A Elisa é amiga de infância da minha mãe. É uma amiga daquelas a sério, que brincaram juntas na infância, que se atreveram juntas na adolescência, que se viram casar e ter filhas e que, hoje com 50 anos se vão encontrando às vezes, quando a rotina diária quer, e param sempre um pouco a conversar, a perguntar pela vida e pela família...
A Elisa conhece a minha mãe, e ficou do lado dela quando, na altura do divórcio, meio mundo se virou contra ela porque uma mulher é desgraçada quando o marido a faz infeliz, mas é uma cabra que "de certeza já tem outro" se decide pôr fim a isso e lutar pela sua saúde.
Foi a Elisa que segurou a minha mão durante a homilia,
neste dia.
Foi também ela que, por trabalhar no laboratório de análises onde nós éramos clientes alertou a minha mãe para o facto de eu precisar de um acompanhamento, de eu não estar bem, apesar de o médico de família me mandar sucessivamente para casa com suplementos de ferro, porque isto é só uma anemia ligeira, está tudo bem... Foi no seguimento do alerta da Elisa que a minha mãe me levou a um hematologista que me diagnosticou um traço talassémico e que me ajudou a ter uma vida saudável.
A Elisa hoje está desempregada, porque o laboratório mudou de administração, as lambe-botas foram mantidas mas ela não... É uma mulher de quase 60 anos, que nunca fez mais nada na vida e que se vê agora demasiado jovem para a reforma mas demasiado velha para a aceitarem noutro lado.
Passeia muito a pé aqui pela terra. Continua a ir à missa. Às vezes vejo-a passear com o marido, um grande companheiro, e a sua netinha, de 1 ano.
Pergunta-me sempre como ando, como anda a minha cabecita e a ansiedade, e se ando a comer bem.