17/08/2010

Na ressaca...

...porque a ocasião das festas da terra é uma tremenda borracheira. Estamos alterados, todos. Tudo é extremo, sejam as alegrias, sejam as tristezas. Se acontece algo bom, somos os mais felizes do mundo porque tudo contribui para a euforia. Se acontece algo mau, somos os mais desgraçados porque todos os outros festejam, indiferentes à nossa amargura. A nossa percepção da realidade é distorcida. Exagerada. Por isso digo que as festas são uma tremenda borracheira. Têm a fase da ressaca e tudo, que é quando tudo termina. A euforia esgota-se. Passa a solenidade das procissões e a efusividade das noites de música e arraiais e fica aquele amargo de boca que é uma mistura de cansaço, alegria serena e já a nostalgia porque agora festa assim, só para o ano...
E este ano a minha "borracheira" teve direito aos dois extremos. Tanto dancei, como ri, como falei alto, como saudei; da mesma forma que tremi, sofri, murmurei e chorei, até. Porque o encontro com os outros, com todos, é inevitável. E os que se mantiveram num afastamento saudável a maior parte do tempo voltaram a cruzar-se. E eu, que já era forte e imune, fui mais uma vez toldada pela presença perturbadora daqueles que eu já conheci e quis bem e me conheciam e queriam bem, e agora não nos conhecemos nem queremos nada uns dos outros. Bem... eu até queria. Queria ver que, apesar de tudo, nesta altura, e porque é tradição, e 14 de Agosto não é 14 de Agosto se não estivermos juntos, ainda éramos capazes de nos encontrar e desfrutar, sem pensar em vícios e pecados antigos. A coisa correu bem no 1º dia; abanou um bocado no 2º; e no 3º e último dia de festa, caiu tudo abaixo.
Fiquei triste. Mas já passou. Estou a ressacar. Estou a recuperar das noitadas; das refeições feitas à pressa; as pessoas começam a dispersar novamente e eu começo a recuperar o distanciamento que me faz forte; ainda sinto o cansaço, o ombro dorido de carregar o andor, o estômago apertado pelas emoções destrutivas que me perseguem mas já passa. Amanhã já passa.

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