27/02/2010

Ouriços Cacheiros


Já viram bem como é difícil e frágil a convivência humana?
Como cada palavra tem duas interpretações; como cada gesto é construtivo e destrutivo ao mesmo tempo; como a humildade e a vaidade se tocam perigosamente; como as coincidências unem ou separam arbitrariamente; como nós próprios mudamos de dia para dia...
Somos ouriços cacheiros, nós. No frio do Inverno. Passámos o Verão distraídos, a brincar... Mas agora que o frio aperta e precisamos encontrar calor uns nos outros, aproximarmo-nos, partilhar, os nossos picos estorvam e afastam aqueles que ousarem aproximar-se um pouco mais.
Temos que baixar a guarda. Afogar os nossos defeitos e intolerâncias. Ou morreremos de frio.

25/02/2010

Manhã chuvosa no Douro


Hoje o dia foi cinzento... Chuviscou um bocado e, em geral, esteve bastante nublado o dia todo...
E eu fiquei durante uns bons minutos parada a contemplar o efeito do sol por entre as abertas das nuvens... De espaço a espaço, o algodão espesso abria-se, deixando entrever uma nesga de céu um pouco mais limpo, por onde o sol espreitava. E, olhando para os socalcos verdes e castanhos, via-se claramente aquela mancha irregular de luz forte. Como se tudo à volta fosse cinzento e pesado e apenas aquele ponto tivesse sido poupado à escuridão, por uma qualquer piedade divina.
Mas havia vento, e as nuvens deslocavam-se. E, com elas, essas manchas luminosas. Então detive-me longo tempo a observar como aqueles pedaços de sol-e-luz-e-calor viajavam do alto do monte, e desciam atravessando vinhas, oliveiras, casas... E continuavam a descer, chegando finalmente ao rio, castanho e lamacento, das cheias. A cor castanha desaparecia então, e assumia um tom verde musgo. Apenas um pedaço, apenas o tamanho da janela aberta no céu. E a mancha luminosa continuava a viajar. Aproximou-se de mim. E envolveu-me também. Fiquei ofuscada por momentos. Quis olhar para cima, para ver o sol, tão tímido, tão resguardado, mas cegou-me. Em menos de nada, a mancha passou e ficou frio outra vez e fiquei novamente rodeada de cinzento. Mas já outra mancha descia o monte e o ciclo repetiu-se. Foi uma manhã linda.

21/02/2010

Tattoo


Já está!!!! Fi-la ontem... demorou quase uma hora... mas não custou nada e ficou tão linda...!!! =)
E não tá muito vermelha nem nada... Categoria máxima...

16/02/2010

Falar de mim vs. Falar dos outros


Às vezes acho que falo demasiado sobre mim própria... Falo demasiado tempo e demasiada informação. Sobre mim e sobre as minhas opiniões. Sobre o que tenho, fiz, penso ou quero. No momento, a conversa corre. Depois, arrependo-me e penso "que seca, não admira que pensem que sou egocêntrica e desmiolada... Afinal, não interessa a niguém o porquê de eu hoje vir vestida de verde e não de azul..."
Agora dou-me conta que, ao falar de mim, não falo nos outros, que é o que quem não fala de si próprio costuma fazer... Foi uma epifania, enfim.
Posto isto, hei-de continuar a falar de mim até que a voz me doa.

15/02/2010

Hum............. acho que vou fazer uma tatuagem...

14/02/2010

Dia dos Namorados


N'O Diário de Bridget Jones, ela resume todo o mês de Fevereiro como "O Massacre do Dia dos Namorados". E desopia a sua amargura criticando fortemente esta iniciativa, mais do que tudo, comercial e ultrajantemente injusta para aqueles que se vêem sem "muleta" neste dia que é todo sorrisos e coraçõezinhos cor-de-rosa e flores que, inevitavelmente, secarão e murcharão.
Tenho cá para mim, no entanto, que tamanha revolta não é mais do que uma dorzita no "joelho do braço", como vem depois a comprovar-se quando ela se desfaz toda em delírios porque finalmente arranjou namorado.
Eu não adoro mas também não desdenho do Dia dos Namorados. Simplesmente sou-lhe indiferente. Passei o 14 de Fev com namorado uma única vez... E foi horrível. Andávamos na escola. E não era hábito irmos a casa um do outro. Nesse dia não houve aulas, talvez fosse fim de semana, já não sei. Certo é que não tínhamos para onde ir, então fomos com um frio de rachar passear para a beira rio para fazermos a fatal troca de presentes. Presentes esses que se revelaram uma extraordinária dor de cabeça no momento da procura e uma, não rotunda mas, moderada desilusão no momento da entrega. E ali ficámos nós uns minutos. Roídos de frio... Porque, ao contrário dos filmes, onde os apaixonados não sentem frio nunca, connosco o ar não aqueceu só porque estávamos juntos. Foi uma triste experiência. E o dia continua a não me dizer nada.
No dia do Pai, tenho pena de não ter um Pai à minha beira. No dia dos avós, penso nas avós vivas e nos avôs mortos com saudade... Mas no dia dos namorados não sinto falta de nada.

13/02/2010

O toque

Pus-me a pensar, vindo assim do nada, no toque. Em nenhum toque em especial, mas n'O Toque. No verbo. No acto de estender a mão e tocar em alguém, sem a pessoa estar a contar com isso e sem fazer caso, depois. Como se fosse uma coisa normal.
Como quando éramos miúdos. Os miúdos tocam-se constantemente. Vamos jogar à apanhada? Eu toquei-te. Apanhei-te. Agora tens tu de tentar tocar em mim. Ou nos bancos da escola, em que as pernas ou os braços ou os ombros partilhavam o mesmo espaço reduzido. E quando saíamos, dávamos as mãos na rua, seguíamos em fila indiana de mãos nos ombros ou na cinta do colega da frente. Mesmo que não o conhecêssemos bem. O corpo, a nossa parte tangível, era o que mais importava e partilhavamo-lo.
Depois crescemos e ficamos mais cientes do que é o "nosso espaço pessoal" e "vital", a nossa "bolha de ar". E, salvo raras excepções (aquelas pessoas com quem temos um entendimento mais pleno), reagimos mal se sentimos esse espaço ser invadido. Ficamos rígidos se um simples conhecido nos cumprimenta com dois beijos na cara; se estamos na igreja e a pessoa ao nosso lado se senta demasiado perto, nós deslizamos discretamente no sentido contrário, para recuperar o nosso espaço. Se no metro alguém vem contra nós, desfazemo-nos em desculpas, atrapalhados. Os próprios apertos de mão que oferecemos são, muitas vezes, frouxos e rápidos, sem sequer olharmos nos olhos da pessoa.
Pessoalmente, nem com a minha família sou muito dada a grandes aproximações físicas. É estranho, como evoluímos neste sentido. Como nos afastamos fisicamente uns dos outros.
Se calhar é por isso que a maior parte de nós tem a tendência irresistível de acariciar e abraçar um cão ou um gato. Não nos choca tanto a aproximação inocente de uma animal. E tambem não nos preocupamos com o que ele ficará a pensar.
Como seria bom se recuperássemos a confiança uns nos outros e sentissemos liberdade de nos tocar. Uma festa no braço, um aperto no ombro, uma carícia no cabelo, um abraço de vez em quando... Para dizermos uns aos outros, assumidamente: estou aqui. Sou teu semelhante.

09/02/2010

Amuei

Ora pois está claro que amuei...
Porque voltaram a fazê-lo. Voltaram a fazer-me sentir pequena e ridícula, crente e ingénua, estúpida e fraca... E fazem-no de propósito. Com premeditação. Fazem-no, não por o acharem relamente mas porque os diverte ver a minha reacção e a forma como me enervo e reajo às suas respostas desdenhosas e altivas.
Com que direito o fazem??! Não é normal e vou mandá-los dar uma volta ao bilhar grande se vêm outra vez com uma de "é brincadeira e é engraçado e não sejas assim".
São mesquinhos. Sobretudo porque o fazem só quando estão juntos. Quando estão só comigo, blá-blá-blá, conversa amena e é tudo muito bonito. Quando se juntam, alguém que os ature porque eu não estou para ser o alvo mais à mão de semear para descarregarem as frustrações das suas vidas pequeninas nem para ser o capacho que fica rente ao chão enquanto eles se elevam, crentes de que são superiores e mais sérios e íntegros que toda a gente.
São mesquinhos. E prefiro andar sozinha nos próximos tempos a ter que me sugeitar a isto.