20/04/2016

Pessoas extraordinárias #2 - a Elisa

A Elisa é amiga de infância da minha mãe. É uma amiga daquelas a sério, que brincaram juntas na infância, que se atreveram juntas na adolescência, que se viram casar e ter filhas e que, hoje com 50 anos se vão encontrando às vezes, quando a rotina diária quer, e param sempre um pouco a conversar, a perguntar pela vida e pela família...
A Elisa conhece a minha mãe, e ficou do lado dela quando, na altura do divórcio, meio mundo se virou contra ela porque uma mulher é desgraçada quando o marido a faz infeliz, mas é uma cabra que "de certeza já tem outro" se decide pôr fim a isso e lutar pela sua saúde.
Foi a Elisa que segurou a minha mão durante a homilia, neste dia.
Foi também ela que, por trabalhar no laboratório de análises onde nós éramos clientes alertou a minha mãe para o facto de eu precisar de um acompanhamento, de eu não estar bem, apesar de o médico de família me mandar sucessivamente para casa com suplementos de ferro, porque isto é só uma anemia ligeira, está tudo bem... Foi no seguimento do alerta da Elisa que a minha mãe me levou a um hematologista que me diagnosticou um traço talassémico e que me ajudou a ter uma vida saudável.

A Elisa hoje está desempregada, porque o laboratório mudou de administração, as lambe-botas foram mantidas mas ela não... É uma mulher de quase 60 anos, que nunca fez mais nada na vida e que se vê agora demasiado jovem para a reforma mas demasiado velha para a aceitarem noutro lado.
Passeia muito a pé aqui pela terra. Continua a ir à missa. Às vezes vejo-a passear com o marido, um grande companheiro, e a sua netinha, de 1 ano.
Pergunta-me sempre como ando, como anda a minha cabecita e a ansiedade, e se ando a comer bem.

1 comentário:

  1. Não tenho amigas de infância e sinto falta. Deve ser maravilhoso conseguir manter uma amiga tantos anos. Quem se mudou de terra muitas vezes não tem amigas dessas. O que aconteceu à Elisa está a acontecer a muita gente infelizmente. Há casos em que as pessoas não ficaram pior, conseguiram uma reforma antecipada que lhes permite ter uma vida digna mas, a maior parte não. Conheço alguns casos e o balanço é negativo. Hoje as pessoas são números e por isso de descartam-nas quando lhes dá jeito e se elas não sabem lamber botas então, mais depressa se livram delas. Infelizmente vivemos num de oportunistas e quem não o for não tem lugar, como dizem, não sabem viver e quem não souber viver...Há muitos anos vi um comentário sobre a globalização e fiquei nessa altura a saber que a escravidão não acabou, mudou apenas a cor dos protagonistas, hoje os escravos são brancos e o pior é que não há vozes a levantarem-se contra ela. Beijinhos

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