12/03/2012

Lição de humildade


A humildade dos relógios. Dando as horas a toda a gente, sem presumir nunca ser dono do Tempo. Indiferentes às lamurias dos que desesperam por ver os ponteiros correr, completar o seu ciclo, rápido, rápido... Assim como também não se compadecem dos que, enganados num momento feliz, imaginam que poderão, com o poder infinito da sua alegria, congelar o seu mecanismo, fazendo-os parar... São os reis da indiferença, símbolo máximo do desprezo; prosseguem imperturbados com a sua dança compassada de ritmo inflexível. Tic-tac, tic-tac...

Ser como o relógio que ninguém questiona. Exacto e preciso. Não dá a ninguém nem mais nem menos do que deve ou do que esperam. Horas. Tic-tac. Arrastando-se, inexoráveis. O mais fiel e aplicado operário, sem quebras de ritmo ou produtividade, sem queixas, sem variações ou humores imprevisíveis. Tic-tac, sempre.
Não mandam nada nem em ninguém. Antes actuam admiravelmente lembrando os limites e deveres a quem os quiser ver. Não retaliam, mas também não premeiam. Impávidos, vêem-nos desfilar ao sabor do seu ritmo sem, no entanto, serem donos de coisa alguma. O Tempo, esse tirano sem rosto, leva todos os louros.

7 comentários:

  1. Belo texto, gostei muito.
    Mas não me parece que os relógios sejam humildes. Marcam o compasso do nosso destino, bom ou mau, com uma tremenda indiferença, isso sim.
    Bjs

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  2. São meros instrumentos do tempo. Mas quem define o tempo... senão os construtores de relógios? :))

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  3. Ainda tenho um daqueles que precisavam dos movimentos do braço para cumprir a sua missão.
    Hoje alimentam-se a pilhas.
    Muito bom este post!

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  4. Teresa, os pobres não têm escolha... São como carrascos, mas não é por maldade, é por vocação. =)

    Luisa, está muito bem visto, sim senhora... =)

    Carlos, não conheço relógios que se alimentam do movimento... isso é um achado! Como é que as pessoas passaram a preferir os que funcionam a pilhas??! Aquele coelhinho Duracell demoníaco nunca me convenceu...

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  5. ARGHHHH! Esse carcereiro meticuloso ... a sua escravatura ainda não foi abolida, só silenciada.
    No entanto já encontrei alguma frouxidão, aqui e ali: o original "sound track" Victoriano do "Big Ben", ou o nosso "Avé" ...

    Um abraço do Canto de Cá ...

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  6. ditonysius...não tenho a certeza de pressentir algum afrouxamento no rigor do tempo ao ouvir o "Avé"... mas vou estar atenta... =)

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  7. O relógio, tantas vezes o quero parar mas que adiantava? As horas continuavam a passar. Excelente texto e ideia. Beijinhos

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