28/05/2016

Eu sou inteligente. Sou uma pessoa inteligente. Aprendo rápido. Leio muito. Decoro muita coisa com alguma facilidade.
Falta-me inteligência emocional. Falta-me perceber a equação que resolve os pensamentos maus, que anula os medos; falta-me decorar a receita para estar bem.

26/05/2016

Pessoas extraordinárias #3 - a Juliana

A Juliana não é muito bonita. Podia ser, se a vida lho permitisse, se fosse mais simples. E acho que deve parecer mais velha do que é na realidade. Não sei a idade dela... A Juliana farta-se de trabalhar. Aceita o que aparece, é empregada doméstica. O marido trabalha na agricultura e recentemente teve que emigrar.
Conheço a Juliana só porque vive no mesmo prédio que eu, mas acho que tem uma vida um pouco difícil ou triste. O filho é algo atravessado e vejo-a várias vezes a ralhar-lhe na rua.
Há bocadinho encontrei a Juliana a entrar no prédio, mais o marido e o rapaz, todos com ar de quem veio da festa da Comunhão. Ao passar por eles, agradeci ela segurar a porta para eu entrar e sorri-lhe enquanto lhe disse "que bonita está hoje!". Ela sorriu e agradeceu. O marido seguiu sempre, nem lhe vi a cara, e disparou escada acima, sem sequer esperar pelo elevador, enquanto ia a falar de modo grosseiro para o rapaz, que levava um dos sapatos na mão... Calçado novo, não há pé que aguente.

Senti tanta pena pela Juliana. Porque no dia da comunhão do filho, o marido veio de visita, ela arranjou-se tão bonita, para ir para casa com um filho infeliz de pé magoado e um marido zangado, que até se recusa ir no elevador com ela.
Senti pena por ela e por todas as lutas que são travadas por cada um de nós; lutas que nos desgastam e destroem mas que nos forçamos a disfarçar e seguir. Seguir sempre.

22/05/2016

"There is no reality"

Sou uma maníaca pela Verdade. Pela forma como as coisas são ou foram, na realidade, não segundo o relato e o ponto de vista de uma ou outra pessoa. E presumo muitas vezes, como sou algo compreensiva e volátil, que consigo ver a Verdade, mesmo entre lados antagonistas. Imparcial, justa, omnisciente, eu. Suprema presunção.

A Verdade não existe. Basta vermos um documentário científico acerca das cores, da nossa percepção delas e do facto de ser a luz a responsável pela nossa visão. As folhas que vemos verdes, não são na realidade verdes.

O que há de mais verdadeiro que um espelho? O espelho reflecte; é o derradeiro equalizador, dá o que recebe, sem filtros.
Mentira! Os espelhos nos provadores das boutiques fazem-nos parecer mais elegantes para não hesitarmos em comprar as roupas. Há um espelho no ginásio onde pareço mais magra. Se olho para o espelho da parade ao lado, pareço mais cheia um bocadinho. Gosto mais desse.
O que se vê ao espelho, não é a realidade. É a realidade reflectida com o defeito que o espelho lhe confere. O espelho não está a mentir propositadamente, ou com malícia. Mas ele, simplesmente, não é uma tábua-rasa; tem um pre-conceito, ou um pre-defeito, e é influenciado por ele que nos devolve o reflexo.

Preciso saber isto. Preciso fazer esta ginástica mental para não levar a sério os pensamentos tristes e fatalistas. Para acreditar que as coisas podem ser, E SÃO, melhores do que aquilo que a minha mente vê. Preciso treinar o riso, o optimismo e a simplicidade.


13/05/2016

Oh, não... Outro post sobre a ansiedade... =)

Depressão é excesso de passado.
Stress é excesso de presente.
Ansiedade é excesso de futuro.

Não sei quem é o autor, encontrei a frase no facebook, e encaixei no diagnóstico. A minha ansiedade acontece quando me esqueço de que estou no presente. Quando me deixo dominar pelas referências erradas do que aconteceu no passado, ou pela grandeza esmagadora e incógnita do futuro e isso me impede de simplesmente estar bem no presente. Carrego excessos que me desregulam e perturbam, e os passos conseguidos ao longo de tanto tempo de esforço, perseverança e desconforto parecem tão pequeninos, tão fáceis de recuar.

Sou uma maratonista, uma ultramaratonista; já fui consultada por N especialidades, tomei medicamentos talvez não de A a Z, mas seguramente de A a F ou G; já falei com pessoas com problemas semelhantes, já falei com pessoas que nunca padeceram de nada deste foro; já li testemunhos deprimidos, já li testemunhos vitoriosos; já fiz muitas coisas para tentar fugir à onda crescente de angústia interior: já cozinhei, já fiz limpezas, já tomei banho, já fui caminhar, já procurei alguém para falar, já fiz ginástica, já me fechei sozinha, já fiz arraiolos, já depilei as pernas!!! (interessantemente, a dor localizada, atenua o mal estar ao nivel da barriga e do peito), já joguei no computador, já pus música calma, já pus música alegre, já tentei exercícios de respiração e relaxamento que aprendi no yoga, já li literatura e também já li historietas ligeiras, já fui às compras, nem que seja só de pão, já fiz sudokus e str8s ( ou lá como se chama o jogo novo que vem na Dica), já pintei desenhos num livro de colorir para adultos, já vim escrever no blog, já escrevi um mail à Mary ( estás aí? Tens tão pouco tempo... Que benção, teres uma vida que amas e te ocupa! =) )... Todas estas coisas me fizeram bem em algum momento, e me falharam noutro. Não há uma receita infalível. Que bom, se houvesse...! Mesmo que fosse muito complicada de executar... A simples tarefa de ter algo complexo a executar serviria de distracção no combate à sensação física avassaladora de perder o controlo. 

04/05/2016

"O Carteiro de Pablo Neruda", de Antonio Skármeta

- Don Pablo, (...) estou apaixonado, perdidamente apaixonado.
A voz do poeta, tradicionalmente lenta, pareceu deixar cair desta vez duas pedras, em vez de palavras.
- Comtra quem?

Fez-me sorrir este pedacito deste clássico da literatura que estou a ler pela primeira vez. Sorri porque compreendi numa fracção de segundo aquilo que já sabia, mas que nunca havia pensado: que o amor e a paixão podem ser brandidos como uma arma, contra o próprio objecto desse sentimento. De tao arrebatador, tao profundo, o sentimento pode ferir o espaço e a natureza do outro. Irá ferir, de certeza, se for correspondido. Vão ferir-se e adaptar-se e repelir-se para se afastarem magoados, ou para regressarem um ao outro com perdões e paciência.
O amor é uma arma, de facto.