A Juliana não é muito bonita. Podia ser, se a vida lho permitisse, se fosse mais simples. E acho que deve parecer mais velha do que é na realidade. Não sei a idade dela... A Juliana farta-se de trabalhar. Aceita o que aparece, é empregada doméstica. O marido trabalha na agricultura e recentemente teve que emigrar.
Conheço a Juliana só porque vive no mesmo prédio que eu, mas acho que tem uma vida um pouco difícil ou triste. O filho é algo atravessado e vejo-a várias vezes a ralhar-lhe na rua.
Há bocadinho encontrei a Juliana a entrar no prédio, mais o marido e o rapaz, todos com ar de quem veio da festa da Comunhão. Ao passar por eles, agradeci ela segurar a porta para eu entrar e sorri-lhe enquanto lhe disse "que bonita está hoje!". Ela sorriu e agradeceu. O marido seguiu sempre, nem lhe vi a cara, e disparou escada acima, sem sequer esperar pelo elevador, enquanto ia a falar de modo grosseiro para o rapaz, que levava um dos sapatos na mão... Calçado novo, não há pé que aguente.
Senti tanta pena pela Juliana. Porque no dia da comunhão do filho, o marido veio de visita, ela arranjou-se tão bonita, para ir para casa com um filho infeliz de pé magoado e um marido zangado, que até se recusa ir no elevador com ela.
Senti pena por ela e por todas as lutas que são travadas por cada um de nós; lutas que nos desgastam e destroem mas que nos forçamos a disfarçar e seguir. Seguir sempre.
Cheguei aqui através de um comentário seu no meu blogue.
ResponderEliminarE agora que aqui cheguei, vou ficar.
Bfds
Obrigada, Pedro, por ter ficado e comentado =)
EliminarGostei de ler esse retrato da Juliana. Senti, como tu, que ela pode representar todas as lutas de cada um de nós, todas diferentes mas todas iguais na força que precisamos ter para prosseguir o caminho diário.
ResponderEliminar:)
Exacto, Luísa... Somos todos diferentes, mas todos na luta e todos a precisar de algo que nos foge... E à espera que a vida nos deixe ser felizes a intervalos.
EliminarCoitada da Juliana. Investiu tanto nesse dia mas esqueceu-se de investir na vida. Quantas vezes pensamos saber o que é importante para nós mas acabamos por não perseguir o que queremos e acabamos como a Juliana: como uma vida demasiado banal e triste. Passamos a pôr os nossos objectivos em segundo ou terceiro lugar e a lutar pelos objectivos dos outros. Não temos só uma vida? Então temos que tentar ser felizes todos os dias e só isso fará de nós pessoas belas. A felicidade dá beleza. Beijinhos
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