Disse adeus ao meu pai. Há uma semana.
Atendi-lhe o telefone e, antes que ele tivesse tempo de começar a chorar os seus infortúnios alcoolizados, misturando arrependimento por nunca ter sabido ser pai com insultos e ataques por eu nunca ter sido uma filha amorosa... antes que ele tivesse tempo disso, eu disse-lhe, tal como já havia ensaiado na minha mente, tal como até já havia sonhado: "Eu não te vejo há 10 anos. Quando eu fui à Suíça, não tiveste tempo para te encontrar comigo. Vieste a Portugal, não disseste nada. Quem és tu para mim? Não quero mais isto. Segue a tua vida, eu estou a seguir a minha. E agora vou desligar. Adeus."
Faz hoje uma semana. E só agora me apercebo do tamanho deste gesto. Desprendi-me desta relação que mais era uma "ralação", onde as chamadas telefónicas eram irregulares, às vezes semanas ou meses sem ligar, e cujo conteúdo alternava apenas entre o choroso ou o zangado. Invariavelmente regado com álcool.
Não quero mais.
Passou mais um dia do Pai. Senti novamente inveja das memórias boas que os outros têm dos seus. Não pensei no meu.
Faz imensa falta um pai e uma mãe na vida de uma pessoa mas, entre ter país que não o sabem ser e só servem para ralar e não ter... preferível não ter, sem dúvida. Beijinhos
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