31/05/2011

"Livro", de José Luís Peixoto



Foi a primeira vez que li José Luís Peixoto... e que bela figura é o homem, diga-se...!

As críticas dos leitores dizem que é um livro um pouco difícil, principalmente se for o primeiro do autor que se lê. Por este motivo, em vez de o comprar, joguei pelo seguro e fui requisitá-lo à Biblioteca Municipal... E agora, que acabei, vou devolvê-lo e quando o encontrar (a bom preço) vou comprá-lo porque a minha estante não está completa sem este tesourinho de tamanho modesto e capa insuspeita... Seduziu-me completamente. Tudo! Forma e conteúdo. A narração é hipnotizante, vai-nos sugando a atenção e manipula-nos as emoções. Sentimos o calor na cara, o breu da noite, o cheiro do medo e do abandono, o cansaço dos dias. Era capaz de ficar sentada no chão, de braços e queixo pousados nos joelhos do narrador, só a ouvi-lo...

Começa por ser uma narração de uma história passada. Narrador distante, omnipresente e omnisciente... E, de um momento para o outro, tudo muda, e ele passa a ser participante e dirige-se a nós, que o lemos. Trata-nos por tu! É deliciosa esta transição, não é confusa, não é de mau gosto, não é um artifício de alguém sem originalidade...

Adorei conhecer o Ilídio, o Cosme, a Adelaide, o Josué e o Constantino... Podiam ser o Pedro, o João, a Maria, o José e o António, mas não. São Ilídio, Cosme, Adelaide, Josué, Constantino.

Relatório de 8º dia

Positivíssimo... Nem sempre sol, nem sempre chuva. Ocasionais trovoadas fortes, mas eu também gosto da trovoada, e adoooooooro a indiferença das pessoas daqui pelas mudanças radicais de tempo. De manhã saio de t-shirt, ao almoço visto casaquinho, à noite chove... "Ma siamo sulla montagna, è normale il tempo cambiare cosí...", e lá andam todos satisfeitos e não dão "ai Jesus" e "Santa Bárbara valei-nos" quando o céu ruge...

Nos dias de sol passeio, nos dias de chuva fico pelas redondezas, parlo un pó con la gente di qui , como coisinhas boas. Já andei muito a pé. Bastante de comboio, imenso de autocarro, um pouco de teleférico (40 minutos, subida e descida do monte)...

Gosto das cores das casas; em Portugal há leis contra esse espavento mas o certo é que aqui as cidades são lindas vistas de londe e de perto e as nossas até podem ser bonitas de perto, mas de longe parecem blocos de cimento.

Há árvores e plantas em todo o lado. Árvores e plantas, não mato e silvas. Nunca vi tantas sardaniscas, centopeias e aranhas por metro quadrado, e estou feliz por não estar cá nos meses de Verão. Vi dois pirilampos. Apanhei dois trevos de 4 folhas. Conheci gente Suíça-cordial-recta-superior, do norte de Itália-orgulhosa-fria-metódica e do sul de Itália (a Turrónia, como dizem os do Norte)-bairristas-calorosos-malandros-descontraídos.

Mas já só faltam 4 dias...



foto tirada no Monte Tamaro (1530 m)

22/05/2011

Svizzera, sto arrivando!

...e, por isso, vou andar um bocadinho ausente por uns tempos... Não tenho a certeza da frequência com que vou ter acesso à net. E vou andar demasiado ocupada a tirar fotografias aos lagos, às montanhas e às casas lindas para vir escrever... =)

Vou visitar a minha mamã e vou ficar 11 dias... vou comer boa carne de vaca, boas massas, respirar bom ar, melhorar o meu italiano...

No meio disto tudo, tento só abstrair-me do facto de que, para lá chegar vou ter que me enfiar num avião, que no momento da descolagem vou ter aquela sensação horrorosa de estar a ser puxada para a frente e a deixar o estômago para trás, que o avião não pode parar para eu sair se a meio da viagem ficar agoniada ou tiver um ataquezito de agorafobia, que em cada balanço ou turbulência ou curva vou ficar aflita e que no momento de aterrar vou levar um safanão medonho... Fora isto, tou fixe...

Boas férias para mim!

18/05/2011

Acerca da teimosia

Se há coisa que me irrita solenemente (além das pessoas que param a conversar no meio de passeios estreitos, obrigando-nos a ir para a estrada ou a passar no meio delas) é aquela típica sequência de:

- Diz-me qual é o teu pior defeito...

- Hum... deixa cá ver... tenho muitos! ...para começar, sou muito teimosa...

Isto faz-me pele de galinha e deixa-me os cabelos eriçados. Porque por detrás desta "teimosia" está um "tenho convicções firmes, uma personalidade muito vincada, sou uma pessoa de princípios muito fortes, sou tão fofinha!". Ninguém acredita verdadeiramente que a teimosia seja um defeito e é por isso que, quando confrontados com a pergunta desagradável, a pedir podres escandalosos e vícios imperdoáveis, a bota seja muito habilmente descalçada desta forma simples e inocente. "Sou teimosa", pronto.

A Teimosia é feminina. A sua conjugação também: dizemos "é teimosa", mas "teimoso" já não soa bem, porque só as mulheres é que são mesquinhas e picuinhas. Porque é disso que se trata, afinal. Aquilo que parece fofinho coberto pelo véu da teimosia é, na verdade, tacanhez, caturrice irritante, insistir na mesma tecla, bater no ceguinho, ser xato que dói, ter uma atitude sobranceira de "eu tenho sempre razão", ser convencido e arrogante...

Odeio ouvir gente que se diz teimosa, porque parece que a partir do momento em que se reconhecem com esse defeito têm legitimidade para fazer, dizer e insistir em tudo... porque são teimosos.


E o cúmulo, é perguntar a um casal: "qual é o pior defeito da cara-metade?". E qual é a resposta costumada? Ora pois, está claro, a cara-metade é teimosa. E por aqui se vê que a teimosia não é tida verdadeiramente como um defeito, porque se fosse, como ser reles, cínico, mentiroso-compulsivo ou orgulhoso, a cara-metade não o confessaria tão facilmente...

14/05/2011

"O rapaz de olhos azuis". de Joanne Harris

Ora portantos... Posso começar por dizer que as minhas espectativas estavam nos píncaros depois de ler várias críticas e a sinopse... e aumentaram quando vi a entrevista à autora no Bairo-Alto, em que falava do novo livro e das sinestesias. ...além de que a capa é das coisas mais lindas que tenho visto!! =)
E, portanto, comprei o dito. E estou tão triste...

O livro não é mau, atenção. Só é estranho. E é um daqueles casos em que a publicidade e resumos e sinopses feitos nada têm a ver com o produto. A história até anda lá por perto mas envereda por um rumo completamente diferente e acabei por me sentir perdida a maior parte do tempo, já tinha passado do meio do livro quando a coisa começou a fazer sentido, para logo me trocar as voltas novamente.
Uma coisa é haver um mistério que vai sendo deslindado aos poucos e a luz vai incidindo sobre as nossas dúvidas... Outra coisa é haver constantes cambalhotas no enredo que, em vez de esclarecer, confundem mais ainda. Num momento ela aponta-nos o caminho nesta direcção e, no seguinte, ri na nossa cara e diz "lembram-se do que pensaram quando leram isto? nada a ver...!".

O livro é um conjunto de publicações no webjournal de duas das prncipais personagens, o que, além de ser estranho e levar algum tempo para nos habituarmos, deixa obviamente muito por revelar. Não há uma ordem cronológica fácil de seguir; nunca sabemos se as publicações são reais ou ficcionadas... nunca sabemos nada.
Apesar deste nó, ainda acalento a ideia de que talvez, um dia, volte a ler este livro para ver se, sabendo agora o final, a coisa fará algum sentido.
Ainda há esperança... ou não fosse eu sportinguista.

09/05/2011

Ainda quero saber o que acham...

Parece uma canção de namorados... A mim, sempre me pareceu uma canção para a mãe.
A pretexto agora do desafio da Fábrica, sempre quero ver o que acham dela...



"Pelo Céu, às cavalitas
Escondi nos teus caracóis a estrela mais bonita que eu já vi

Eu cresci com um encanto de ser caçador de Sóis
Eu já corri tanto, tanto, para ti

Fui um príncipe encantado, montado nos teus joelhos
O eterno enamorado, a valer

Lancelote de algibeira, mas segui os teus conselhos
Pra voltar à tua beira e ser o que eu quiser

Os teus olhos foram esperança, os meus olhos, girassóis
Fomos onde a vista alcança da nossa janela

Já deixei de ser criança e tu dormes à lareira
Ainda sinto a minha estrela nos teus caracóis."
"Caçador de Sóis", Ala dos Namorados

04/05/2011

Uma dica...

Queres ser irresistível? Dá-me razão.

...quando não a tenho, é óbvio. Por isso é que preciso que sejas tu a dar-ma.
Quando vires que estou a ser tacanha e limitada, egocêntrica e desprezível, vem dar-me razão e respirar comigo a revolta.
Se for para me dizerem com boas palavras que não estou certa, que não agi bem, venham os amigos. Se for para me ouvir e confortar e "tenta resolver da melhor maneira", venha a família. Se for para me gritar a minha mesquinhez, venham os meus antagonistas. Mas se for para partilhar o meu espírito corrosivo, insuflar o meu egoísmo e acarinhar os meus erros, então vem tu.

Sê irresistível e sensual aos meus olhos. Dá-me razão.

02/05/2011

Daniel Godri e a Teoria dos Bola Murcha

Hoje e, infelizmente, pelos piores motivos, senti vontade de partilhar com vocês esta pérolazinha deste senhor Daniel Godri que, tenho cá pra mim, era capaz de vender um pente a um careca! É um grande orador eu gosto particularmente deste vídeo...





E é isto... Mais nada. Foi por causa deste tipo de gente que o meu dia de hoje azedou... Não muito, porque "Bola Murcha" não merece atenção, mas é sempre triste apercebermo-nos de como temos permanentemente olhos mesquinhos postos em nós, de como vivemos rodeados de gente atenta, activa e criativa, não no seu trabalho, mas na fiscalização, crítica e denúncia do trabalho alheio. É triste vermos pessoas cuja vida não interessa nem vale o suficiente para que cuidem dela com carinho e afã, e se dediquem a denegrir as vidas dos outros para que as suas não sejam o único exemplo de vazio e desolação... É triste e, normalmente, tento ignorar. Mas, além de todas aquelas coisas que o Godri referiu, o "Bola Murcha" também é de uma persistência ultrajante... como as melgas. Bem podemos abana-las e perseguir e passar de raspão mas, enquanto não as esmagarmos não teremos sossego... Eis-me, hoje, munida de mata-melgas!