01/09/2010

Eu, livre

Livre... Dizem que nunca ninguem o é.
Que o Homem será sempre frustrado. Que o que possui acaba por o possuir a ele. Que há demasiados vícios e excessos.
Descrentes ignorantes. Cépticos ridículos. Vácuos mentais ambulantes.
Eu sou maior. Eu dispo-me do que é fútil e encontro a minha liberdade em ti.
Porque eu era fechada e altiva, e tu vieste derrubar o meu pedestal e invadir o meu espaço.
A minha rigidez aprisionava-me; agrilhoei-me em regras e fiz da individualidade o meu cárcere.
Mas tu aproximas-te e o meu instinto de recuperar ar recua.
Sou livre para escolher ficar. E fico.
Ouço as palavras que me despejas nos ouvidos.
És livre no pensar e no falar e deixas-me a mim a liberdade de concordar ou rejeitar, sem retaliações, ao contrário do que me habituaram a ter.
Disseste-me, uma vez, que eu era bonita; e eu não me importei.
Não me senti intoxicada pelo veneno disfarçado em cada elogio, que eleva mas responsabiliza; afaga mas queima;
Elogios tiram a liberdade; a liberdade de rastejar, de cair e de pecar.
Mas o teu elogio não pesou; não me cortou as asas.
Tens um efeito inebriante em mim. Fico embriagada pelo teu movimento e deixo-me contagiar.
Não penso, não me refreio. Sei que te divirto e que percebes o efeito que exerces.
Escandalizo os que me conheceram mas não me importo. Sou tão completa e absolutamente livre...!
Não imaginas quão bonito é o teu sorriso.
Adorável ignorância, fazes-me livre para o apreciar e gozar descaradamente.Eu, a mais insuspeita mendiga da tua atenção.
Insistes em tocar-me. Provocas-me. E, à força da insistência, ganhaste-me.
Aprendi a aceitar-te. Ajustei-me a ti.
Dei-me a esse trabalho porque sabia que, se não o fizesse, fingirias não te importar, tal é a tua dádiva de liberdade.
Tens-me desta forma, tão assumidamente entregue sem, no entanto, teres o direito de me chamar tua.
Pelo meu lado, não presumo jamais que algum dia serás meu.
E é neste equilírio frágil que reside a nossa libertação, que só se consuma quando estamos juntos.
Infelizes todos os que não têm alguem como eu te tenho a ti.


Fiz este texto para a Fábrica de Letras, mês de Setembro, com Tema Livre.

13 comentários:

  1. Sorte a tua. Bom texto, cheio de ritmo. Gostei.

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  2. El Matador, obrigada pelo comentário! =)

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  3. Parabéns poetisa da liberdade, do amor, da entrega, da descoberta. Que mensagem intensa, profunda e filosófica.

    Gostei muitíssimo do teu texto.

    :))

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  4. Linda sensação de liberdade apenas quando estão juntos!beijos,chica

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  5. Livre, mas tão amarrada às emoções!

    :)

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  6. A todas:Natália, Chica, Sandra e MZ, obrigada e bem-vindas ao Meu Pedestal!

    Marlene, como sempre, obrigada por me leres e, ainda por cima, gostares! =)

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  7. Lindas,as suas reflexões poéticas sobre o conceito de liberdade.De facto,uma relação a dois baseada no amor e no respeito pelo outro,não cerceia a liberdade.

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  8. B compreendo muito bem o que escreveste, alguém me fez sentir essa liberdade de que falas. É uma carta de amor linda, com muito sentimento e que nem todos poderiam e conseguiriam escrever. Há muita gente que nunca conseguirá sentir esta felicidade. Beijinhos

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  9. Brown Eyes, bem-vinda! Amor é uma palavra que eu não tinha pensado usar neste contexto mas, bem vistas as coisas, pode ser usada aqui. Não com a dimensão que normalmente se lhe atribui mas, de uma forma especial, acabo por amar esta pessoa! =)

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