No Dia D, visualizo e anoto mentalmente motivos e pretextos. Devem ser todos bem insuflados para que nenhum atentado ou nódoa fique sem resposta e para que não me falte a convicção, a força e a raiva em algum dos assaltos. Tudo devidamente avivado e catalogado, começo a preparação. A adrenalina já sobe e as mãos tremem-me enquanto aperto com força os atacadores das sapatilhas. A roupa é confortável, sempre. E larga, solta. Para que não prenda ou refreie os movimentos.
Parto confiante e feliz e vou ganhando confiança e estatura à medida que avanço. Mal posso esperar por ouvir o primeiro toque do gongo. O começo é sempre moderado, um aquecimento, uma habituação aos movimentos pouco costumados. Estico o braço direito, punho bem cerrado, nós dos dedos cortando o ar, o tronco acompanhando o movimento do braço para dar mais intenção ao golpe. Preparo uma série de joelhos aguçados e termino com pontapés bem lançados.
Diante dos meus olhos desfilam rostos, ora sorridentes, ora amolgados pela força vingadora da minha sapatilha. Viro-me, troco de perna e recomeço. Ouço as vozes dos que me atacaram e abafo-as com os meus gritos de guerra, dignos dos filmes do Van Damme.
O ar, pobre dele, não me responde e é por isso que, com meia dúzia de golpes e Yahhhhhhhs! eu consigo sentir-me quite com o mundo e com os outros. A sala está cheia de gente que, apesar de concentrada no mesmo que eu e repetindo os mesmos golpes, está imersa num mundo só seu, a curar os seus próprios rancores.
O Body Combat é isso. Uma espécie de Fight Club onde todos se respeitam demasiado para se agredir entre si. Em vez disso, vamos golpeando o vazio à nossa volta, preenchido por cada um ao sabor da sua raiva. Os espelhos vão embaciando, como se a ira se evaporasse directamente pelos poros e se fosse colar ali, visível e apaziguadora.
Chegádos cá fora, ninguém suspeita o ritual que levámos a cabo. É doloroso e cansativo, mas essencial. Terapêutico. Porque não podemos agredir, esbofetear e pontapear abertamente o pessoal que por aí anda, mesmo que mereçam. Aquela sala é confessionário e sanatório, onde descarregamos sem o risco de que outro punho venha desenfreado em direcção às nossas caras larocas.
Para a Fábrica de Letras, mês de Junho - "Os Problemas Resolvem-se à Chapada"Parto confiante e feliz e vou ganhando confiança e estatura à medida que avanço. Mal posso esperar por ouvir o primeiro toque do gongo. O começo é sempre moderado, um aquecimento, uma habituação aos movimentos pouco costumados. Estico o braço direito, punho bem cerrado, nós dos dedos cortando o ar, o tronco acompanhando o movimento do braço para dar mais intenção ao golpe. Preparo uma série de joelhos aguçados e termino com pontapés bem lançados.
Diante dos meus olhos desfilam rostos, ora sorridentes, ora amolgados pela força vingadora da minha sapatilha. Viro-me, troco de perna e recomeço. Ouço as vozes dos que me atacaram e abafo-as com os meus gritos de guerra, dignos dos filmes do Van Damme.
O ar, pobre dele, não me responde e é por isso que, com meia dúzia de golpes e Yahhhhhhhs! eu consigo sentir-me quite com o mundo e com os outros. A sala está cheia de gente que, apesar de concentrada no mesmo que eu e repetindo os mesmos golpes, está imersa num mundo só seu, a curar os seus próprios rancores.
O Body Combat é isso. Uma espécie de Fight Club onde todos se respeitam demasiado para se agredir entre si. Em vez disso, vamos golpeando o vazio à nossa volta, preenchido por cada um ao sabor da sua raiva. Os espelhos vão embaciando, como se a ira se evaporasse directamente pelos poros e se fosse colar ali, visível e apaziguadora.
Chegádos cá fora, ninguém suspeita o ritual que levámos a cabo. É doloroso e cansativo, mas essencial. Terapêutico. Porque não podemos agredir, esbofetear e pontapear abertamente o pessoal que por aí anda, mesmo que mereçam. Aquela sala é confessionário e sanatório, onde descarregamos sem o risco de que outro punho venha desenfreado em direcção às nossas caras larocas.
Deve ser uma excelente terapia, ainda não experimentei mas despertou a minha curiosidade.
ResponderEliminarExcelente participação como sempre aliás.
Beijinhos
Fê, é fantástico... Eu já não quero outra coisa... Yogas e pilates não são para mim. Eu tenho que extravazar... lol
ResponderEliminarBeijinho
Entendo muito bem o que escreveste.
ResponderEliminarO tatami também é o meu chão sagrado... respeito pelo adversário acima de todas as técnicas de defesa e ataque. Revigoro o corpo e a mente. A aparente violência fica no dojo, cá fora, estamos mais atentas e temos uma responsabilidade cívica acrescida.
E por acaso também temos o jogo da chapada que serve para testar os reflexos :)))
Bjs
MZ, nunca tinha ouvido falar no jogo da chapada... mas o nome e a ideia agradam-me... =)
ResponderEliminarAinda bem que encontrámos estes escapes para o que nos é tóxico... Somos mais sãs, assim.
Olá,
ResponderEliminarNão conhecia o descrito...
Não dá pra mim... Adrenalina só na aula de aeróbica...
Abraços fraternos de paz
Orvalho do Céu, há videos na net... Basicamente é uma coreografia de passos e golpes de várias artes marciais e de luta, tipo boxe e muai tai... Aeróbica é divertido mas para adrenalina não há como combat! =)
ResponderEliminarJá tanta gente me falou das maravilhas do Body Combat mas ainda ninguém me tinha deixado com uma pitada que fosse de vontade de o praticar... Acho que acabaste de mudar isso :) Embora eu goste mais de desportos de grupo, esta parece-me uma modalidade em que nós somos o centro, e é sobretudo para nós :)
ResponderEliminarTambém fiquei com vontade de voltar a escrever para a Fábrica de Letras, e foi através da FL que vim aqui parar!