Éééééé... estive com um pé na cova na última semana... Pronto, exagero. Foram só três dias. Quanto à parte do pé na cova, é verdadinha. Era assim que me sentia e, pelos comentários compadecidos dos que me encontravam, o meu aspecto era condizente...
Tudo começou no Domingo, após um faustoso jantar de lombo assado com castanhas em casa da avó, que pode, ou não, ser o culpado do meu infortúnio... Certo, certo é que passei os últimos 3 dias de aparelho digestivo totalmente desarranjado, dores constantes por tudo quanto era lado, fraqueza... enfim... Dizem agora que anda mais gente assim e que é capaz de ser vírus, mas a mim tanto se me dá ser parte da epidemia ou ser caso isolado. A dor dos outros não me conforta.
Foram 3 dias longos e dolorosos, dos quais só hoje acordei com um ligeiro alívio... Mesmo assim, e porque todas as experiências são enriquecedoras, mesmo as dolorosas, aqui vai a lista do que aprendi neste transe:
- gosto de apanhar soro. Nunca tinha precisado de nada disso, de modos que pensei "pronto, é desta que me morro" quando, no hospital, a enfermeira, muito simpática, vem com o saquinho na minha direcção... Afinal, foi uma das experiências mais agradáveis da minha vida. Foi a eliminação gradual, mas rápida, de todo o desconforto, cansaço e dores. Um oásis no deserto inóspito que estava a ser o meu dia. 40 minutos de total relaxamento e recarregar de baterias. Maravilha... Viva o buscopan!
- sou um bicho solitário. Sofro só. Não quero ocupar os outros com os meus achaques nem quero que me vejam quando não estou no topo da minha forma, física ou intelectual. Não sei qual das duas pesa mais; sei que recusei toda a ajuda e acompanhamento e não avisei ninguém do meu estado. Há quem goste e precise de ser apaparicado. Eu não. Se calhar houve uma pessoa ou outra que ficou um bocadinho sentida comigo, mas que posso fazer? Se sinto que vou virar o barco, dispenso audiência... =)
- tenho pouca ou nenhuma tolerância à dor. Pelo menos, já vi várias vezes pessoas com dores que imagino serem piores do que as que senti, e não fizeram nem metade das caretas ou lamúrias que eu fiz... nem passavam o dia a dizer "a vida é dolorosa", como eu.
- sou uma péssima doente. Difícil de tratar, quero dizer. Isto porque, todas as comidas que me indicavam que seriam menos agressivas me desagradavam e me enjoavam... Canjas, sopas brancas, arroz cozido e semelhantes... Fico pior com a cura do que da doença em si.
- e último: por estar tão fraca, tinha que falar muito baixo, em tom monocórdico, e fazer pausas para respirar de 4 em 4 segundos, caso contrário, sentia tonturas. (Isto é muito contrário ao meu habitual, que é falar alto, de forma muito expressiva e veemente, a gesticular freneticamente e sem respirar durante 2 minutos.) Há aquelas pessoas que falam sempre, SEMPRE, como eu na minha versão doente. Se isso antes me enervava, por achar que eram pessoas frustradas, desanimadas, moscas-mortas e outros nomes feios, agora vou ser compreensiva. Quem sabe se essas pessoas não andarão permanentemente no estado em que eu me encontrava? Tenho que ser mais simpática com elas...