O trailler não mente, como alguns que mostram imagens hilariantes e ao ver o filme descobrimos que, fora aquelas imagens engraçadas, não se passa mais nada. Publicidade enganosa, como no "Gnomeu e Julieta". Mas este não é assim. No trailler vemos um rei suado e atrapalhado com a sua gaguez e uma amostra dos tratamentos e terapias às quais ele se submete a mando de um terapeuta muito especial. E é isto.
Aqui não há nenhuma alegoria ou metáfora que ligue a gaguez a qualquer outro problema, dilema ou dificuldade, do género "ele é gago e luta contra isso; eu sou deprimido mas também vou conseguir". Nada disso. O problema é a gaguez, mesmo. Era um estigma, assim como o ser esquerdino, nos anos 20, 30 e 40 do sec. XX. O nosso rei era ambos. Vamos percebendo os momentos traumáticos por que passou na infância e adolescência e que poderão ter influenciado e agravado a sua limitação e assistimos à sua inesperada subida ao trono (inesperada porque ele não era o filho varão) e à sua frustração e tristeza (imensa tristeza que Colin Firth soube encarnar de forma tocante) por não se poder servir da melhor arma que os reis tinham naqueles anos conturbados de início da Segunda Guerra Mundial para cativar e mobilizar o seu povo: a rádio.
Geoffrey Rush faz uma figura admirável enquanto terapeuta e amigo do rei, e é inspirador o final do filme, com a cena do grande discurso que o rei faz ao seu povo, a anunciar o início da guerra contra a Alemanha. Vale muito a pena ver. Não é de rir. Também não faz chorar. Mas é uma lição sobre perseverança.