...e isso não tem nada de mal, certo?
Dou-me conta, nestes dias em que estou em "modo esfregão".... Já falei disto aqui, certo? Modo esfregão. Há dias em que uma pessoa se sente bem, bonita, capaz... E há dias em que nos sentimos um esfregão, daqueles muito enxovalhados e gastos e repelentes... Tenho andado em modo esfregão. E passo um lápis negro sobre a linha das pestanas, de modo a levantar-me o olhar, ou um bâton garrido que desvie as atenções do meu rosto pálido... Mas, ainda assim, estou em modo esfregão.
Dizia eu, então, que nos dias em que estou em modo esfregão apercebo-me com terror da fragilidade de tudo. Não sei... Como se estivesse a usar óculos demasiado graduados, que me fazem ver mais do que queria e me deixam com náuseas ao mesmo tempo. Quase consigo ver o sentido das coisas, da própria Vida, e esse sentido resume-se a nada. Somos formiguinhas. Minúsculas e pouco inteligentes, ridículas na nossa azáfama, na nossa rotina que alguém se lembrou de criar e que vamos seguindo de forma mecânica, muito pouco inteligente. E acho tudo insuportável. Tudo ridículo. E eu, mais ridícula ainda, por não conseguir misturar-me. E tenho medo das pessoas. Um medo cego e irracional. Medo da sua simpatia e mais medo ainda da sua crueldade. Não me zango. Tenho medo de me zangar com as pessoas, medo de queimar pontes. Perco a noção do que me pertence por direito e daquilo que ultrapassa esse direito e onde eu deveria ceder. Sei que estou em desequilíbrio e isso destrói a confiança que tenho nas minhas próprias emoções e razões.
Então, estou zangada. Estou zangada com as pessoas que conheço e que me desiludem, com as pessoas que fazem disparates, que são mesquinhas ou más... Estou zangada porque a alternativa a isso é ficar triste... E acho que já andei triste tempo de mais. Seja zangada, então.