20/09/2009

A morte de uma cepa

Esta semana fui ajudar na micro-vindima da minha avó. Micro porque, desde que a auto-estrada foi construída, a vinha, que até era razoável, ficou dividida em duas pequenas migalhas de terra...
Andávamos na faina quando a minha tia tropeça numa cepa que crescia solitária, num cantinho junto do muro...Tinha ar quase de ter brotado espontaneamente, afinal quem haveria de se lembrar de plantar uma cepa junto ao muro, que é caminho por onde passamos?? Além disso, pela falta de condução, em vez de se erguer direita do chão, ela arrastava-se pela terra, rasteira... Passei por ela, tropecei mas nem fiz caso... A minha tia, quando tropeçou, soltou uma imprecação, resmungou que aquela cepa já há muito deveria ter sido arrancada e, baixando-se, agarrou-a com força e partiu-a à altura do solo.
Aquele som estalado da lenha seca a quebrar, arrepiou-me. E ver aquele buraquinho no chão, com o pé e a raíz ainda enterrados no solo, sem nada mais para alimentar, partiu-me o coração.
Talvez, por ser do Douro, tenha uma veneração especial pelas cepas e as videiras... Talvez, se tivesse sido um pessegueiro (porque eu nem gosto muito de pêssegos) não me fizesse tanta aflição. Mas ver aquela cepa ser decepada (aliteração interessante...) chocou-me profundamente.

16/09/2009

Um grande prazer!!!

Vem aí o Outono, pessoal!!! VIVA!!!
Dizem que aumentam as depressões e o stress, patati-patata... Tretas.
Viva o Outono! Viva o vento frio, viva a cor vermelha-dourada da natureza, viva a queda das folhas, vivam as primeiras chuvas, viva a roupa quentinha, viva o chocolate quente, viva o cobertor fofinho, as peúgas nos pés, as castanhas assadas...
Que maravilha... Qual tristeza, qual quê? Há milhões de coisas lindas e maravilhosas, e infinitamente melhores que passar o dia a transpirar com o calor e mal conseguir abrir os olhos por causa do sol...
Este post é um elogio ao Outono!!!
Juntem-se a mim, todos vós que, em segredo, repelis as temperaturas elevadas, a transpiração e as roupas minúsculas!!! Vamos para a rua de guarda-chuva na mão, fechado está claro, para que as pessoas que nos virem andar à chuva saibam que é por opção, e não por termos esquecido o "chuço" em casa.
Somos uma feliz e orgulhosa minoria!
Afinal, o Outono é a estação dos artistas! A Luz é mais limpa, a neblina é mística e a inspiração mais espontânea...
E não há nada mais bonito do que uma miúda, caminhando sozinha e apressada, guarda-chuva bem apertado na mão, encolhida por causa do vento que a arrepia e lhe emaranha os cabelos...a sorrir...

12/09/2009

"o que gostavas de ser quando fores grande?"

Pergunta típica, feita aos mais pequenos e, enquanto eles pensam, os maiores aventuram-se: "gostava de ser pequenino".

Eu cá, gostava mesmo, mas MESMO, de ser pequenina. Pequenina de tamanho e idade, porque pequena "por dentro" ainda eu sou... Será que aos 22 anos todos sentimos o mesmo? Talvez... Talvez agrade a alguns este jogo de "brincar aos grandes", então encarnam bem o papel, mais ou menos cientes daquilo que é esperado de si...
A mim, esta brincadeira não agrada... Porque não me sinto "grande", de todo... Parece que faltei às aulas sobre a vida adulta. Ou, quem sabe, talvez seja a ideia que eu tenho do que é ser adulto que esteja errada: ser adulto é ser sempre assertivo. Ciente do seu lugar, das suas capacidades, do seu papel, da sua personalidade, do que faz mover o mundo. Mais do que estar ciente disto tudo, ser adulto é controlar todas estas coisas. Afinal, é-se adulto.

Durante a adolencência, sabia que estava a "adolescer" (nem sei se tal palavra existe... Perdoe-me a Srª D. Edite Estrela) e que, um dia, um clique ou um terramoto ou o raio que o parta haveria de me dar a conhecer que era adulta já.
Este fenómeno ainda não se deu. Dou por mim vintona, carta e carro, Licenciatura, trabalho, descontos para o IRS, a fazer comida para mim e a passar as minhas roupinhas a ferro, mas não tive ainda a tão esperada epifania do que seria ser adulta...
Receio bem que isso nunca venha a acontecer... Serei eternamente uma criança/adolescente a "brincar aos grandes" sem nunca ter muito bem a noção do que ando a fazer ou se passa à minha volta...
É mais ou menos como quando descobrimos, à medida que crescemos, que a nossa mãe afinal não sabe tudo! É que, quando somos pequenos, a mãe tem todas as respostas, toda a sabedoria, todas as soluções, toda a força, todo o poder. Basta chamar o seu nome e os nossos problemas estão imediatamente solvidos por aquela entidade divina e Todo-Poderosa cuja missão no mundo não é mais que alimentar-nos, vestir-nos e aconchegar-nos os cobertorzinhos à noite... A dado ponto, vemos que não é bem assim... Entrei em pânico quando me apercebi desta realidade!
Agora estou a assumir que é o mesmo com ser adulto. Não existe fronteira. Não existe início. Vamos vivendo, pobres pequenos, e aprendendo com as cabeçadas que damos na parede quando olhamos para o chão, ou com as rasteiras de outros quando vamos a olhar para as paredes... Por isso é que de vez em quando o vizinho canta demasiado alto, ou o colega no trabalho dança uma música de forma esquisita, ou aquele amigo quer brincar connosco à sardinha... São instantes de loucura em que a frustração fala mais alto e voltamos por momentos às origens.
Quem disse que não devemos deixar nunca morrer a criança que há em nós, era brilhante. É que ela, de facto, nunca morre. Mas esta frase dá-nos uma desculpa excelente para nos entregarmos de quando em vez à tal loucura infantil e, ainda por cima, parecer heróicos quando o fazemos: "olha, aquela não deixou morrer a criança que há dentro dela..."
Pois está claro que não. É preciso é coragem para a mostar.

06/09/2009

"Até um relógio parado dá as horas certas duas vezes por dia"

Por acaso, tive esta saída inspirada quando reparei que o colega do lado,no trabalho, tinha o relógio parado.
Há duas semanas, diz ele. "Mesmo assim, o relógio dá-lhe horas certas duas vezes por dia", disse-lhe eu.
Mais do que relógios, esta afirmação reconhece a validade das pessoas.
Isto é tudo muito bonito e toda a gente vale alguma coisa, todas as experiencias, todas as ideias, bla bla bla... A verdade é que, quando me toca a mim sentir-me uma nulidade, o faço melhor do que ninguem. E estas frases são isso mesmo: frases. Mais ou menos grandes, com muitos floreados rococos ou deliciosamente simples, mas todas elas vazias porque não alteram aquilo que eu sinto ou vivo. Mas isto são contas de outro rosário.
É uma frase bonita e é absolutamente verdadeira. E seria infinitamente bom se pudessemos programar o nosso cérebro para memorizar máximas deste tipo e fazê-las piscar como um letreiro quando precisássemos de uma forçazita...
Tenho 22 anos e, às vezes, olho para a minha vida como imagino que um idoso olha para a sua. Para trás. Como se tudo o que poderia haver de bom e bonito estivesse lá atrás. Como se estivesse cansada.
Os velhinhos que olham para trás são relógios parados. Mas duas (ou até mais) vezes por dia, dão-nos as horas certas, dão-nos aquilo que precisamos ouvir, ou aquele olhar sereno que nos conforta.
Adoro velhinhos! Adoro ver a lentidão cuidadosa com que caminham, as rugas que lhes marcam o rosto e as mãos, o brilho sempre presente nos olhos que já viram tanto...! Um antigo colega de trabalho, de qundo eu fazia visitas guiadas a Quintas de Vinho do Porto, dizia-me que eu deixava os velhinhos doidos comigo, porque os rodeava de atenção e porque lhes sorria sempre.
Ri-me, ao início, mas reconheço que é verdade...
Até aqueles que, no comboio, nos falam. Mesmo tendo nós um belo livro para ler, uma revista para devorar, ou música para nos distrair... E eles falam. Desagradável, para alguns. Eu, gosto de os ouvir. Gosto das histórias, da forma como falam, das palavras que usam, da sabedoria muito pouco científica mas cheia de experiência e senso-comum que possuem.
Ninguém é um relógio parado, afinal. Porque até aqueles servem o propósito para o qual foram feitos duas vezes por dia.

05/09/2009

O dia de hoje...

No dia de hoje, dormi.
Preguicei um pouco mais do que aquilo que gostaria. Não fiz coisas que deveria ter feito... que gostaria de ter feito.
Saí para trabalhar.
Trabalhei.
Estou quase a acabar.
Vou para casa. A casa está vazia, hoje. É bom. Não porque goste de andar nua pelos corredores mas porque tenho tempo para mim. Todo o tempo! Todo ele é para mim porque hoje estou sozinha.
Sozinha...
Talvez saia, afinal. Para não ficar sozinha.
O dia de hoje foi igual. Igual é bom. É sinal que não é pior.
Às vezes deveria exigir mais... Não ficar contente por ter dias iguais. Querer dias melhores. Fazê-los melhores. Ser activa, em vez de re-activa.
Qualquer dia, quando eu for grande e as pessoas que me fazem mal, pequeninas... hei-de ser activa!
Por agora, vou para casa, decidir se quero ficar a rebolar no sofá, a fazer zapping e a cheirar o aroma de canela das velas ou se vou dar aos amigos do costume a alegria da minha companhia...