
Já se puseram bem nos nossos Heróis?
Não falo dos Super, que voam, têm força sobre-humana e visão raio X. Falo dos Heróis dos romances que lemos, das novelas que seguimos, dos filmes e séries que vemos e das músicas que ouvimos. São Heróis completos, íntegros e altivos. Inteligentes e especiais. Só eles é que vêem certas coisas, só eles é que actuam de determinada forma. Corajosos. Mesmo que o género seja a comédia e, a princípio, pareçam tão corajosos como o Scooby-Doo, que foge mal imagina um fantasma, a determinada altura irão revelar-se valorosos e ousados lutadores pelos seus ideais.
São ou não são todos assim? Mesmo os anti-heróis, que as professoras de Português tanto nos martelavam; mesmo esses tinham um charme e encanto irresistíveis, uma teimosia e obstinação que se confundiam com perseverança, uma maneira sensual de suportar as dores estóica e pacientemente, e uma força interior absolutamente surreal.
São estes os nossos Heróis.
E é por causa destes altos exemplos que nós rastejamos tantas vezes, confrontados com as nossas limitações.
Se eu criasse um Herói, ele haveria de ser desajeitado e molengão. Convencido e egocêntrico. Haveria de ser hipocondríaco, tremer ante a simples ideia de sentir dor; ser inseguro e mesquinho, desatento aos pormenores, muito pouco perspicaz, sofrer de verborreia e de um tique nervoso qualquer. Haveria de acordar a meio da noite com baba a escorrer pelo canto da boca e ter sujidade entranhada nos cantos de difícil acesso das unhas; ser casmurro e orgulhoso, muito pouco altruísta, ter humor flutuante e fazer a vida negra a todos os desgraçados que com ele se cruzassem. Haveria de ser prepotente e autoritário, disfarçando isso com uma máscara de organização e capacidade de liderança extremas. Haveria de ser socialmente inapto e auto-comiserativo.
O meu Herói haveria de ser um cocktail-molotov de defeitos e incongruências. Só porque sim. Só porque, se houvesse um herói assim, seria mais fácil nós acreditarmos que seríamos também capazes de ser Heróis nas nossas próprias vidas, em vez de nos sentirmos personagens secundárias de quando em vez...