16/04/2010

Revisão

Ontem fui ao café com o amigo Luís, que me questionou sobre a frase "Espera. Amanhã já passa." que ele viu no meu perfil do hotmail... Expressão que também é o protector de ecrã do meu computador e da qual aqui já falei ao de leve... e depois aqui também.
Então expliquei-lhe. Fiz uma viagem no tempo e voltei a pensar em coisas que há meses estavam muito bem arrumadas num canto escuro da minha cabeça. O tempo em que além de ansiosa, eu era uma pessoa deprimida, que tomava anti-depressivos diariamente, que andava curvada e que chorava todos os dias. Todos, mesmo.
Houve um tempo em que eu me recusava sair com as colegas de casa da faculdade, o Quarteto Fantástico, no qual eu comecei a destoar. Recusava-me a sair porque não sentia a vivacidade e alegria delas. E depois, quando estava sozinha em casa, chorava porque me sentia só e abandonada e incompreensível (incompreensível é diferente de incompreendida, porque o mal não era falta de atenção delas, mas excesso de complicação minha).
E quando havia mais gente em casa, eu sentia-me invadida e perseguida de tal forma, e a precisar tão desesperadamente de isolamento que ia para o quarto, no outro extremo da casa, fechando todas as portas pelo caminho e, não contente com isso, cheguei a fechar-me dentro do guarda-vestidos, para ter a certeza que ninguém me seguia, ninguém me via.
Houve um tempo em que eu tremia todos os dias ao acordar porque havia tooooooooodooo um longo dia pela frente, que eu não sentia ter força ou dignidade para enfrentar. À noite, ir para a cama, era a minha hora favorita. Porque havia silêncio. Porque já ninguém esperava por mim, já ninguém me via; era só eu, o silêncio e o cobertor, que me tapava até à cabeça, se eu quisesse.
Por vezes, era neste silêncio que a ansiedade e o terror pelo dia seguinte me atacavam e eu cheguei a pedir à minha mana, que dormia comigo e que tinha na altura pouco mais de metade da minha idade, que ficasse ainda a ver TV, só até eu adormecer. Para eu ouvir um som qualquer, para não ser só os sons da minha cabeça e o escuro total. E ela ficava. Noites seguidas a minha mana pequenina esperou acordada que eu adormecesse para apagar a televisão e dormir ela também.
Muitas vezes, estando sozinha em qualquer lado, chorava. Por tudo; por nada. Pelo que era a minha vida; pelo que eu queria que ela fosse e não conseguia; pela minha alegria, que eu já não tinha...
Eu sentia-me transparente, somo se toda a gente visse os meus problemas, os meus defeitos, as minhas hesitações... Emagreci. Cheguei a pesar 49 Kg, não porque quisesse, mas porque não conseguia comer. Sentia-me feia. Esquelética. Deformada. Anormal.
Eu não sei de onde tudo isto veio. Sei que veio de repente. Eu era normal e, de um momento para o outro, deixei de ser quem era. Deixei de ser alegre e de conseguir olhar para o futuro sem o temer.
Já fiz um longo caminho e sou hoje tão forte...! Rio tanto, tanto...! Rio sempre. Em alguns sítios sou conhecida como aquela pessoa que tem sempre um sorriso. Já ouvi alguém dizer "ainda bem, é sinal que está bem com a vida!". Não é bem assim. Não digo que tenho problemas maiores que os outros mas, de certeza, tenho problemas que os outros não imaginam. E sou grande e forte porque sorrio tão espontaneamente, apesar de tudo.´
Há muito tempo não pensava nesta fase da minha vida, nestas coisas que fiz, dignas de constarem nos diários de serviço do Júlio de Matos. Acabei por choramingar um pouco, enquanto explicava ao amigo Luís o porquê do "amanhã já passa".
Porque, às vezes, ainda tenho medo e tremo. Mas hoje eu sei que não é definitivo. É fruto da minha mente alterada, como se tivesse posto uns óculos com a graduação errada. De manhã, o sol é sempre igual, a vida é sempre igual. E é essa certeza que me permite continuar, saber que amanhã vai passar e eu vou rir genuinamente.
Hoje já não me sinto feia. Ganhei peso, cuido do meu cabelo, não ando tanto de óculos, mas ponho lentes de contacto; vou ao ginásio para cuidar e embelezar o meu corpo; até a minha tatuagem é um símbolo de aperfeiçoamento e beleza. E as estrelas são corpos que brilham com luz própria, são as minha musas...
Ufa... que grande desabafo... nem sei bem porque vim escrever sobre isto agora.
Talvez porque já tenha criado o distanciamento necessário para olhar para tudo isto e, em vez de doer, sentir-me crescer, tipo: "olha só o que já andaste!!"

5 comentários:

  1. Eu acho que qualquer pessoa que seja consciente já passou por uma fase, se não igual, pelo menos parecida.Crescer dói para quem deseja crescer por inteiro. Acho que quem não chora quando cresce, não cresce nunca mais.

    ResponderEliminar
  2. "olha só o que já andaste"... e olha só o que já cresceste! :)
    Parabéns pela coragem!
    E pelo desabafo que, certamente, ajudará outros que estão a passar pelo que já passaste e não tem a coragem que tu tiveste.
    Força* :)

    ResponderEliminar
  3. Obrigada às duas pelos lindos comentários!
    E é tão bom saber que, apesar de tudo, é "normal". É normal doer e chorar... =)
    E obrigada por não me mandarem internar!lol

    ResponderEliminar
  4. E tanto já aconteceu depois disso tudo, e há sempre uma fase negra para todos! a mel teve uma ainda na mesma altura que tu, eu há pouco tempo tive uma fase estranha e dizem os entendidos que estava a ficar mal, foi pena pelas coisas que o quarteto fantástico perdeu, lol pk faltava um elemento! e mm que saíssemos sem ti não era a mesma coisa!!!no dia do casamento da mel, ouvi uma pessoa a dizer "que saudades que eu tinha disto" assim que tu ao saíres a porta do prédio disseste a tua célebre frase "oh padrinho" lolol e a pessoa que o disse era uma das que se calhar ajudou a que descesses um coto, mas tu és forte e está de pé!!!Toda gente tem os seus momentos maus, é preciso é saber encará-los e tu soubeste!!!!

    ResponderEliminar
  5. Minha linda Papoilinha (que diminutivo horrível!lol), obrigada por teres entrado no guarda-vestidos comigo daquela vez... =)

    ResponderEliminar