...as pessoas. A deambular desgovernadas, esguichando sangue para todo o lado, até por fim embater em algo que as deixe ali encostadas e estrebuchar o resto da energia vital.
Não somos assim, tantas vezes? Temos consciência do que fazemos? De para onde vamos? Do que somos?
Achei sempre, de uma forma nada lógica mas instintiva, que quem opta por uma vida espiritual, quem se propõe desbastar a selva que é o emaranhado das suas próprias emoções, os seus sentimentos, a sua essência primordial, o faz porque a "viagem" pelo mundo exterior redundou de alguma forma em fracasso. Por um desgosto amoroso, por uma morte, por uma doença traiçoeira, por um descontentamento generalizado ou uma sensação de desconexão com o mundo "normal". Enfim, por uma Dor. E as pessoas iniciam essa jornada como quem toma uma anestesia, porque a tarefa é tão absorvente, interminável, que tirará o foco do restante.
Pensei sempre assim. Ainda penso, mesmo vendo-me eu própria numa jornada paralela, em que tento conhecer-me, em que medito, em que busco mais espiritualidade, mais amor pelas coisas, cultivar a gratidão, cuidar do meu corpo como se de um templo se tratasse...
E olho para fora de mim. Para quem tem tão poucas preocupações deste género. Para quem consegue resumir o sentido da sua vida nas coisas que realmente importam ou nas mais superficiais, conforme se queira olhar para as coisas. Deixar um legado no campo profissional; constituir uma família, uma prole, uma herança.
Pergunto-me se essas pessoas se colocarão por vezes as mesmas questões que eu. Se sim, são muito bravas por conseguirem justificar-se e continuar o seu rumo de uma forma simples e directa. Mas às vezes acho que não... Que estão anestesiados. Que as pessoas mais brilhantes e extrovertidas têm é horror de estar sós. Que uma mãe que deixa todos os outros papeis de sua vida para ser só e a 100% Mãe a tempo inteiro não tem um sentido definido para a sua própria vida. Que a pessoa que se desgasta no trabalho não vai ficar contente quando tiver uma casa maior, um carro melhor, umas férias mais luxuosas, essa busca nunca vai acabar, até ao dia em que o dinheiro que lhe custou a saúde vá ser aplicado na tentativa de trazer a saúde de volta.
E quando penso nisto, não penso que entre as pessoas que empreendem a busca pelo auto-conhecimento e vivem numa nota constante e serena, e as pessoas que vivem a saltar etapas na vida, numa busca também por qualquer coisa... Nao penso que umas estejam certas e outras não. Penso que todos buscamos o mesmo: a felicidade e um sentido para nos fazer sair da cama todos os dias. Embora sejamos como galinhas decapitadas, porque corremos em círculos tantas vezes, sem vermos bem onde esse caminho nos está a levar...