27/04/2011

"O Discurso do Rei"

Tinha ouvido algumas críticas menos boas acerca do filme, que era "muito monótono e parado"... Se calhar, por já não levar expectativas elevadas, acabei por me surpreender pela positiva...

O trailler não mente, como alguns que mostram imagens hilariantes e ao ver o filme descobrimos que, fora aquelas imagens engraçadas, não se passa mais nada. Publicidade enganosa, como no "Gnomeu e Julieta". Mas este não é assim. No trailler vemos um rei suado e atrapalhado com a sua gaguez e uma amostra dos tratamentos e terapias às quais ele se submete a mando de um terapeuta muito especial. E é isto.

Aqui não há nenhuma alegoria ou metáfora que ligue a gaguez a qualquer outro problema, dilema ou dificuldade, do género "ele é gago e luta contra isso; eu sou deprimido mas também vou conseguir". Nada disso. O problema é a gaguez, mesmo. Era um estigma, assim como o ser esquerdino, nos anos 20, 30 e 40 do sec. XX. O nosso rei era ambos. Vamos percebendo os momentos traumáticos por que passou na infância e adolescência e que poderão ter influenciado e agravado a sua limitação e assistimos à sua inesperada subida ao trono (inesperada porque ele não era o filho varão) e à sua frustração e tristeza (imensa tristeza que Colin Firth soube encarnar de forma tocante) por não se poder servir da melhor arma que os reis tinham naqueles anos conturbados de início da Segunda Guerra Mundial para cativar e mobilizar o seu povo: a rádio.

Geoffrey Rush faz uma figura admirável enquanto terapeuta e amigo do rei, e é inspirador o final do filme, com a cena do grande discurso que o rei faz ao seu povo, a anunciar o início da guerra contra a Alemanha. Vale muito a pena ver. Não é de rir. Também não faz chorar. Mas é uma lição sobre perseverança.

24/04/2011

Páscoa é...

...ver uma irmã (uma freira) a sair do supermercado com uma garrafa de espumante e um pacotinho de salgadinhos de baixo do braço... =)

Queria muito ter tirado uma foto mas não fui a tempo.


Páscoa feliz para todos!

20/04/2011

A Feira

Faz lembrar as histórias medievais dos dragões ou mortos-vivos que vinham periodicamente às povoações mais próximas alimentar-se e semear o caos, só por divertimento...

Uma vez por semana, tenho terror de sair de casa porque há um cheiro a galinhas e podridão por toda a parte. Há uma cacofonia dilacerante e persistente pelos ares: o chão escorregadio, repleto de todo o tipo de restos hortícolas e ocasionais penas de aves que, tantas vezes repisados, reproduzem um "splash" agonizante a cada passo; os pregões grosseiros e esganiçados que trovejam de todas as direcções, intercalados com os murmúrios suplicantes das crianças que se dirigem a nós oferecendo embalagens de pensos-rápidos; as saudações ruidosas e exuberantes de conhecidos que se encontram no meio da balbúrdia; as buzinadelas dos carros enfurecidos pela demora das cargas e descargas, a passagem constante de gente nas passadeiras e a dificuldade em estacionar.

Enxurradas lodosas de gente carregada, apressada, irritada e afogueada.

Serpenteio, ágil, tentando evitar encontrões ou roçar de ombros de mulheres anafadas e homens transpirados; faço gincana por entre os destroços que vão ficando; resisto ao vómito que vem convocado por aquela assembleia etérea de cheiros nauseabundos; compadeço-me dos agentes da autoridade, assistindo impávidos à consumada transformação do "seu território" numa vala comum de detritos orgânicos; canto mentalmente uma canção de embalar, para me abstrair da matança que ali vai. Corro para casa, giro a chave na fechadura vinte vezes, fecho e calafeto as janelas e espero que o saque termine.

Ao início da tarde já tudo terá findado. Regresso à rua, agora vazia de predadores, de bancas e barracas, onde só o chão nojento e o cheiro atestam ainda a carnificina matinal. Até para a semana.

17/04/2011

"D. Amélia", de Isabel Stilwell

É magestoso.
Tenho consciência que, embora os factos e acontecimentos narrados sejam reais, o livro seja ficcional e romanceado... Mas isso não tira nada da grandiosidade da personagem principal.

Se bem nos lembramos das aulas de História, a queda da Monarquia e o Regicídio foram sempre apresentados como momentos de mudança positiva, mas o livro põe em evidência a outra face. Assistimos de muito perto a uma degradação das condições económicas e sociais do país, muito por culpa do desleixo do Rei D. Carlos mas, sobretudo, por culpa de tantos políticos incompetentes e corruptos. E é verdadeiramente tocante conhecermos tão intimamente aquela mulher que nasceu no exílio, foi educada para ser uma grande princesa, quando chegasse o momento, casou por amor e veio para um país estranho, atrasado e endividado, fez o seu melhor pelo seu povo e pela educação dos seus filhos, para ver um deles ser assassinado, juntamente como marido, que a desiludiu tanto, e o outro exilado.

O livro tem também uma série de fotografias da infância de D. Amélia, do seu reinado em Portugal, com D. Carlos e os filhos e também algumas tiradas em 1945 quando regressou a Portugal, a convite de Salazar. Acho este promenor delicioso, eu, que tenho um fraco por fotografias antigas, onde toda a gente é bonita e séria.

É uma leitura imperdível, que nos ensina muito acerca do que somos e de como viemos aqui parar.

D.D.R.* de Ternura

Obrigada por estares comigo; por me veres de todas as formas. Pelo teu toque inesperado que conforta; por pressentires os meus humores; por esta mão que é o fio de Ariadne que mantém a minha sanidade num ponto "recuperável", quando eu acredito tantas vezes que ela é líquida e vaza das minhas mãos, da minha cabeça, irremediavelmente. Por acrescentares tantos e tantos sorrisos e outras tantas gargalhadas à minha média diária. Espreguiço-me e recebo esse abraço electrizante. Revigorada, digo-te "obrigada por este bocadinho", e desligo. Vou dormir agarrada ao telefone, a tua mão, o teu ouvido, a tua boca.

Foi o momento de ternura do meu dia em que o sol brilhou com laivos de cinzento. Foste tu que mo deste.


*D.D.R. = Dose Diária Recomendada

Para a Fábrica de Letras, mês de Abril: "Ternura".

15/04/2011

Efeito "Bola Saltarica"



Hoje já não sou Rapunzel,

cativa no alto da minha solidão...







Hoje sou Sininho, voando pela casa, a minha Terra do Nunca, comendo sentada no chão, dormindo no sofá, e apaixonada pelo Peter Pan...

12/04/2011

Não sei...

Não sei que faça; não sei que me apetece... Se me apetece ficar enrolada numa bola, com o queixo a bater nos joelhos, ou se me apetece ir lá para fora uivar à Lua e aos passantes...

Não sei se me lateja a cabeça e sinto tonturas por inércia estupidificante, se será por tensão baixa ou males maiores... Não sei o que quero. Ando no terror que me perguntem o que tenho porque "não sei" não é uma resposta aceitável mas não sei que outra possa dar... Não sei como vou estar daqui a 2 minutos, embora desconfie que, a continuar neste torpor insensível, vá continuar a estar exactamente da mesma maneira... Não sei o que preciso. Não sei se durma, se corra e dance. Não sei se me afogue, se desperte. Não sei se sinto enjoos de fome, se estou simplesmente enjoada. Não sei de onde vem este cansaço, este desagrado por tudo... Não sei se queria que ninguém me visse, se queria que alguém me visse só a mim, e viesse em silêncio e ficasse só a ler na minha cara mortiça que não estou bem, que não sou assim, que não é uma birra... Não sei se tudo mudou, se são os meus olhos que deixaram de reconhecer feições. Não sei se quero ter alegria e ligeireza de volta, se quero que o tempo mude e chova e troveje para condizer comigo e eu poder encolher mais um bocadinho. Não sei como vou continuar a viver os meus dias assim; não sei onde estará o botão capaz de repôr a normalidade; não sei porque é que hoje sinto as pálpebras e os cantos da boca pesados, como se a pele tivesse perdido eslasticidade e fosse doloroso abrir os olhos e o sorriso; as minhas mãos parecem-me mais pálidas do que nunca. Não sei se me irei lembrar de tudo o que não posso esquecer; não sei se terei energia para fazer tudo aquilo que a minha vontade quer; não sei se encontrarei os sítios e os outros como e onde os desejo... provavelmente não. E, aí, não sei se serei capaz de reagir como uma pessoa adulta e inteligente. Provavelmente não. Vou reagir como uma miúda de 4 anos, mimada e inconsciente. Não sei, mas acho que quem me conhece se vai desiludir um bocado... Não sei se, no estado em que estou, isso me vai espicaçar a melhorar, ou se vai fazer com que me isole mais um migalhinho... Provavelmente.

09/04/2011

Olá Silêncio

(imagem retirada da internet)
...queres ser meu amigo? Suponho que não tens muitos. Não conheço ninguém que te tenha em alta conta. Se apareces no sossego e vazio da casa, assustas, como se fosses a antevisão de algum vacuo sepulcral arrepiante. Se, por outro lado, fazes a tua aparição atrevidamente, no meio de um grupo de amigos, todos se movem nas cadeira, desconfortáveis, vêem as horas, suspiram, pedem mais um copo e, sem qualquer consideração por ti, ocupam ultrajantemente o teu lugar com palavras ocas e desnecessárias. E tu vais-te, tão subtilmente como apareceste. Ninguém te curte.

Tens uma presença forte. Não é à toa que se diz às vezes que "havia um silêncio ensurdecedor". Ninguém sabe ou quer conviver contigo. Tens que entrar à socapa e, mesmo assim, és logo escorraçado, sem teres oportunidade de mostrar a tua graça pacificadora e sensata.

Vem ser meu amigo. Hoje ninguém me curte, também. Se vieres comigo, eu vou guardar a meu lado espaço para ti. E vamos estar bem no meio dos outros. Vamos travar conversas sábias e serenas, que mais ninguém vai escutar. Vamos ser cúmplices, sem nos importarmos que outros nos estranhem.

Se tivesses vindo comigo esta manhã, já teria evitado alguns dissabores... Por onde andas? Vem vedar-me os ouvidos e selar-me a boca. ...Sim, provavelmente, amanhã vamos encontra-nos e eu vou passar por ti e fazer de conta que não te conheço. Vou pousar a mala na cadeira livre ao pé de mim, como sinal gritante de que não quero companhia... pelo menos, a tua. Mas vamos ser amigos à mesma. Porque todo o terrorista tem os seus amigos que, obviamente, não querem nem podem ser vistos com ele em público.

Anda, vem...

07/04/2011

Argumentos

Agarro-me pelos ombros e dou-me um abanão vigoroso. Olho-me cheia de desprezo e vejo-me miserável: não pelo que me acontece ou pelo que me fazem, mas pelo que eu vou deixando que me façam e pelo que me vou desleixando de fazer...
Abano-me mais uma vez até os ombros descerem e a cabeça se erguer para eu recuperar estatura.

E desato-me a rir. Porque tenho olhos brilhantes, cabelo com vida própria e rugas de expressões risonhas.

Eu sou aquela que traz ruído e movimento às vidas que cruzo; sou especial porque ninguém é como eu, no bem e no mal (se bem que eu nunca faço mal nem nunca estou errada e tenho sempre razão!!!). (Barrigada de riso) Sou aquela que riu genuinamente quando ouviu estas acusações de alguém que era tudo.

Sou a irritante, a amarga, que chove sobre o primeiro passante incauto. Também sou aquela a quem disseram que era "no ponto", em vez de "de mais", porque tudo o que é de mais é mau. Sou aquela que aspira a ser flawless e que falha redondamente tantas vezes. Sou alguém que já ouviu algumas vezes (não muitas; q.b.) que sou linda.

O abanão deu resultado. Estou de volta, direita e irritante. Vou escovar o cabelo 100 vezes...

04/04/2011

Deve ser a porra de um record...

Despedi-me da minha mãe há 7 horas e já ando a falar sozinha pela casa...

Pode ser ingenuidade minha...

...mas ao ouvir este salmo na véspera da partida da minha mãe, comovi-me. Comove-me sempre.


"O Senhor é meu pastor: nada me falta.

Leva-me a descansar em verdes prados,

Conduz-me às águas refrescantes

E reconforta a minha alma.

Ele guia-me por sendas direitas

Por amor do seu nome.

Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos,

Nada temerei, porque Vós estais comigo:

O Vosso cajado e o Vosso báculo enchem-me de confiança.

Para mim preparais a mesa

À vista dos meus adversários;

Com óleo me perfumais a cabeça,

E o meu cálice transborda.

A bondade e a graça hão-de acompanhar-me

Todos os dias da minha vida,

E habitarei na casa do Senhor para todo o sempre." Salmo 23

02/04/2011

Resposta a pedido urgente

Querido Deus,

Vou assumir que tens um grande Plano para nós, que inclui uma série de coisas boas resultantes desta nova ausência da minha mamã...

A mensagem foi bem clara. É que, em três chaves que jogámos, acertar só um número... unzinho... é um sinal óbvio de que tens traçado para nós um caminho bem diferente daquele que, à primeira vista, idealizámos. Por mais que não seja, lá vou eu passar duas semanitas à Suíça, novamente, nas férias.

Enfim... Obrigada por mais uma oportunidade de crescimento... e o resto das coisas que forem vindo, eu lá agradeço na devida altura, porque para já não vejo muito bem quais possam ser...

E obrigada pela vitória da nossa Adorable One, que serviu para acender um bocado a minha noite.

Fica connosco.