando
Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela, branco, navegando
É tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo, sereno, lindo
E, se a gente quiser, ele vai pousar

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega num muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida e depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela de uma aquarela
Que um dia enfim descolorirá

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo (que descolorirá)
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo (que descolorirá)
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo(que descolorirá)"

14/07/2010

Imaginemos...

...que Deus é o administrador de uma empresa (o Mundo, entenda-se...).
A conjuntura da crise afecta todo o planeta e, como tal, o divino administrador vê o seu caso muito mal parado (estou a pensar em tsunamis e aquecimento global e assassínios de baleias). Acontece que, além dos problemas de crise geral, o desempenho (ia escrever performance, mas o Português acima de tudo!) dos "trabalhadores da seara do Senhor" também não está muitas vezes no seu melhor... Vai daí, o Senhor precisa fazer uns ajustes... É necessário cortar nos recursos que se oferecem aos homens... porque quantos mais houver, mais se estragam e mais se agrava a situação da Organização... Cortando nestes elementos, torna-se indispensável "cortar" também nos recursos humanos, que consomem excessivamente os outros recursos todos.
E aqui a porca torce o rabo.

Quem é dispensável? Pensará Deus: "ora... este senhor já anda cá há mais tempo. Quer-me parecer que já deu o que tinha a dar. É necessário dar oportunidade aos novos... Por outro lado, estes mais jovens ainda não têm grande experiência e o seu vínculo é menos significativo. É mais fácil desfazer-me deles... Tenho carpinteiros e pedreiros que não posso dispensar porque a sua arte é útil. Mas também não posso cortar nos médicos e cientistas. É sempre necessário polícia e bombeiros para manter a ordem. Mas os professores são o passaporte para o futuro. Este diz que trabalha mais do que os outros dois juntos, que fazem pouco mas bem. Aquele ali, não sei porquê, mas gosto dele e não posso dispensá-lo porque sentiria que o mundo não estaria completo. Aqueloutro nem sei muito bem o que anda cá a fazer, mas os colegas apreciam-no e respeitam-no e haverá um motim se o mandar embora. Tenho uma série de limpadores de ruas de quem ninguém sentiria a falta, mas cheira-me que seria o caos se eles desaparecessem de um momento pra o outro..."


Resumindo, é uma embrulhada dos diabos. A quem cabe medir o valor das pessoas? Quem é que tem a capacidade de decidir com justiça os "pesos pesados" dos "pesos mortos"? Dá-me dores de cabeça pensar nisto...

12/07/2010

Há algum nome para isto?

Tenho neste preciso momento dentro de mim um sentimento tão feio...!

Nas últimas noites eu tenho saído. Arranjo-me e tento estar bem com os que me rodeiam. Não são os meus amigos de longa data, já que esses desertaram... São pessoas que conheço tão pouco mas com quem rio e com quem consigo manter uma conversa ligeira e saudável. Não exigem nada de mim. Nada tenho a exigir deles. Estamos juntos porque disfrutamos a companhia uns dos outros. E isso é, afinal, uma boa base para chamar alguém de amigo. E passei algumas vezes pelo meu "outro amigo", o das obtusidades... E soube que estou melhor. Estou mais desperta. Não me preocupo tanto. Não ligo tanto a ninharias. Porque o meu mundo era reduzido e os meus amigos governavam-no despoticamente. Agora eu sou livre. Cresci. E sei que isto soa tudo muito mal e individualista e tudo... Mas eu sei que está a ser positivo para mim porque eu era o extremo oposto.

E agora, do nada, ele manda-me mensagem a perguntar se não acho que já deveríamos ter falado; dando-me oportunidade para pedir desculpa... E eu comecei a sentir algo feio... Algo do tipo "antes era eu naquele papel. O elo dependente e pequeno; que não suportava a ideia de haver alguém zangado comigo; que fazia tudo por tudo para tentar resolver as coisas a bem, por falar sobre os temas "fracturantes" e promover a compreensão. Antes era eu; hoje é ele. Hoje sou eu a grande; a independente; a que tem a certeza dos passos que dá. Podem não ser os certos, mas são os mais acertados para mim."

É feio, eu sei... Mas sabe tão beeeeeeeeem...

E o melhor, melhor, é que não pedi desculpa. Falei. Ele falou. E já não está zangado. Porque percebeu que, independentemente da opinião dele, eu iria manter-me fiel à minha.
Que nome se dá a isto tudo??!

09/07/2010

Sexta à noite...

...e eu sabia que estava difícil para sair... Porque umas pessoas não estão, outras não podem, outras têm um programinha com os respectivos, e outras não sei porque não tenho que saber a vida de toda a gente.
Se eu já fosse a pessoa que quero ser quando for grande, saía assim mesmo, abancava num sítio qualquer e não haveria de tardar muito até aparecer alguém conhecido. Mas ainda não cheguei lá...
Fui-me ficando por casa; jantei, tomei um bom banho, um bocadinho de TV, um bocado de PC... E já passa das 11h e eu cá continuo porque não recebi nenhum convite e os meus não foram (ainda) aceites.
Ao início da noite pensei, assustada, que talvez não fosse sair hoje. E sou tão nova e estou sozinha... Mas agora o serão já vai a meio e eu estou bem, porque me mantive ocupada comigo, confortável, na minha casinha... E estou bem disposta, apesar de tudo.
Ainda não tirei as lentes porque há sempre a possibilidade de aparecer um convite... Mas mesmo que não apareça, é na boa... A sério. Mesmo.

...Além disso, hoje pus um vestido e disseram-me que estava bonita...

07/07/2010

Acerca do egoísmo...

Pareço egoísta àqueles que, por um egoísmo absorvente, exigem a dedicação dos outros como um tributo, em "O Eu Profundo" de Fernando Pessoa;

O egotista é um sujeito com mau gosto, mais interessado em si próprio do que em mim, em "Dicionário do Diabo" de Ambrose Bierce;

Qualquer homem que vos censura por só falardes de vós apenas o faz porque nem sempre lhe dais tempo para que ele fale de si, de Claude Crébillon Fils
Ando numa de citar as palavras alheias... Sempre gostei muito de ouvir e discutir os pensamentos e opiniões dos outros. Maravilha-me ver como cada cabeça interpreta de forma tão distinta e independente factos que, à partida, parecem tão óbvios.
A lógica é inteligente mas castradora porque não permite devaneios; é uma sequência, uma cadeia. Mas o pensamento e o juízo humano são completamente livres e delicia-me estudá-los e entendê-los. Gosto de saber a opinião dos outros acerca de tudo; se há uma novidade no trabalho ou no meu grupo de amigos pergunto a toda a gente o que acha do acontecimento, mesmo que saiba que vai haver opiniões discordantes; se leio uma notícia num jornal on-line vou imediatamente ler os comentários que suscitou... Quero ouvir os argumentos e entender os pontos de vista. Uma vez disseram-me que, por ser assim, estava a dar um sinal de que não tinha opiniões próprias. Não me caiu bem porque não foi uma simples observação; foi uma bomba atirada para me atingir. Porque para mim está sempre tudo bem, compreendo sempre tudo, nunca estou contra nada...
Mas isso é bom. Eu tenho a capacidade de perceber os pontos de vista dos outros, de me colocar na sua pele... E não partir simplesmente do princípio de que a minha opinião é a mais acertada ou que sou dona de toda a verdade dos factos.
Até porque egoísmo não é viver à nossa maneira, mas desejar que os outros vivam como nós queremos. (Oscar Wilde)

04/07/2010

Sinto-me....

hum.... sabem quando nos sentimos em baixo? Sem forças, sem ânimo e sem vontade? Quando tudo o que se pode esperar é que a situação piore? E tudo parece assustador, avassalador, castrador, e outros "-dores"? Quando só apetece ficarmos invisíveis e desligar o telemóvel e não ver a televisão e não ouvir o barulho do vizinho, porque tudo o que vem do exterior é agressivo? E sentirmos a culpa ou o remorso ou a consciência ou lá o que é corroer-nos e termos o impulso de correr atrás e implorar que nos aceitem, que nos desculpem, que nos entendam...?
Sabem...?
Pois o que eu sinto hoje não tem nada a ver!!!

02/07/2010

Calor vs. Frio

O calor tem estado que não se aguenta. É sair à rua e apanhar com aquele bafo infernal como uma estalada na cara. A roupa pica, o corpo todo transpira, os pés queimam porque o calor que põe o chão em brasa atravessa facilmente o calçado fino, o cabelo fica seco, os movimentos pesados e a simples necessidade de ir à rua torna-se uma dolorosa incursão. Chego a casa quase a entrar em combustão e vou beber um copo de leite fresco com tanta sofregidão que até me cai mal... Não suporto estes dias. Gosto de sol e da chuva. Gosto do frio. Do calor não.
E ontem à noite saí, pus um top leve; e para minha surpresa, quando cheguei à rua não havia vestígios de calor. O ar estava ameno e havia um vento frio quase constante. Mas eu não fui buscar o casaco... Foi como se o calor que acumulei nestas últimas semanas estivesse finalmente a ser arrefecido e soube tão bem...! Gostei da noite por causa disso. E gosto de ser capaz de ficar feliz com estes pequenos nadas.