31/01/2013

"A Visita do Brutamontes", de Jennifer Egan


Este livro é uma sátira, é cómico, mas é trágico, é poético e chega até a ser uma apresentação em power points... Não é um livro fácil. Começamos por conhecer a Sasha (jovem e bela mulher em Nova York, cleptomaníaca, mas anda em terapia), que é empregada de Bennie (um ex-director de uma empresa discográfica, na decadência da meia idade, que toma o café com flocos de ouro que lhe custam uma fortuna porque ouviu dizerque melhora a potência sexual)... depois disto, vem uma história da infância de Bennie e os seus amigos, Rhea, Jocelyn, Scotty e Alice; depois um capítulo dedicado a Lou, um homem mais velho que foi a modos que amante de Jocelyn... e por aí fora. Vamos conhecendo intimamente e sem uma grande organização cronológica uma série de personagens cuja ligação é, às vezes, pouco evidente.
Nesse aspecto, é intensivo. Não é uma sátira tradicional, daquelas que se lê descontraidamente. Mistura a ironia com seriedade grave.
O final faz o encaixe de todas estas peças... aprendemos que o Brutamontes de que nos fala o título não é mais do que o Tempo. Esse tirano insaciável ao qual ninguém foge. A todos persegue e a todos apanha e fustiga e destrói. E seja qual for a nossa origem e o nosso percurso, todos daremos um dia pela passagem dele, como que uma vertigem, uma sensação de movimento, e nos abismaremos na comparação com o que éramos.
É um livro "pesado"... mas inovador, sem dúvida!... mais um da vasta biblioteca do Duarte...

30/01/2013

Alguém sabe interpretar sonhos?

Esta noite sonhei que o pai voltava. O meu pai. O que já não vejo há coisa de 6 anos... Não sei como ou porquê. Mas estava cá em casa. E a casa era outra vez pequena demais para fugir... Ele voltava com os olhos raiados de vermelho, o cheiro a destilaria, a agressividade e o ranger de dentes.
Mas, ao primeiro sinal disso, em vez de fugir e esconder, como era hábito, eu pulei e empurrei-o até à porta e gritei-lhe impropérios de esconjuro...
Acordei satisfeita... ainda que um bocadinho abalada. Mas, sobretudo, satisfeita. Porque o meu Eu-Em-Sonhos deixou de ser passivo. E isso leva-me a pensar que o meu Eu-Real é isso e ainda mais.

28/01/2013

Hoje pensei...

À força de imitar os meus ídolos e falhar, criei o meu próprio estilo...

26/01/2013

Para mim


                    
(Imagem retirada de http://filmgrab.wordpress.com/movies-a-z/, do filme Pulp Fiction)

O Sol hoje decidiu brilhar para mim. Toda a gente o desfruta mas eu tenho a certeza que é para mim. Mesmo sendo um Sábado em que tenho de trabalhar, não podendo, por isso, ir gozá-lo. Mas eu sei que é para mim. É uma forma de promessa e de desafio. E eu olho-o e deixo-o cegar-me, em sinal de aceitação.
Vou fazer algo diferente... se não for hoje, amanhã...
E as pedras da rua brilham com os restos da chuva que ficaram de ontem, e esse brilho é para mim. Para me encandear, porque sabem que gosto.
E o ar frio movimenta-se na minha direcção, porque sabe que o seu abraço gelado não me incomoda. "Vento é o ar em movimento", sei isto desde a Primária...
E a comida cheirosa que espera por mim em casa, é para mim. Assim o meu apetite flutuante o permita.
E o que o resto do dia trará, eu ainda não sei. Mas vou aceitá-lo bem. Porque é para mim.

24/01/2013

"A Bicicleta que Tinha Bigodes", de Ondjaki


Este livrinho pequinino, de título estranho e capa insuspeita, emprestado pela minha Adorable One, deu-me umas poucas horas de genuíno prazer de leitura... Havia um sorriso a bailar-me nos lábios quase sempre e isso, mais do que qualquer palavra, resume o efeito profundo a apaziguador desta leitura.
Fez lembrar um bocadinho a história d'O Principezinho, pelo tom aparentemente juvenil que esconde verdades universais, aponta dedos e faz bem à alma.
Esta é a história de um menino Angolano que quer escrever uma estória para participar num concurso da Rádio Nacional e ganhar o cobiçado prémio: uma bicicleta com as cores da bandeira angolana.
Nos poucos dias que dura a sua busca por uma ideia que sirva de base para a sua estória, conhecemos  a sua rotina, os seus pensamentos claros e inocentes, os seus amigos e familiares muito pouco convencionais.
O tom é fluído e musical, como só o português de África ou do Brasil sabe ser... Em suma, para pensar um bocadinho, ou simplesmente para descansar a mente no embalo daquelas palavras encantadoras, vale muito a pena dedicar um migalhinho do nosso dia a esta leitura!

23/01/2013

Se eu fosse uma fadinha...

...entrava em pontas de pés... sem fazer ruído, para não alterar o teu mundo. E procuraria a tua presença, como se conhecesse o caminho, como se fizesse um jogo... e quando te visse, estacaria. E ficaria um momento, ou dois ou três, a saborear o teu ser. Esperaria que não desses por mim, ainda não, e admiraria a forma como a luz reage a ti, e como tu te movimentas nela. Onde foste buscar toda essa graça??
E finalmente, aproximar-me-ia. Não te assustes, não te exaltes, sou só eu! Sei que reconheces a minha brisa porque o teu sorriso grita o meu nome. Então, sem ser gulosa, depositaria um beijinho em ti, que mais não seria que um sopro cálido e retirar-me-ia, para o meu ninho de luzes estrelares e cheiros quentes, a pensar que a graça das coisas está em tê-las para nós sem nunca as subtrairmos aos outros.
 
 

22/01/2013

"Salva-me", de Guillaume Musso


Após a leitura de "E Depois...", atirei-me avidamente a este...
Estou ligeiramente desiludida, porque as minhas expectativas começaram por estar nos píncaros.
O grande erro, creio, foi ler os dois assim seguidos. Estes livros têm uma profundidade muito serena e apaziguadora, apesar das questões perturbantes que são colocadas. No primeiro, sem estar à espera, fui "puxada" desta vida quotidiana para um mundo onde respirei mais devagar e me encantei com as personagens. Sem sair desse encantamento, comecei logo com este livro, portanto perdi a oportunidade de sentir novamente aquela fuga para algo alternativo...
Este livro, escrito um ano depois de "E Depois...", desenvolve-se na mesma linha de vidas mais ou menos rotineiras levadas por personagens encantadoras, e que são abaladas por um acontecimento ou revelação que os confronta com a possibilidade da perda ou da morte...
A sinopse reza assim:
 
Uma história encantadora repleta de fantasia, suspense e amor.
O insólito encontro entre Juliette e Sam é explosivo e mágico. Mas o apaixonado fim-de-semana que vivem juntos é maculado pela mentira. Sam, viúvo, diz ser casado; Juliette, empregada num café, diz ser advogada.
Juliette tem de regressar a Paris e Sam acompanha-a ao aeroporto. É o instante decisivo em que o destino de ambos pode mudar, mas nem um nem outro ousa pronunciar as palavras necessárias.
Meia hora mais tarde, chega a notícia: o avião de Juliette explodiu
em pleno voo. Sam é agora um homem desesperado. Está longe de imaginar que a história deles não acaba aqui...
 
Por oposição à anterior, esta história é mais elaborada, mais complexa... Caindo um pouco, na minha reles opinião, na vulgaridade das histórias de gente normal que vira super-herói e anda envolvida em perseguições e pancadaria e tiroteios sem se dar bem conta do como ou porquê... Isso, a meu ver, tira um bocado a beleza que residia na simplicidade da primeira história que li deste autor...
Por comparação, acho que perde. Mas não deixa de ser um belíssimo livro!

19/01/2013

Imortais



A Imortalidade é uma ilusão, quase sempre. Uns poucos eleitos foram bafejados por ela mas a ignorância que grassa na nossa sociedade de culturas-gerais que sabem um pouco de tudo sem saberem nada de coisa nenhuma, até a esses ameaça.
Mas ele insiste que não é assim. Que basta partilhar uma música para que fiquemos imortalizados na memória um do outro. Uma música, é quanto basta... quanto mais tudo aquilo que já partilhámos...!
Não tenho ilusões a esse respeito. E comove-me tanto perceber que, embora escaldado, ele continua a mantê-las...
Será o meu pessimismo crónico, a minha mesquinhez embutida que me fazem ver as coisas desta forma? Uma forma efémera, frágil como vidros. Hoje somos tudo e todos os dias o meu primeiro pensamento vai para si... Mas, amanhã, a vida acontece, um azar acontece, a verdade acontece, e seremos repelidos um pelo outro à mesma velocidade com que fomos atraídos, mas em vez da inocência que nos trouxe, agora é algo corrosivo que nos leva...
E eu leio os seus livros, e ele ouve as minhas músicas, e eu acarinho o que é seu, e ele aceita e ri do que vai de mim, e eu vejo-me rodeada daquilo que é dele... Mas vejo sombras em tudo. Sombras que dizem "aproveita enquanto tens"... ao passo que ele anda encandeado por luzes que parecem gritar-lhe "constrói, porque será eterno".
Qual de nós andará mais equivocado?

16/01/2013

"E Depois...", de Guillaume Musso

                                               

No final, quando o Duarte me perguntou o que tinha achado, resumi o livro da seguinte forma:
se não deixasse esta sensação de insatisfação, não seria grande livro. Seria apenas um livro bom de ler...
 
O livro aborda de uma forma muito límpida e simples o tema da morte, das "máscaras" que lhe damos, da forma compulsiva como a escondemos do nosso dia-a-dia.
Temos uma personagem principal verdadeiramente cativante, Nathan. Aos 8 anos tem uma experiência de quase-morte, ao tentar salvar a sua melhor amiga, e futura mulher, de morrer afogada num lago gelado. Agora, adulto, advogado bem sucedido, separado da mulher, a vida que conhece tem uma estranha reviravolta quando Nathan é confrontado com a proximidade e omnipresença da morte, a razão pela qual sobreviveu na infância e o seu papel (e através dele, de todos nós) neste mundo.
 
Não há suspense ou grandes mistérios, é na simplicidade que reside a obsessão por este livro. Como se, aquele estranho efeito de valorizar as pequenas coisas como sentir o sol na pele ou cheirar café, quando se sabe que se vai morrer, nos fizesse também valorizar a subtileza doce e adorável deste livro. E fica aquela sensação de que há muito para "marinar", muito sumo para espremer... mas o final é bom o suficiente para dar um desfecho sem responser a todas as perguntas. Como se nos mostrasse a porta, mas nos deixasse sozinhos para passarmos por ela e procurarmos por nós as repsostas.
Gostei... gostei muito!
...e acho que vou ler outro deste autor... =)

11/01/2013

"Rendida", de Sylvia Day



Bem... o livro veio-me parar às mãos trazido pelo Duarte. A ideia dele era eu, que sempre confessei não achar grande interesse na história de "As Cinquenta Sombras de Grey", ler este livro que se diz ser "mais" tudo (ousado, intenso, blá blá) do que aquele, para lhe dar o meu parecer e ele decidir se o iria ler... Sim, é verdade. Agora sou consultora literária... (barrigada de riso)
E, assim, li.
E, apesar de ser uma trilogia e de o primeiro livro não ter um "fim" ou conclusão, apenas acabam as páginas num ponto absolutamente banal da história, eu não tenho a mínima vontade de continuar a ler.
Histórias deste género, que roçam o limiar do pindérico deslavado, alternando com páginas e páginas de exaustivas e despudoradas descrições eróticas, não me desafiam ou dão pica...
É "demasiado". Demasiado superficial, demasiado vistoso e espampanante, demasiado fútil, demasiado visual e sensorial e demasiado tudo...
Definitivamente, embora estejamos numa moda frenética de romances atrevidos de fazer arder as orelhas, a minha onda não passa muito por estas fantasias baratuchas...
 
A história centra-se nas personagens de Eva e Gideon, cada um lindo e maravilhoso, bem sucedido e abastado, mas com feridas emocionais profundas e um passado um bocado obscuro. Quando se conhecem, há descargas eléctricas, os céus escurecem e o chão treme e a única coisa que pensam fazer a partir desse momento é, e cito, "fornicar como coelhos". E é isto.

10/01/2013

Às vezes...

...Às vezes eu pico. Eu doo.
Às vezes eu rosno e a seguir rio. Mas, às vezes, se não levam o meu rosnar a sério, eu mordo e arranho e rujo.
 
Não quero magoar. Não quero ferir. Eu aviso. Eu grito a minha imprevisibilidade e a minha exigência agressiva por espaço e controlo. Mas, às vezes, pensam que o faço por graça. Ou por desafio.
Não é uma coisa nem outra.
 
Hoje dei uma ferroada no meu amigo. Ele acusou o golpe. Eu senti-me miserável. Mas eu não vou pedir desculpa ou recuar. Que legitimidade tenho para o fazer se sei que, se me vir de novo na mesma situação, vou repetir o ataque?
 
Então, pico e afasto-me. E peço por tudo que a prudência o aconselhe a manter-se no mesmo sítio.
 

08/01/2013

Tão simples quanto isto:

Deixa que gostem de ti.
Deixa que a tua vontade de demonstrar que gostas dos outros dite as tuas acções.
E, assim, tudo vai ficar bem.
 

07/01/2013

"Os Miseráveis"

É esmagador.
Á primeira cena é absolutamente arrepiante, fez-me ficar colada à cadeira e deu-me uma sensação de aperto no peito que se manteve durante todo o filme.
Quem já é fã do Hugh Jackman vai ficar absolutamente maravilhado, porque a sua interpretação de Jean Valjean é de comover as pedras.
O Russel Crowe aparece com o seu porte muito "gladiador", dando vida a um oficial cego pela chamada justiça.
A Anne Hathaway está sublime... possessa!
E depois há o meu adorado Eddie Redmayne...
As cenas são poderosíssimas e as músicas, grandiosas!
Fui ver naquela... tanto se me fazia. Vim maravilhada!

04/01/2013

O que não sabes sobre mim...

...o que pensas que sabes?
Não sabes da minha pantomima. Do papel que represento, incontrolavelmente, instintivamente. Não sabes que a dada altura os olhos me começam a pesar, as palavras secam e os músculos da cara deixam de responder. Acaba-se-me a deixa e fico atordoada porque não sei improvisar. Então sacudo-te. Tomo-te em doses pequenas, bem medidas. Para meu benefício, mas também para o teu.
Não sabes dos meus dons divinatórios. Agoirentos, sempre.
Nem imaginas o quanto me arrepia e desconcerta a tua mania de seres imprevisível. Pensas que me ajudas confessando-me os teus devaneios antes de os concretizares, para eu me habituar, para ter uma reacção antes e serenar, depois. Mas a confissão da tua insana intenção apanha-me desprevenida e desconcerta-me na mesma...
Não sabes os meus rituais. As minhas manias. E olha que são intoleráveis. Dizes que lhes achas graça, como toda a gente acha graça às primeiras vezes que o cachorrinho arranha os móveis. Daqui a nada vão começar a castigá-lo se continuar a fazê-lo. Pô-lo fora se mesmo assim não se corrigir.
Não sabes que quando eu digo dos meus desequilíbrios falo a sério. Nem entendes que quando falo da minha solidão, o faço com amor a ela.
Por fim, muito provavelmente, também não sabes que digo isto, não para preencher o vazio do que desconheces de mim. É para poderes imaginar até onde vai a tua ignorância.
 

03/01/2013

"A Regra de Quatro", de Ian Caldwell e Dustin Thomason

O livro foi presente de aniversário da minha Adorable One... e adorei o pormenor de ser em segunda mão! Os livros estão vivos, respiram... e um livro numa estante poeirenta é um livro moribundo, solitário de dar dó!
É por isso, e não só pela questão do preço, que compro muitos em segunda mão e gosto tanto de os emprestar... Cada pessoa que lê um dos meus livros, está a enriquecê-lo.
 
Enfim, acerca do dito...
Já tinha olhado para ele algumas vezes... O título é chamativo e a sinopse apela à curiosidade.
Agora que o li posso dizer que é um óptimo passatempo. Entretem. A história de um grupo de quatro amigos, finalistas em Princeton e da forma como um misterioso livro escrito em finais do sec.XV, o Hypnerotomachia Poliphili, afecta as suas vidas, umas vezes numa busca desenfreada por respostas, outras vezes recalcando a obsessão, que parece persegui-los.
Este interesse muito particular num livro tão estranho e antigo surge descrito em cenas que intercalam com descrições da vida diária dos estudantes na famosa Universidade. Este pequeno pormenor facilita bastante o processo de nos familiarizarmos e aceitarmos este interesse invulgar pela investigação levada a cabo pelos protagonistas...
Na parte do entretenimento, o livro é notável.
Atrevo-me só a apontar uma certa incapacidade dos narradores (ou talvez do tradutor) de se explicar claramente no que respeita a certos pormenores da narrativa. Por exemplo, por várias vezes, pensei estar a ler a narração de um episódio "actual", e só depois fica claro que essa narração respeita a um tempo passado em relação à ação principal que se está a desenrolar... Da mesma forma, os enigmas que dificultam a total compreensão dos mistérios do Hypnerotomachia são desvendados sem que o leitor consiga perceber qual a sequência lógica de pensamento que levou à descoberta... A meu ver, isto tira um bocadinho o brilho a uma história que tem, não há dúvidas, tudo para ser uma grande história. Apenas transparece demasiado a juventude dos dois autores.