29/09/2016

Estou a vencer

...e pronto, é isto. Mas não quis deixar de assinalar.
Quando chego às consultas de terapia já não digo "ando benzinho". Quando eu própria penso para mim e faço o balanço dos meus dias, já não penso que ando a passar por entre as gotas da chuva, a escapar às situações difíceis, temente do que possa vir por aí...
Ainda tenho os meus momentos sufocantes, sim. Todos os dias há pelo menos um minuto em que, por qualquer motivo, temo as pessoas que me rodeiam, temo a hora da refeição porque o apetite nunca abunda, temo o encontro marcado, a conversa que se aproxima, o por do sol, que nesta altura começa a vir cedo demais. Temo os dias tristes de outono, a chuva cinzenta, o frio que se entranha, a fraqueza física que nos é própria nestas estacões mais frias...
Temo tudo isto, mas só por um minuto, ou por uma meia hora. Porque a seguir vou conversar, vou respirar para a rua, vou olhar o cair sereno da noite; lembro-me que o frio também é sinónimo de aconchego e mimos. Lembro-me que o frio faz apetecer as comidas quentes e confortantes. Lembro-me que as depressões de outono não é a estacão que as traz, mas antes a nossa memória de outros outonos: os da natureza e os da nossa alma. E a minha está a curar-se. Quando me lembro do meu valor e da minha dignidade. Quando me lembro que peço desculpa demasiadas vezes, que me faço pequena, para não incomodar ninguém, que espero instruções e opiniões de toda a gente, que muito poucas vezes confio no poder do meu "sim" ou "não"... Quando me lembro destas coisas, ganho mais confiança no meu poder. Quando sou menos exigente com a realidade que me rodeia, mais receptiva, ganho satisfação e serenidade. Quando olho os outros com mais amor, ganho paz.
E tudo isto são ganhos. São vitórias. Não tenho a ilusão que há nao haverá dias difíceis. Ou dias maus. Todos os temos. Mas os restantes são dias de vitória. E o meu  peito enche-se de ar, dilata-se de plenitude e aceitação. As minhas costas endireitam-se. E eu sinto-me em paz.

O meu pai fez anos e eu, ao contrário do que pensava, não senti vontade de lhe falar ou de o fazer sentir melhor. E, por isso, não o fiz. Fiz o que eu queria, em vez de fazer o que achava que esperavam de mim. E respiro devagar.

8 comentários:

  1. É preciso dar a volta às coisas da vida para ver a sua parte boa. Há sempre um lado bom. Confia. :)

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    1. Sim, Luísa, confiança é uma das palavras chave para fazer esta aprendizagem com serenidade. E serenidade é coisa que vou muitas vezes buscar a ler os teus textos e a ver as tuas fotos =)

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  2. Conseguir o equilíbrio entre fazer o que se quer e o que é esperado que façamos é muito complicado.
    E é algo com que somos confrontados todos os dias.
    Bfds

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    1. Pois é, Pedro... o equilíbrio é difícil e o esforço por o manter é desgastante... Fiz esse exercício tempo demais e agora quero aprender a libertar-me aos poucos, sem culpas. Bom Dia da Implantação da República Portuguesa aí para Macau! =)

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  3. Fiz o que queria em vez de fazer o que esperavam de mim, que alegria ler esta frase. É assim mesmo minha querida B. Esperar as pessoas esperam muito mas, se reparares, não dão o que esperam dos outros, não é? Por isso Linda sê tu mesma e nada de medos.
    "Quando me lembro que peço desculpa demasiadas vezes, que me faço pequena, para não incomodar ninguém, que espero instruções e opiniões de toda a gente, que muito poucas vezes confio no poder do meu "sim" ou "não"."
    Quando li esta tua frase, pensei:
    -Engraçado que eu raramente peço desculpas,(se errar assumo o erro, sem dúvida e rapidamente) não me interessa a opinião de ninguém e nunca espero as instruções de ninguém e, pelo contrário, se me dão instruções dá-me logo vontade de fazer o contrário. Conheci pessoas que tinham o hábito de dizer até como tinha que fazer o chá, porque só como diziam é que ficava bem feito, achas que eu fazia como diziam? Nem pensar, eu tenho a minha maneira de fazer as coisas e é assim que as faço e pouco me importa que achem que está mal, que sou preguiçosa, etc. Eu não dirijo ninguém, cada um é capaz de o fazer, por isso que ninguém pense dirigir os meus passos. Caminho sempre ao meu ritmo.
    Engraçado que nunca tinha pensado nisto e tu com este teu post levaste-me a pensar neste pormenor.
    Beijinhos

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    1. Mary, eu sei que compreendes bem a minha luta e a minha evolução... Com passos pequeninos, lá se vai fazendo. Por acaso, eu passei a fazer o chá (temperatura da água e tempo de infusão das ervas) e a bebê-lo sem açúcar, por instrução de uma amiga muito querida para quem o chá é quase uma religião...loool

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  4. Reconfortante conseguir o equilíbrio, principalmente em momentos difíceis. E depois aquela frase que a Mary Brown destaca e é o nó górdio da solução.

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    1. Carlos, fui procurar a história desse "nó górdio", que não conhecia. Obrigada pela referência! Sinto-me um pouco como Alexandre, o Grande, a destruir o nó que eu própria ajudei a criar... =)

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