15/02/2017

Para onde vão as palavras que calamos? Os monólogos que apenas imaginamos? As mil variações possíveis daquela conversa, caso tivéssemos usado uma palavra diferente ou posto aquela vírgula noutro lugar?
Depois de muito cogitar nisto, tenho para mim que as palavras ficam em nós, percorrem-nos o corpo, como se viajassem à boleia da corrente sanguínea, visitam vários membros e órgãos, causando diferentes sensações em cada um, voltam eventualmente ao coração trazendo sentimentos à tona, passam pelos pulmões, causando-nos aflição asmática e trazendo tristeza (a medicina chinesa, na sua lógica tão bela, diz que os pulmões são o órgão que mais sofre o sentimento de tristeza, que libertamos através de choro e suspiros). Lá acabam as palavras por ascender ao cérebro e renova-se a simulação de diálogos, de argumentos, de réplicas imaginadas, de finais felizes e redentores ou de rancores acesos e inapagáveis.
Quanto tempo durará? Quanto tempo resistem essas palavras nesse circuito ininterrupto? Será talvez um pouco como quando o corpo exposto a uma substância nociva se vai regenerando, dia após dia, mês após mês... Mas sem nunca desaparecer totalmente.

6 comentários:

  1. Muitas vezes ficam connosco.
    Introspecção também é necessária.

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  2. Eu acho que elas se evaporam para voltar um dia, com uma chuva qualquer.

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  3. Quer se evaporem, quer andem cá dentro, o certo é que lá vão voltando uma e outra vez... Aí é que está o problema, Luísa...

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  4. B tu não inspeccionas demais tu consegues é transmitir tudo o que sentes de uma maneira tão simples. Eu tenho imensos monólogos, principalmente quando alguém se porta mal comigo e eu não consegui dizer-lhe o que pensava e como vivo 5 dias da semana só dialogo muito comigo, muitas vezes em voz alta. Esses diálogos servem para me aliviar e as palavras acabam por se perderem depois de me acalmarem. Nem tudo desaparece mas a maior revolta desaparece juntamente com as palavras.
    Beijinhos

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    1. Mary, há estudos que dizem que quem fala sozinho é mais inteligente... também há aquela variante do "eu falo comigo porque gosto de conversar com pessoas inteligentes". E há eu, que chego ao ponto de às vezes não saber se disse mesmo determinada coisa a alguém, porque imagino tantos diálogos que os recordo depois como se tivessem acontecido de facto! É preciso ter cuidado com isto!lol

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