15/06/2011

"Jesusalém", de Mia Couto

Foi a primeira vez que li Mia Couto... Estava curiosa e um pouco receosa de não conseguir entender bem a sua escrita, caso ele usasse demasiados termos específicos da gíria africana, como faz Pepetela... Não foi o caso. A escrita dele lê-se lindamente, tem ritmo e musicalidade, vai usando gerúndios e "vocês", assemelhando-se ao Português do Brasil.

Jesusalém é uma viagem a um país à parte. Estranhamos um pouco, ao início, mas ao fim dos primeiros capítulos já "entramos na onda" do livro. É uma "estória" estranha, pouco provável, mas plausível. Não me secou, mas também não me fascinou. Percebi haver uma infinidade de mensagens profundas, paralelismos e associações, críticas ao nosso modo de viver e pensamentos elvados, mas não me detive longo tempo a pensar neles... A minha veia filosófica não anda particularmente activa. Passou-me um pouco ao lado... Além disso, desagradou-me a descrição quase explícita da relação, chamemos-lhe íntima, de uma das personagens com, imagine-se, uma burra, de seu nome Jezibela. Ao ler esse capítulo pensei "hum... isto não é para levar muito a sério". A continuação da leitura provou-me estar errada (embora de quando em vez lá viesse a ideia do homenzinho mais a burra... Seriously?!).

É um óptimo livro para quem gosta de se abstrair do real e normal, para quem gosta de embrenhar numa situação impensada e completamente nova. Em Jesusalém tudo é novo e diferente, há regras e práticas, não há história ou tradições, não há futuro ou projecções. Há o presente de um punhado de personagens num mundo oco e limitado, a descobrirem o seu universo interior, onde reinam culpas e crimes, medos e mágoas, rancores e amores profundos.

Confesso, mais do que a história, em si, fiquei a gostar da escrita de Mia Couto. É eriquecedora e profunda. Carregada de sapiência e serenidade. Escolhi este excerto. Há-os mais ricos, mas este tocou-me mais profundamente, por me parecer falar directamente a mim.

"O nosso maior medo (das mulheres) é o da solidão. Uma mulher não pode existir sozinha, sob o risco de deixar de ser mulher. Ou se converte, para tranquilidade de todos, numa outra coisa: numa louca, numa velha, numa feiticeira."

2 comentários:

  1. sim, já estive com ele na mão mas não o li...
    o último livro que li não me recordo do autor... foi um livro até um pouco falado, relatava a viagem de uma tartaruga de um casal que se decidiu divorciar... acho que foi comida pelos corvos.

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  2. Há-de ter sido um belo livro, para não te recordares do autor nem referires o "títalo"...lol
    O divórcio provoca sempre algumas baixas... No caso, se foi só a tartaruga, menos mal...

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