Gosto desta palavra. Não da palavra em si, que até é difícil de pronunciar, mas do seu significado complexo. Traduzido dá algo do tipo "perfeito; sem falhas ou defeitos" mas, tenho cá para mim que esta definição é demasiado reles para a acepção que eu sinto nesta palavra, quando aplicada. É que, algo que é flawless, não é simplesmente perfeito. É, sim, isento de qualquer tipo de deformação, mácula, carência, erro, pecado, remorso, culpa... É excelso e transcendente.
Ninguém é assim, destituído de defeitos ou imperfeições. No entanto, teimamos todos em acreditar no Pai Natal e a pôr a mão no fogo em como os nossos amigos são perfeitos e únicos e incapazes de nos desiludir. E depois, quando isso acontece, todos ofendidos, amaldiçoamos a pessoa que nos enganou, porque nos deixou ficar mal, porque não respeitou o nosso segredo, a nossa dor, a nossa pessoa.
Acordem, criaturinhas cegas e mais ingénuas do que eu, que tantas vezes admito a minha ingenuidade!!!
Eu não sou perfeita. Eu sinto o impulso de me aperfeiçoar e adaptar aos outros, de reconhecer que posso fazer melhor... Mas, quando não correspondo às vossas expectativas, quando não vos sei adivinhar, quando sou incompreensivelmente inconveniente, quando discuto e não largo o meu ponto de vista (mesmo que ele seja tacanho aos vossos olhos), quando estou mal disposta e faço birras, quando tenho uma dor no dedo mindinho e quero que todos se compadeçam de mim como se fosse o pior mal do mundo, quando estou alegre e faço questão que todos ouçam porquê, quando corrijo a vossa forma de falar e denuncio os vossos pontapés no Português, quando sinto vontade de estar só e vos abandono, quando não sei entrar nas vossas conversas eruditas e de elevada importância (ainda que eu não consiga entender a importância que têm)... em suma, quando eu sou intratável não deixo de ser a vossa "amiga". E vocês são estúpidos e metem-me nojo se começam a desprezar-me porque me descobriram um defeito. Porque eu vejo os vossos. E acarinho-os e tento melhorá-los e contorná-los e assumi-los como características vossas. Mas vocês atiram-me os meus à cara.
É suposto eu ser perfeita??! É de supor que vocês próprios são perfeitos?
Na escola eu tinha tantos amigos...! e agora já não sei. Deixei de vos reconhecer. Vocês já não me conhecem também...
Eu gosto daqueles filmes sobre os amigos que se conhecem toda a vida e crescem, sempre cumplices e unidos, e depois têm problemas e zangam-se e lutam e parece que tudo acabou... Mas no final, voltam a entender-se. Não porque é muito bonitinho perdoar ou esquecer... Simplesmente porque se aceita o outro por inteiro. Pacote completo. Defeitos e tudo.
Eu tenho alguns defeitos... Sou mimada e carente; ligeiramente egocêntrica; demasiado perfeccionista; derrotista e comodista; ingénua e desbocada;... não sei que mais...Mas tento domesticar estas falhas, de forma a caber um bocadinho melhor na palavra flawless. Isto é, o que se pretende não é a ausência de defeitos, mas a medida certa, a que nos torna mais agradáveis e interessantes do que e própria Perfeição.