21/09/2011

Eu finjo




Pois está claro que finjo. Podes condenar-me?! Mas o meu fingimento não é como os demais... O meu fingimento é na proporção do meu amor. Quanto mais te amo, mais preciso fingir.
Finjo que não dependo da visão de ti para respirar, nem de te tocar para ouvir uma melodia que mais ninguém ouve, nem de sentir o teu cheiro para que o doce saiba a doce... Sinestesias, não é como chamam à intersecção de sensações? Finjo para que penses que estou contigo por opção, por vontade, não por dependência.
Finjo gostar de todas as tuas piadas, finjo não me importar que te atrases, finjo não reparar nas bacoradas que dizes, finjo nunca estar cansada para ti, finjo que não sinto o estômago revolto de cada vez que te vejo ou que se diz o teu nome, finjo não sentir um
micro-arrepio de cada vez que ouço a tua voz, finjo não sentir ciúmes do tempo que não passas comigo, finjo alegrar-me efusivamente com as pequenas ninharias que te fazem feliz... Finjo ajustar-me perfeitamente a ti.
Se não te amasse tanto, dava-me tal como sou. Em vez disso, sou uma fraude, mas uma fraude perfeita para ti.
E depois asfixio. Porque "o mundo do fingimento é uma jaula, não um casulo". Finjo por ti, por amor a ti. Finjo para te saber merecer e depois, porque é tudo fingimento, perco-te por não te saber ter.
Escrito para a Fábrica de Letras, mês de Setembro, tema: Fingimento.

7 comentários:

  1. É bom podermos fingir assim. Nem todo o fingimento é mau, quando ele serve para fazermos alguém feliz, e para nós também sermos felizes.

    Todo o fingimento fosse assim.

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  2. Excelente B e a conclusão não podia ser mais acertada. Fingir só traz problemas, mesmo que seja por amor. Um dia a casa cai. Beijinhos

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  3. Utópico, era isso mesmo que eu queria dizer. Todos temos uma alergia tremenda à palavra fingimento mas ele não tem que ser necessariamente mau... =)

    Brown Eyes, por muito bem intencionado que seja o nosso fingimento, é verdade que nunca é muito duradouro... É pena, de certa forma...

    Fabi, obrigada! Beijinho

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  4. Uhh... muito profundo!
    Mais uma vez... ESPETACULAR! :)

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  5. Leoamiga

    Ó poeta é um fingidor
    finge tão completamente
    que chega a fingir a dor
    a dor que deveras sente

    escreveu o nosso Fernando Pessoa

    Entretanto, acabei de publicar na nossa Travessa um testículo com x, INTERDITO a Senhoras, menores e até cavalheiros da mais esmerada educação. É um tanto brejeiro e pode ferir a susceptibilidade ou até mesmo o pudor de quem se atreva-la a lê-lo. Intitula-se A garrafa e os copos. Dele me permito transcrever um passo dos mais inocentes.

    “Ela, muda e febril, deixou-se levar, estendeu-se na cama, ele perguntou-lhe posso pôr-lhe o instrumento, refiro-me, claro, ao termómetro, no sovaco? Nata, sem uma palavra, desatou o nó do cinto do roupão, abriu-o um pouco, a camisa de noite não ocultava nada, quando ele se inclinou para tirar a temperatura, os bicos dos seios fugiam da prisão diáfana.”

    Repito o alerta: é IMPRÓPRIO para consumo. Depois, não digam tu e a tua malta que não avisei.

    Qjs

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  6. Marlene, obrigada... um beijinho

    Caro Henrique, esse Fernando Pessoa tem ar de ter sido dono de paixões fulminantes, de tanto que fingia... =) Quanto ao textículo, com tanto aviso e tanta censura, vou esperar por um dia em que me sinta particularmente arisca para ir ler, não vá a minha fina sensibilidade soar o alarme... =)

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