27/02/2017

Como galinhas decapitadas...

...as pessoas. A deambular desgovernadas, esguichando sangue para todo o lado, até por fim embater em algo que as deixe ali encostadas e estrebuchar o resto da energia vital.
Não somos assim, tantas vezes? Temos consciência do que fazemos? De para onde vamos? Do que somos?
Achei sempre, de uma forma nada lógica mas instintiva, que quem opta por uma vida espiritual, quem se propõe desbastar a selva que é o emaranhado das suas próprias emoções, os seus sentimentos, a sua essência primordial, o faz porque a "viagem" pelo mundo exterior redundou de alguma forma em fracasso. Por um desgosto amoroso, por uma morte, por uma doença traiçoeira, por um descontentamento generalizado ou uma sensação de desconexão com o mundo "normal". Enfim, por uma Dor. E as pessoas iniciam essa jornada como quem toma uma anestesia, porque a tarefa é tão absorvente, interminável, que tirará o foco do restante.
Pensei sempre assim. Ainda penso, mesmo vendo-me eu própria numa jornada paralela, em que tento conhecer-me, em que medito, em que busco mais espiritualidade, mais amor pelas coisas, cultivar a gratidão, cuidar do meu corpo como se de um templo se tratasse...
E olho para fora de mim. Para quem tem tão poucas preocupações deste género. Para quem consegue resumir o sentido da sua vida nas coisas que realmente importam ou nas mais superficiais, conforme se queira olhar para as coisas. Deixar um legado no campo profissional; constituir uma família, uma prole, uma herança.
Pergunto-me se essas pessoas se colocarão por vezes as mesmas questões que eu. Se sim, são muito bravas por conseguirem justificar-se e continuar o seu rumo de uma forma simples e directa. Mas às vezes acho que não... Que estão anestesiados. Que as pessoas mais brilhantes e extrovertidas têm é horror de estar sós. Que uma mãe que deixa todos os outros papeis de sua vida para ser só e a 100% Mãe a tempo inteiro não tem um sentido definido para a sua própria vida. Que a pessoa que se desgasta no trabalho não vai ficar contente quando tiver uma casa maior, um carro melhor, umas férias mais luxuosas, essa busca nunca vai acabar, até ao dia em que o dinheiro que lhe custou a saúde vá ser aplicado na tentativa de trazer a saúde de volta.
E quando penso nisto, não penso que entre as pessoas que empreendem a busca pelo auto-conhecimento e vivem numa nota constante e serena, e as pessoas que vivem a saltar etapas na vida, numa busca também por qualquer coisa... Nao penso que umas estejam certas e outras não. Penso que todos buscamos o mesmo: a felicidade e um sentido para nos fazer sair da cama todos os dias. Embora sejamos como galinhas decapitadas, porque corremos em círculos tantas vezes, sem vermos bem onde esse caminho nos está a levar...

20/02/2017

Igual... Mas ao contrário.

Há quase quatro anos atrás eu era Leve, era assim.

Hoje sou leve ainda. Tenho mais penas no coração e mais memórias na mente do que naquela altura, mas pelo caminho também larguei algum peso que me oprimia... Por isso, continuo leve. E faço por caminhar direita, não por efeito do amor que alguém me vota, mas pelo amor que vou dedicando a mim, que me enche de orgulho e de optimismo. Os dias já estão a ficar maiores. É o renascer.

15/02/2017

Para onde vão as palavras que calamos? Os monólogos que apenas imaginamos? As mil variações possíveis daquela conversa, caso tivéssemos usado uma palavra diferente ou posto aquela vírgula noutro lugar?
Depois de muito cogitar nisto, tenho para mim que as palavras ficam em nós, percorrem-nos o corpo, como se viajassem à boleia da corrente sanguínea, visitam vários membros e órgãos, causando diferentes sensações em cada um, voltam eventualmente ao coração trazendo sentimentos à tona, passam pelos pulmões, causando-nos aflição asmática e trazendo tristeza (a medicina chinesa, na sua lógica tão bela, diz que os pulmões são o órgão que mais sofre o sentimento de tristeza, que libertamos através de choro e suspiros). Lá acabam as palavras por ascender ao cérebro e renova-se a simulação de diálogos, de argumentos, de réplicas imaginadas, de finais felizes e redentores ou de rancores acesos e inapagáveis.
Quanto tempo durará? Quanto tempo resistem essas palavras nesse circuito ininterrupto? Será talvez um pouco como quando o corpo exposto a uma substância nociva se vai regenerando, dia após dia, mês após mês... Mas sem nunca desaparecer totalmente.

11/02/2017

Barómetros

Sou viciada neles. Não para medir a pressão atmosférica, literalmente, mas a pressão na minha atmosfera. No Sistema Solar onde Briseis é o centro, o "Sistema Brisar". Os barómetros dizem-me se há níveis anormais de actividade na atmosfera... Como hoje, em que me veio à cabeça, vinda de lugar não identificado, a música dos Kodaline

You make my heart feel like it's summer
When the rain is pouring down
You make my whole world feel so right when it's wrong
That's how i know you are the one.

E eu suspirei de alívio, porque o barómetro disse que estou bem. Emocionei-me com esta música, porque me fez pensar no meu ex-Amor mas, ao mesmo tempo, vi que as palavras já não me serviam, já não eram a minha verdade. Já não era verão no meu coração há tempo demais... e isso significa que estou onde devo estar. Que tomei a decisão certa. Porque aquela música é o que o amor deve ser. Ela serve de barómetro.

02/02/2017

Ode ao Egoísmo

"egoísmo, não, credo! Que coisa feia!"
Deus me livre de algum dia alguém pensar isso de mim... Tiro um bocadinho, o pedaço maior fica para os outros. Não é justo, a mim faz-me mais falta do que a eles, mas se o reivindicar poderei ficar rotulada de egoísta. Assim, tiro só um bocadinho. E se vier mais alguém sou a primeira a oferecer-me para dividir o meu pedaço.

Mas agora basta. O egoísmo é uma manifestação de amor próprio, de respeito próprio. É sermos advogados de nós mesmos. Abri os olhos para esta novidade há dias, e andei a mariná-lá, lentamente. Com medo de exagerar na dose. Egoísmo não é o mesmo que egotismo. O primeiro é bom, é o que diz "primeiro eu. Depois tu." O segundo é catastrófico, é o que diz "Só eu."
O egoísmo foi o patrão de algumas atitudes que tenho vindo a tomar... Não ofendi ninguém, respeitei toda a gente. Não fiz mal a ninguém, fiz bem a mim.
Aspiro ser a pessoa que os outros um dia olharão com admiração e dirão "olha só, vê como ela é egoísta!", como se fosse mesmo uma virtude. Como se fosse exemplar.