Um à-parte: Padrinho! Querido, adorado Padrinho! Lembras-te? Falavas muitas vezes neste livro... Lembrei-me de ti todas as vezes que olhei para a capa! =)Se ainda não leram: Leiam! É uma grande obra, um grande romance. E não me refiro, obviamente, às 600 e tal páginas. É uma história que começa dividida entre o Portugal e a França da última década do sec. XIX, onde acompanhamos a primeira infância, crescimento, adolescência e juventude de Afonso e Agnès, respectivamente, e que continua e culmina na Primeira Guerra Mundial, acontecimento trágico que possibilitou o encontro de ambos.
O romance é envolvente e o relato histórico, apaixonante. É evidente por diversas vezes um exaustivo trabalho prévio de pesquisas e consultas a documentos históricos e merece um tremendo reconhecimento o levantamento e partilha de tantas informações detalhadas e narradas com extrema sensibilidade e graça acerca da vida dos portugueses arrastados pela mão da nossa velhinha aliança com Inglaterra para as Trincheiras. (As "trinchas". Amei! Amei o pormenor de ser respeitado o jargão militar das trincheiras.)
Sempre tive um fraco pelo tema das duas Grandes Guerras e, também por causa disso, atirei-me avidamente a este romance. Já há muito tempo que não lia a um ritmo de entre cerca de 60 a 70 páginas por dia... Soube bem.
Agora, para quem já leu...
Se quem ainda não leu continuar a ler o post, depois não venham cá reclamar que eu sou uma tristeza e estrago o suspense todo...
É horrível... Ho-rrí-vel. Não há direito de escrever uma história destas, que me sugou a atenção até quando não estava a ler, do género de estar no trabalho a pensar "Mas o que é que irá acontecer, meu Deus??Oxalá não sejam desgraças!!"... Dizia eu, escrever uma história destas, pôr-me ansiosa, literalmente ansiosa e angustiada, a coleccionar todo o tipo de presságios negros acerca do destino dos nossos heróis, atirados e abandonados lá pelo frio lamacento das trinchas da Flandres, a temer por eles, como se de um relato actual se tratasse... E depois não os presentear (a eles e a mim) com um final feliz. Não há direito. Eu chegava a ter medo de continuar a ler, para que não acabasse, para que não acontecesse o pior... Mas em vez de abandonar a leitura, lia ainda mais depressa, para saber...
Na capa lê-se Romance mas eu tenho tendência para associar Romance a Novela, e este Romance vai para além disso. Isto é uma história de amor. Não o amor evidente entre um homem e uma mulher, as duas personagens principais, mas um amor maior e mais alargado, pelo país, pela História e pelos costumes, pelos superiores e pelos amigos e camaradas, pela vida, pela justiça, pela alegria, por Deus ou pelo Fado, pelas pequenas coisas, por um prato de bacalhau om batatas e um fio de azeite, por uma moça bonita e roliça.
Sobressai uma exaltação e uma homenagem aos Portugueses que fizeram a Primeira Guerra. Considerados uns labregos, quer pelos bifes, quer pelos franciús, desprezados e gozados pelos boches do lado alemão. Acostumados às nossas temperaturas medianas, sofrem os horrores do frio glacial da Flandres e usam os tradicionais coletes de pele de carneiro, merecendo, por isso, a caricata alcunha de lãzudos, por entre as tropas inimigas, que se punham a fazer Mééééééé de cada vez que viam um português espreitar sobre os parapeitos da Linha da Frente. Os mais desorganizados, sem dúvida. Os mais pobres e sujos. Os menos motivados para a batalha, afinal a Guerra nem era nossa... Abandonados e esquecidos lá longe, enquanto o país se via a braços com os probemas e crises da recém implantada República.
Mas, apesar disto tudo, de uma grandeza, um estoicismo e uma humildade inspiradoras. Fiquei verdadeiramente tocada e, claro, escusado será dizer, lá me pus eu a choramingar em duas ou três ocasiões e mais outra no final... Sou uma tristeza. Este livro é uma tristeza, por me pôr assim. É que é tão lindo...! Pronto, já desabafei. Vou calar-me... Talvez ainda chore mais um bocadinho quando for para a cama hoje...
(Mas atenção. Eu não gosto dos livros que nos fazem chorar. Livros feitos para nos fazer chorar, género Nicholas Sparks e mais não sei quê... Gosto daqueles que comovem por nos envolverem e conquistarem. Não por relatarem desgraças. E este é definitivamente do segundo grupo.)