05/05/2010

Anti-depressivos

... são a pior coisinha que por aí anda. Falo por experiência. Estou qualificada.
Fazem-nos sentir bem, tranquilos e capazes. Por nos sentirmos assim, com conselho do médico ou por auto-recreação, vamos reduzindo a dose ou abandonamos totalmente. E, então, cai tudo sobre nós novamente. E voltamos à estaca zero: buscar alívio nos comprimidos.
Os medicamentos normais curam. Toma-se e fica-se bem. Mas anti-depressivos e calmantes não são mais do que anestesias. Mantêm-nos dormentes e insensíveis às coisas que nos fazem vibrar da maneira errada, e mantêm pensamentos maus fora da nossa cabeça. Ficamos mais leves, a concentração diminui, assim como a nossa memória.
Mas o "podre" continua lá. Só foi cortada a ligação que ele tinha ao nosso sistema. E não mais do que isto.
Um dia, apercebi-me deste facto. De que andava iludida. De que não ia ficar curada daquela maneira. Então parei. De um dia para o outro. Não tomei mais nada. Não consultei o médico. Sofri, mas ergui-me. Aos poucos. Tão lentamente que quase não se via evolução. Só hoje, decorridos mais de 2 anos, é que me dou conta que há, de facto, alguma melhoria.

Apesar de tudo, tenho sempre comigo uma caixinha SOS. Preciso dela. Porque apesar do caminho que estou a percorrer, há momentos em que tudo é grande de mais e eu preciso de um empurrão. É claro que era muito mais bonito fazer cara de má e dizer alto e bom som "Não!posso cair mas levanto-me...mas não volto a tomar porcarias!". Mas há certas coisas, certas oportunidades e experiências que me seriam dolorosas e que me passariam ao lado porque eu estaria com um ataque de ansiedade. Então (acontece muuuuuito raramente mas) quando vejo chegar uma coisa boa que, inexplicavelmente me faz sentir aflita e ansiosa a um ponto desconfortável, eu tomo um desses SOS uns dias antes. E tomo um dia sim-dia não até acontecer. Porque em vez de andar eternamente a cabecear e a resisitir à ajuda dos medicamentos, eu prefiro ceder de vez em quando e ter a certeza que não perco uma alegria, uma oportunidade, que a gozo a 100%.

E depois, isso até me ajuda a pensar "vês? custou alguma coisa? precisavas mesmo daquilo? não...!". E, na vez seguinte, talvez já me aventure sem "muletas".

Acham que estou errada?

5 comentários:

  1. Fiquei muito orgulhosa de ti no fim deste post, eu fui uma das pessoas que acompanhou a pior fase. E sozinha percebeste aquilo que tantas vezes te dissemos, que tinha de partir de ti e não dos medicamentos.Muitos Parabéns Carissima

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  2. Minha cara,
    eu apercebi-me disso sozinha e não quando vocês mo diziam porque eu tinha que estar aqui para tomar essa decisão. Tinha que estar em solo familiar. E aí, apesar de eu gostar tanto da nossa casinha, de vocês, dos nossos amigos, era tudo frenético. Aí eu não seria capaz.
    Aqui tudo é mais pequeno e mais silencioso. É o meu ambiente. =)

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  3. Acho que cada pessoa vive as coisas de maneira diferente...por isso não me parece que estejas errada. No entanto, acho que deves fazer esforços para conseguir deixar de vez as "muletas" e caminhar livre...mesmo que com um bocadinho mais de ansiedade =)

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  4. Acho que ser-se corajoso não é só deixar de vez as "muletas", penso sinceramente que a maior coragem se revela quando assumimos que precisamos de ajuda, que sozinhos não conseguimos mais, pelo menos não por agora. Um dia...se Deus quiser, conseguiremos mais e melhor. E por isso, considero que estás certa, porque o passo mais difícil já o deste...o de reconhecer. Beijinho

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  5. Querida Patrícia,
    que bom ouvir (ou ler) isso! É que, até certo ponto, há sempre aquele medo de estar a fazer tudo mal e a tomar decisões erradas...
    E é reconfortante sentir que, mesmo que não seja a melhor coisa do mundo ou a mais acertada, há quem compreenda que, de momento, é simplesmente o que nos é possível fazer...
    Obrigada!

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