Ontem fui ao café com o amigo Luís, que me questionou sobre a frase "Espera. Amanhã já passa." que ele viu no meu perfil do hotmail... Expressão que também é o protector de ecrã do meu computador e da qual
aqui já falei ao de leve... e depois
aqui também.
Então expliquei-lhe. Fiz uma viagem no tempo e voltei a pensar em coisas que há meses estavam muito bem arrumadas num canto escuro da minha cabeça. O tempo em que além de ansiosa, eu era uma pessoa deprimida, que tomava anti-depressivos diariamente, que andava curvada e que chorava todos os dias. Todos, mesmo.
Houve um tempo em que eu me recusava sair com as colegas de casa da faculdade, o Quarteto Fantástico, no qual eu comecei a destoar. Recusava-me a sair porque não sentia a vivacidade e alegria delas. E depois, quando estava sozinha em casa, chorava porque me sentia só e abandonada e incompreensível (incompreensível é diferente de incompreendida, porque o mal não era falta de atenção delas, mas excesso de complicação minha).
E quando havia mais gente em casa, eu sentia-me invadida e perseguida de tal forma, e a precisar tão desesperadamente de isolamento que ia para o quarto, no outro extremo da casa, fechando todas as portas pelo caminho e, não contente com isso, cheguei a fechar-me dentro do guarda-vestidos, para ter a certeza que ninguém me seguia, ninguém me via.
Houve um tempo em que eu tremia todos os dias ao acordar porque havia tooooooooodooo um longo dia pela frente, que eu não sentia ter força ou dignidade para enfrentar. À noite, ir para a cama, era a minha hora favorita. Porque havia silêncio. Porque já ninguém esperava por mim, já ninguém me via; era só eu, o silêncio e o cobertor, que me tapava até à cabeça, se eu quisesse.
Por vezes, era neste silêncio que a ansiedade e o terror pelo dia seguinte me atacavam e eu cheguei a pedir à minha mana, que dormia comigo e que tinha na altura pouco mais de metade da minha idade, que ficasse ainda a ver TV, só até eu adormecer. Para eu ouvir um som qualquer, para não ser só os sons da minha cabeça e o escuro total. E ela ficava. Noites seguidas a minha mana pequenina esperou acordada que eu adormecesse para apagar a televisão e dormir ela também.
Muitas vezes, estando sozinha em qualquer lado, chorava. Por tudo; por nada. Pelo que era a minha vida; pelo que eu queria que ela fosse e não conseguia; pela minha alegria, que eu já não tinha...
Eu sentia-me transparente, somo se toda a gente visse os meus problemas, os meus defeitos, as minhas hesitações... Emagreci. Cheguei a pesar 49 Kg, não porque quisesse, mas porque não conseguia comer. Sentia-me feia. Esquelética. Deformada. Anormal.
Eu não sei de onde tudo isto veio. Sei que veio de repente. Eu era normal e, de um momento para o outro, deixei de ser quem era. Deixei de ser alegre e de conseguir olhar para o futuro sem o temer.
Já fiz um longo caminho e sou hoje tão forte...! Rio tanto, tanto...! Rio sempre. Em alguns sítios sou conhecida como aquela pessoa que tem sempre um sorriso. Já ouvi alguém dizer "ainda bem, é sinal que está bem com a vida!". Não é bem assim. Não digo que tenho problemas maiores que os outros mas, de certeza, tenho problemas que os outros não imaginam. E sou grande e forte porque sorrio tão espontaneamente, apesar de tudo.´
Há muito tempo não pensava nesta fase da minha vida, nestas coisas que fiz, dignas de constarem nos diários de serviço do Júlio de Matos. Acabei por choramingar um pouco, enquanto explicava ao amigo Luís o porquê do "amanhã já passa".
Porque, às vezes, ainda tenho medo e tremo. Mas hoje eu sei que não é definitivo. É fruto da minha mente alterada, como se tivesse posto uns óculos com a graduação errada. De manhã, o sol é sempre igual, a vida é sempre igual. E é essa certeza que me permite continuar, saber que amanhã vai passar e eu vou rir genuinamente.
Hoje já não me sinto feia. Ganhei peso, cuido do meu cabelo, não ando tanto de óculos, mas ponho lentes de contacto; vou ao ginásio para cuidar e embelezar o meu corpo; até a minha tatuagem é um símbolo de aperfeiçoamento e beleza. E as estrelas são corpos que brilham com luz própria, são as minha musas...
Ufa... que grande desabafo... nem sei bem porque vim escrever sobre isto agora.
Talvez porque já tenha criado o distanciamento necessário para olhar para tudo isto e, em vez de doer, sentir-me crescer, tipo: "olha só o que já andaste!!"