Na terra onde moro não há semáforos. Há casas centenárias, degradadas como assombrações, e há prédios medonhos que vão surgindo para lhes fazer sombra. Há ruas de paralelo irregular que nos massacram os pés e a suspensão do carro, e onde escorregamos nos dias de chuva. Há pessoas iguais na rua. Todos os dias iguais. Todos os dias vestidas com a mesma cor. Pessoas que cumprimento e a quem dou os bons-dias sem saber, às vezes, como se chamam. Há senhoras idosas que ficam encostadas à porta, a ver quem passa... e eu sinto-me, às vezes, envergonhada por passar, em passo rápido, jovem e tresloucada, e fingir que não as vejo. Há homens idosos que caminham curvados e devagar. Há um senhor muito velhinho, que caminha lentamente, costuma andar de sobretudo, mãos atrás das costas e um cachimbo entalado entre os dentes, a soltar nuvens de fumo perfumado, que incomodam quem passa por ele. Eu acho-lhe graça.
Na terra onde moro, as ruas ainda ficam silenciosas e desertas nas noites de Inverno, e ruidosas e lotadas nas noites de Verão. Os cães vadios são alimentados por donas de casa aborrecidas ou por homens do talho simpáticos.
É uma terra rodeada de aldeias, de onde descem pessoas castiças nos dias de feira e mercado. Aldeias que são manchas coloridas no meio das encostas, com chaminés altas de onde se desprendem fios de fumo branco nos dias frios ou nos dias Santos, quando se faz carne assada nos fornos ancestrais.
Na terra onde moro, as estações têm a sua própria cor. A Primavera é verde. Verde-vivo, verde-luxuriante, verde tão verde que até cansa. O Verão é abafado, com o verde convertido numa tonalidade mais seca que se confunde com os amarelos crestados das ervas rasteiras. O Outono é castanho e dourado e vermelho e cor-de-rosa! O Inverno tem o negro da terra devastada e húmida, o castanho lamacento do rio na cheia e o amarelo das mimosas que começam a sorrir quando a Primavera está próxima.
A terra onde moro é a terra onde vivo. E acho que não saberia viver noutro sítio!
Alto là hà pessoas que descem das aldeias todos os dias...tipo eu :p
ResponderEliminarTirando algumas pessoas que nao gosto da terra onde moras e até parecia uma terra bonitinha :)
Que bonito =) a minha terra tem muito da tua!
ResponderEliminarPapolinha, as pessoas que descem das aldeias todos os dias são mais da minha terra do que da terra delas, que acaba por ser um simples dormitório... =)
ResponderEliminarFabi,o Norte é maravilhoso e tem encantos muito iguais. Temos a sorte de os conhecer... =)
A terra onde vives, faz-me lembrar a terra onde moro e onde também vivo (ou tento)! As serras, os vales, o rio... o castanho do outono a contrastar com o verde da primavera... Vivemos mesmo no norte! E como dizes (e muito bem), eu também acho que não saberia viver noutro sítio que não fosse no norte! :))
ResponderEliminarBonito! :))
Na terra onde vivo, numa delas, também há ruas de paralelo irregular que nos massacram os pés e a suspensão do carro, e onde escorregamos nos dias de chuva. Tem muito da tua terra mas eu não tenho por ela o amor que tu tens pela tua. Talvez porque bem longe deixei a terra que me apaixonou e me viu nascer. Há terras neste país pelas quais eu sinto grande paixão, esta é fria, feia....
ResponderEliminarBeijinhos
Marlene,somos duplamente sortudas! Por vivermos num sítio bonito e por sabermos gostar dele! =) beijinho
ResponderEliminarBrown Eyes, que pena que não consegues apreciar a terra onde vives! Mas, em compensação, os regressos e visitas à TUA TERRA, aquela de que gostas, devem ser terapêuticos e maravilhosos! beijinho