13/02/2010

O toque

Pus-me a pensar, vindo assim do nada, no toque. Em nenhum toque em especial, mas n'O Toque. No verbo. No acto de estender a mão e tocar em alguém, sem a pessoa estar a contar com isso e sem fazer caso, depois. Como se fosse uma coisa normal.
Como quando éramos miúdos. Os miúdos tocam-se constantemente. Vamos jogar à apanhada? Eu toquei-te. Apanhei-te. Agora tens tu de tentar tocar em mim. Ou nos bancos da escola, em que as pernas ou os braços ou os ombros partilhavam o mesmo espaço reduzido. E quando saíamos, dávamos as mãos na rua, seguíamos em fila indiana de mãos nos ombros ou na cinta do colega da frente. Mesmo que não o conhecêssemos bem. O corpo, a nossa parte tangível, era o que mais importava e partilhavamo-lo.
Depois crescemos e ficamos mais cientes do que é o "nosso espaço pessoal" e "vital", a nossa "bolha de ar". E, salvo raras excepções (aquelas pessoas com quem temos um entendimento mais pleno), reagimos mal se sentimos esse espaço ser invadido. Ficamos rígidos se um simples conhecido nos cumprimenta com dois beijos na cara; se estamos na igreja e a pessoa ao nosso lado se senta demasiado perto, nós deslizamos discretamente no sentido contrário, para recuperar o nosso espaço. Se no metro alguém vem contra nós, desfazemo-nos em desculpas, atrapalhados. Os próprios apertos de mão que oferecemos são, muitas vezes, frouxos e rápidos, sem sequer olharmos nos olhos da pessoa.
Pessoalmente, nem com a minha família sou muito dada a grandes aproximações físicas. É estranho, como evoluímos neste sentido. Como nos afastamos fisicamente uns dos outros.
Se calhar é por isso que a maior parte de nós tem a tendência irresistível de acariciar e abraçar um cão ou um gato. Não nos choca tanto a aproximação inocente de uma animal. E tambem não nos preocupamos com o que ele ficará a pensar.
Como seria bom se recuperássemos a confiança uns nos outros e sentissemos liberdade de nos tocar. Uma festa no braço, um aperto no ombro, uma carícia no cabelo, um abraço de vez em quando... Para dizermos uns aos outros, assumidamente: estou aqui. Sou teu semelhante.

2 comentários:

  1. Eu por acaso toco bastante nas pessoas...e noto que algumas delas reagem com estranheza a este gesto. Paciência...vou continuar a fazê-lo até que alguém me insulte =P nesse dia, vou passar a pensar duas vezes...

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  2. Cara Fabi, é isso tudo!
    É natural que algumas pessoas reajam com estranheza mas isso não quer dizer que desgostem. É confortante na maioria das vezes. E alguma reacção mais esquisita pode apenas significar que não estavam à espera... Continua assim, que vais bem!

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