05/10/2009

Momento glorioso no início do meu dia

Primeiro visitante do dia, um solitário homem, olhos meio em bico, talvez oriental, talvez não... Por isso, cumprimentei-o com um “bom dia!”, ao qual ele apenas acena com a cabeça. Nem um sorriso, nem uma carranca, nem um músculo se mexeu naquela cara amarelada. Apenas baixou leve e rapidamente a cabeça (mais um indício de que o homem era proveniente dali daqueles lados do sol nascente). “Can I help you?” – tento. “No”, reponde ele. Assim. Sem mais nem quê. “No”; não. E lá vai ele caminhando pela galeria dentro, entra no espaço da exposição sem fazer a mais remota ideia de onde está ou do que vai ver, aposto. Sinto vontade de correr atrás dele, plantar-me no meio do caminho com a minha mais convincente cara de “olhe que eu sei Kung-Fu” e mãos nas ancas, à moda da boa e brava mulher portuguesa, a gritar-lhe que tem que pagar bilhete, mas você pensa que está onde, seu malcriadão, isto não é a via pública para entrar por aqui adentro assim, sem acompanhamento e sem pagar.
...Ele teria que pagar, se não fosse a obscena sorte que teve em aparecer precisamente no dia em que o Douro está de “portas abertas”... Então fico indolentemente no meu posto, a remoer a minha irritação, enquanto a dita personagem dá a sua voltinha pela galeria.
Deparo-me com gente muito estranha no meu trabalho de Recepção, ora pessoas que se cosem às paredes, muito tímidas, quase com medo de respirar, que se mexem como se estivessem numa igreja, que têm medo de perguntar o que quer que seja; outras vezes, pessoas arrogantes que recusam qualquer ajuda ou informações e que acabam perdidas e depois vêm reclamar que está tudo mal sinalizado.
Pessoas estranhas. Enquanto isto, o estranho visitante saiu como entrou: mudo.
Meia hora depois, outro visitante disse que mesmo não se pagando as entradas neste dia, não está interessado porque é da região (que lata) e virou-me as costas ainda enquanto lhe explicava onde se dirigir para comprar vinho, informação que ele próprio pediu.
P*#%§ que os pariu!!! Falta muito civismo e educação nas nossas relações formais e de circunstância mas, mesmo assim, todos insistimos para que nos tratem por senhor doutor XPTO... Hipócritas.

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