29/09/2011

Doentinha

Éééééé... estive com um pé na cova na última semana... Pronto, exagero. Foram só três dias. Quanto à parte do pé na cova, é verdadinha. Era assim que me sentia e, pelos comentários compadecidos dos que me encontravam, o meu aspecto era condizente...
Tudo começou no Domingo, após um faustoso jantar de lombo assado com castanhas em casa da avó, que pode, ou não, ser o culpado do meu infortúnio... Certo, certo é que passei os últimos 3 dias de aparelho digestivo totalmente desarranjado, dores constantes por tudo quanto era lado, fraqueza... enfim... Dizem agora que anda mais gente assim e que é capaz de ser vírus, mas a mim tanto se me dá ser parte da epidemia ou ser caso isolado. A dor dos outros não me conforta.
Foram 3 dias longos e dolorosos, dos quais só hoje acordei com um ligeiro alívio... Mesmo assim, e porque todas as experiências são enriquecedoras, mesmo as dolorosas, aqui vai a lista do que aprendi neste transe:
  1. gosto de apanhar soro. Nunca tinha precisado de nada disso, de modos que pensei "pronto, é desta que me morro" quando, no hospital, a enfermeira, muito simpática, vem com o saquinho na minha direcção... Afinal, foi uma das experiências mais agradáveis da minha vida. Foi a eliminação gradual, mas rápida, de todo o desconforto, cansaço e dores. Um oásis no deserto inóspito que estava a ser o meu dia. 40 minutos de total relaxamento e recarregar de baterias. Maravilha... Viva o buscopan!
  2. sou um bicho solitário. Sofro só. Não quero ocupar os outros com os meus achaques nem quero que me vejam quando não estou no topo da minha forma, física ou intelectual. Não sei qual das duas pesa mais; sei que recusei toda a ajuda e acompanhamento e não avisei ninguém do meu estado. Há quem goste e precise de ser apaparicado. Eu não. Se calhar houve uma pessoa ou outra que ficou um bocadinho sentida comigo, mas que posso fazer? Se sinto que vou virar o barco, dispenso audiência... =)
  3. tenho pouca ou nenhuma tolerância à dor. Pelo menos, já vi várias vezes pessoas com dores que imagino serem piores do que as que senti, e não fizeram nem metade das caretas ou lamúrias que eu fiz... nem passavam o dia a dizer "a vida é dolorosa", como eu.
  4. sou uma péssima doente. Difícil de tratar, quero dizer. Isto porque, todas as comidas que me indicavam que seriam menos agressivas me desagradavam e me enjoavam... Canjas, sopas brancas, arroz cozido e semelhantes... Fico pior com a cura do que da doença em si.
  5. e último: por estar tão fraca, tinha que falar muito baixo, em tom monocórdico, e fazer pausas para respirar de 4 em 4 segundos, caso contrário, sentia tonturas. (Isto é muito contrário ao meu habitual, que é falar alto, de forma muito expressiva e veemente, a gesticular freneticamente e sem respirar durante 2 minutos.) Há aquelas pessoas que falam sempre, SEMPRE, como eu na minha versão doente. Se isso antes me enervava, por achar que eram pessoas frustradas, desanimadas, moscas-mortas e outros nomes feios, agora vou ser compreensiva. Quem sabe se essas pessoas não andarão permanentemente no estado em que eu me encontrava? Tenho que ser mais simpática com elas...

21/09/2011

Eu finjo




Pois está claro que finjo. Podes condenar-me?! Mas o meu fingimento não é como os demais... O meu fingimento é na proporção do meu amor. Quanto mais te amo, mais preciso fingir.
Finjo que não dependo da visão de ti para respirar, nem de te tocar para ouvir uma melodia que mais ninguém ouve, nem de sentir o teu cheiro para que o doce saiba a doce... Sinestesias, não é como chamam à intersecção de sensações? Finjo para que penses que estou contigo por opção, por vontade, não por dependência.
Finjo gostar de todas as tuas piadas, finjo não me importar que te atrases, finjo não reparar nas bacoradas que dizes, finjo nunca estar cansada para ti, finjo que não sinto o estômago revolto de cada vez que te vejo ou que se diz o teu nome, finjo não sentir um
micro-arrepio de cada vez que ouço a tua voz, finjo não sentir ciúmes do tempo que não passas comigo, finjo alegrar-me efusivamente com as pequenas ninharias que te fazem feliz... Finjo ajustar-me perfeitamente a ti.
Se não te amasse tanto, dava-me tal como sou. Em vez disso, sou uma fraude, mas uma fraude perfeita para ti.
E depois asfixio. Porque "o mundo do fingimento é uma jaula, não um casulo". Finjo por ti, por amor a ti. Finjo para te saber merecer e depois, porque é tudo fingimento, perco-te por não te saber ter.
Escrito para a Fábrica de Letras, mês de Setembro, tema: Fingimento.

11/09/2011

11 Set - 10º aniversário

No princípio, a Humanidade era una.
E o Homem reconhecia o seu semelhante e distinguia-o dos outros animais pelos dons que lhe haviam sido dados: pela postura erecta, pelas mãos ágeis, pelo sorriso, pela voz.
E o Homem formou tribos, sociedades, uniu-se e trabalhou para o Bem comum.

Depois, chegou o tempo em que o Homem já não se reconhece a si próprio e usa a sua postura para ameaçar, as mãos para esmagar, o sorriso para escarnecer e a voz para amaldiçoar.
Como chegámos a isto?

08/09/2011

Coisas que me ficaram na cabeça mais tempo do que seria suposto

Número 1: A minha amiga tem olhos bonitos. Fica conhecida, por quem não sabe o nome dela, como "a menina dos olhos bonitos". Eu sabia isto; eu própria usei isso para a distinguir, quando a conheci! "Fulana de Tal, a dos olhos bonitos!". Mas, mesmo assim, pareceu novidade quando alguém o referiu, ontem. Como se, por convivermos tanto, eu deixasse de "a ver" ou de reparar nesses pormenores.
Pensamento que ficou: neste caso, como em tudo, as coisas boas vulgarizam-se com a convivência e deixamos de as ver e valorizar. (Minha querida, Adorable One, não que tu te tenhas vulgarizado, estou só a estabelecer o paralelismo.) :D

Número 2: Há cada vez mais pedintes por todo o lado. Quando vou buscar o carro ao parque de estacionamento, além dos habituais arrumadores, agora temos pedintes que nem nos ajudam a arrumar o carro; pedem, simplesmente. No parque do Supermercado, uma cigana; dentro do Supermercado, dois membros de uma Associação, com uma banquinha; no mercado, atiram-me um calendário para a mão com AJUDE-ME e coisas mais; pelo telefone, alguém que anda a angariar fundos para construir não sei o quê...
Pensamento que ficou: certo que isto é um sinal de que a crise está aí, pior do que nunca. Mas também um sinal inequívoco de que cada vez mais nos encostamos de mão estendida em vez de fazer algo construtivo com ela.

Número 3: Todas as semanas me ligam para casa, de todas as operadoras existentes, para apresentar um novo serviço de Internet, telefone ou TV por cabo... e cada vez mais eu percebo menos do que me estão a dizer, tal é a fiada de serviços e tecnologias XPTO que esta gente invoca.
Pensamento que ficou: a tecnologia evolui tão rapidamente que, se não me ponho a pau, daqui a nada estou convertida num dinossauro que, como a minha avó, tem que chamar alguém competente para atender este tipo de chamadas.

Número 4: Tenho 24 anos, sei fazer um arroz seco, sequinho, irrepreensível, durinho e que se separa todo no prato... mas sou incapaz de estufar uma posta de peixe que não se desfaça toda dentro do tacho, ficando com um aspecto mais de caldeirada do que de posta estufada.
Pensamento que ficou: aos 24 anos (quiçá antes?) a minha capacidade de aprendizagem congelou. Estou de disco cheio. HELP!

Não gostei de nenhum dos pensamentos que tive hoje.

07/09/2011

Apetecia-me mesmo.... # 9

Imaginem eu a dançar, incorpórea e vaporosa... Que deliciosa visão de mim, hoje que o cansaço físico me fez ceder ao tentador abraço do sofá...!
Como seria fácil estar e ir para todo o lado, ser uma presença leve, literalmente leve... E
esquivar-me instantaneamente, quando sentisse dever ou querer. Sumir-me, eficazmente. Sem precisar de fôlego que me animasse ou chão que me sustentasse. Como seria irresponsável e alegre...!
Hoje queria ser volátil, etérea, surreal. Como os aromas de um cálice de Vinho do Porto. Como o álcool que inebria e depois se evapora, irresistívelmente. Impossível de conter entre duas mãos fechadas ou paredes castradoras. Ser volátil por inteiro, não "ter personalidade ou espírito volátil". Isso eu tenho e não é motivo de orgulho. Além de ser tão útil e frustrante quanto o par de asas que tem uma avestruz.
Não. Eu queria ser era volátil de inconstante, de esquiva, de irreal.
"Porque a recompensa de não existir é estar sempre presente". Fernando Pessoa

02/09/2011

Lindo...?

MEU!
Isto de ter uma mana mais nova, às vezes, é maravilhoso...

01/09/2011

Bicho do Mato

Sou.
Eu sei. Eu já sabia, só que não me lembrava.
Ninguém merece viver comigo porque eu também não sei viver com ninguém.
Chegar a casa a pensar que vou comer deliciosos Redon* e descobrir que já foram comidos deixa-me mal disposta para o resto do dia, quiçá da semana? Não estou a ser mesquinha. O jantar foi para dois, a dose dava para quatro, eu comi pouco, e não haver nada no dia seguinte... é de me atirar ao ar!
Chegar a casa e ver que aquela velinha cheirosa que comprei já foi encetada enquanto eu nem estava em casa, põe em desatino os meus instintos possessivos mais básicos.
Já para não falar de chegar a casa e ter uma chave enfiada no lado de dentro da porta... quando a ocupante da casa está de fones... (será que é phones?)
Acabou o sossego, acabou a previsibilidade das coisas, acabou eu deixar algo à mão de semear porque, quando voltar, já terá passado um furacão que mudou tudo de sítio e espalhou meias e sapatilhas e elásticos de cabelo em todas as divisões da casa.
Coisas inúteis como pastilhas elásticas e bandoletes estão em cima da mesinha da sala, quando o que eu queria lá era o meu livro, para lhe pegar quando me sento no sofá... onde é que ela pôs o meu livro?
Sou Bicho do Mato, pronto... Começa a chegar a hora de arranjar a minha própria toca.

* Redon: Forma erudita de dizer "restos d'ontem".