26/04/2017

O que se faz com os desenganos? E com o sentimento que eles destroem, o que se faz?
O que se faz quando aquela colina que amámos e admirámos por nos parecer harmoniosa é afinal, nas palavras de quem a viu de perto, um aterro fedorento e artificial?
Ou quando uma história que ouvimos e interiorizámos e com cuja recordação nos deleitamos, se revela afinal falsa, errada, mal contada. Não foi assim que aconteceu. Não existe.
O que fazemos com aquele carinho, com o sentimento que alimentámos? Onde é que guardamos a realidade desenganada? Foi falsa mas existiu em nós, no nosso coração e no nosso imaginário. E onde colocamos a nova realidade, a que é "realmente real"? Pomo-la em lugar de destaque e à vista, para nos lembrarmos de que não devemos deleitar-nos outra vez com a ilusão que tínhamos? Ou ignoramo-la, não pensamos nela e deixamos o nosso instinto fugir para a ilusão que se habituou a aceitar como verdadeira, apesar de ser tudo uma historieta barata?
Não sei a resposta a estas perguntas. Não sei o que vou ser capaz de fazer com a minha "tralha" mental... Mas sou muito, MUITO organizada e metódica. Sei que, de uma forma ou de outra, vou arrumar isto num isntante!

12/04/2017

A mota

Amigo querido, a quem falo pouco, e vejo menos ainda... Hoje ligou-me, enquanto estava à espera de algo, resolveu ocupar o seu tempo comigo... Tão bom! Disse-me que comprou uma mota e eu, em tom de brincadeira, fiz-lhe notar que tem que andar sempre com dois capacetes, um para ele e outro para as meninas que hão-de querer dar umas voltinhas. Respondeu-me de forma decidida que tem capacete para ele, quem quiser andar com ele tem que se arranjar...
A conversa derivou para o trabalho, que nos ocupa os dias, para os amores que nos desgostam e deixam um vazio, e aquela ligeira melancolia que nos ataca dez anos depois de sair da faculdade por verificarmos que não estamos no ponto onde imaginámos na altura que estaríamos e que a solidão é companheira mais vezes do que o que seria desejável. E depois ele disse coisas maravilhosas. Coisas que eu já sabia mas que às vezes esqueço... Disse que a aprendizagem mais importante que fez nos últimos tempos (inclusivamente com a ajuda dos seus romances efémeros) foi aprender a estar bem sozinho. A fazer as coisas por si próprio, por decisão e vontade sua, sem andar ao colo ou à boleia de alguém. Em suma, a validar em si próprio a sua vida e os passos que dá. E referiu que a compra da mota é no fundo uma expressão disso mesmo, porque numa mota é só ele sozinho, nao tem, como num carro, 4 lugares vazios à sua volta, ou entao cheios pela conveniência de uma boleia e não por verdadeira vontade de estar com ele.
E então, como um circulo que se fecha, relembrámos o pormenor de andar com um único capacete. Porque ele conta com ele. É inteiro. Quem vier, que venha inteiro também.

09/04/2017

"médico, cura-te a ti mesmo"

...ou, já que estamos na Quaresma, "Jesus, salvaste os outros, salva-te a ti mesmo".
Sou perita em confortar outros, em fazer-lhes ver que, apesar das tristezas que vêm regularmente, como marés, as suas vidas estão cheias de beleza, de tesouros... As oportunidades perdidas são, na verdade, escolhas feitas. Os erros são manifestações de humanidade e a aprendizagem que deles vem é valiosa. As cicatrizes são património histórico. À custa das muitas terapias que já fiz, em busca da serenidade para mim, aprendi muito e presumo muitas vezes compreender as feridas emocionais de cada um...
E depois fico só. E reparo em mim. E às vezes a beleza do dia não é suficiente. Não chega para sentir que vale a pena estar aqui. Às vezes, a beleza do dia parece exactamente o contrário, parece ser uma afirmação irónica contra o meu estado de alma tantas vezes melancólico. Os meus próprios tesouros e as escolhas que fiz parecem mesquinhos. Não me sinto corajosa, sinto-me pequena. Sinto o peso do que me falta. E não há distracção que me valha, porque em todas elas sinto a pena do que já não tenho, do que está ausente.
E assim, veio-me esta ideia... Preciso fazer comigo, aquilo que faço pelos outros. Levantar-me a mim mesma.

02/04/2017

Meditação de hoje

Como me ensinou um amigo, "não procures a felicidade no mesmo sítio onde a perdeste". Como tanta gente cita, "tolice é fazer as mesmas coisas e esperar um resultado diferente". Como hoje reflectiu a minha mãe, acerca do seu próprio infeliz casamento, "uma pessoa deixa quase de ser ela própria, deixa as suas alegrias, por outra pessoa, e para quê? O que é que isso nos traz?".
É muito fácil, é quase irresistível, perdermo-nos no labirinto destas cogitações... Mas depois de sairmos do labirinto, sacode-se os ombros, respira-se fundo, limpam-se as lágrimas e segue-se em frente. Está sol e cheira a flores na estrada.