A minha mãe está a cozer batatinhas, cenoura e a assar uma postinha de bacalhau... a televisão vai regurgitando as mesmas caras e as mesmas crises. Estou a jogar joguinhos da treta no pc e ouço por cima da música a voz da minha irmã que está na cozinha, a observar a minha mãe, a ajudá-la, supostamente, e a fazer comentários disparatados a tudo e mais alguma coisa... a rirem, as duas...
O cheiro que me chega aqui (dos cozidos e do bacalhau assado) faz-me lembrar o Natal. As vozes delas são leves e livres; está tudo sossegado, à excepção do burburinho na cozinha e da televisão que lá vai agitando os seus braços assustadores, mas que nós ignoramos... Fala para aí...
Eu interrompi o meu joguinho da treta porque me dei conta da maravilha que está a acontecer neste momento, deste equilíbrio despreocupado, e tive que vir descrevê-lo... Não preciso de muito mais. Há dias diferentes, em que eu própria sou diferente e exigente, mas esses são raros. Gosto mais destes dias assim...
Há uma diferença subtilíssima entre fugir e escapar... tão subtil que, às vezes, usamos as palavras como sinónimos.
Fugir é pânico desenfreado. É descontrolo... Run for your liiiiiiiives...!!!
Escapar é discreto e confiante. É uma jogada, uma exigência de paz e sossego, de distância.
Quando eu fujo, a luta está perdida. E então corro, para evitar males ou vergonhas maiores.
Se eu tivesse escapado antes, se tivesse escutado a mim própria, à minha vontade, em vez de ao meu desejo, eu não teria caído e não teria necessidade de fugir.
Devo ser ardilosa e previdente. Escapar, antes de ser forçada a fugir.
...somos todos nós. Eu apareci, como pediram. E vocês receberam-me com naturalidade, que foi mais e melhor do que eu pedi. Como se eu pertencesse ali ainda. Como se vocês fossem iguais.
Se são iguais, não me interessam. Se me interessassem, não vos teria abandonado.
A nostalgia e as saudades dão comichão, mas longe é o único sítio onde garanto a minha sanidade e poupo o meu âmago a mais dores.
Somos fogo de artifício. Duramos um momento que parece eterno, enquanto as luzes fazem ricochete cá em baixo e o som ecoa em volta, mas logo nos extinguimos. Cada um para seu lado, cada um da sua cor, cada um no seu devido tempo.
Estou cansada. Não de abuso físico mas de exaustão emocional... Desgaste. E saudades de quem fomos antes de sermos o que tornou inevitável o que somos hoje.
Primeiro que tudo, aprendi (mais uma vez e, decerto, não a última) que se deve ter muito cuidado com aquilo que se deseja, porque pode, de facto, acontecer. Pedi um pouco de chuva. O céu guardou-se durante semanas para me conceder o desejo em grande.
Aprendi que quanto maiores são as expectativas, os sonhos, os planos, maiores são as possibilidades de a coisa dar para o torto.
Aprendi também que, às vezes, é mesmo necessário cortar amarras de alguém, para que essa pessoa, à distância, nos veja por inteiro e respeite a nossa integridade.
Dancei um pouco à chuva. Menos do que queria. Choveu mais do que eu desejei. Tudo fugiu e o14 de Agosto não aconteceu este ano.
Mas disseram-me "aparece amanhã".
E isso valeu milhões. Valeu a minha vitória.
E, por todos os motivos, por coincidência e também por consciência da letra, a música do dia, todo o dia na minha cabeça e nos meus lábios:
Things will never be the same, Still I'm awfully glad I came Resonating in the shape of things to come, Never waiting when I know there's only one Messed it up but rest assured, No one ever thinks they're cured Just a minute while I reinvent myself, Make it up and then I take it off the shelf Over the laws of light Over the moon by midnight Let's do it all this time Everyone wishing well, we go and Everyone knows, anything goes and now We are the lotus kids All better take note of this For the story The rising moon is on the shine, The blood of scorpio's a nine Like the fear that's in eyes of every doe, Say it now 'cause John and Jane would like to know Is it safe inside your head? Songs to serenade the dead All along I said I know no enemies, Mix it up until there are no pedigrees Over the laws of light Over the moon by midnight Let's do it all this time Everyone wishing well, we go and Everyone knows, anything goes and now We are the lotus kids All better take note of this For the story Over the laws of light Over the moon by midnight Let's do it all this time Into the shadows showing Enter the rolling tide Over the ocean so wide Let's do it all this time Everyone wishing well, we go and Everyone knows, anything goes and now We are the lotus kids All better take note of this For the story
Oxalá encontre "as minhas pessoas". Oxalá consigamos concretizar o brinde que fizemos no ano passado. Oxalá chuvisque. 14 de Agosto debaixo de chuva seria novidade para mim e, desde que a música não parasse, eu juro que não arredaria pé...
Eu sou avariada, agorafóbica, egocêntrica, anti-social e essas coisas todas que já ouvi tantas vezes que, em vez de defeitos, até já me começam a soar bem... Mas o 14 de Agosto tem uma qualquer influência em mim... Como a lua. Uma lua que brilha só uma vez por ano.
Dizem que é dia de festa hoje... Que a festa é esta semana... Para mim, não. Foi ontem... também há-de ser amanhã... mas hoje não. Hoje não acordei para aí virada. Dei folga à energia e à boa disposição, para irem curtir o dia juntas e, coincidentemente, parece que uma data de gente com quem me cruzei se lembrou de mandar a decência e a inteligência para o mesmo destino... Encontrar-me com essas pessoas hoje não foi um golpe de grande sorte.
Pelo que estou retirada do mundo. Recolhi-me no meu casulo escuro e lá fora as ruas podem inundar de gente, as colunas podem rebentar, as luzes podem estourar, que eu estou em retiro e daqui a nada vou comer umas colheradas de gelado de capuccino...
Queria dormir. Mas sem a parte do "adormecer". Não quero deitar-me e fechar os olhos e ouvir o silêncio ser cortado pelas vozes na minha cabeça. Apetecia-me estalar os dedos e....pumba. A dormir.
Por isso, fico recolhida, não a dormir mas em vigília.
... e como eu sou profundamente egocêntrica, lá tive que vir pôr aqui alguma coisa, porque se eu não estou na festa lá fora, então é porque a festa não existe. E algo tem que existir. Alguma coisa tem que receber os raios luminosos da minha atenção e brilhar com o meu génio... Because I'm like Tracy Jordan...
Querido blog... Bloggers giros que me seguis... sois vós os contemplados!
É um dos seus primeiros romances, desse longínquo ano de 2000. O que lhe valeu o Prémio Literário José Saramago e o catapultou.
Eu conheci o JLP numa fase madura. Li o "Livro" e o "Abraço" e neste "Nenhum Olhar" percebi uma avidez, um esforço, uma tempestade criativa, muitas ideias, muitas ideias... tantos símbolos! Tantos pormenores, tantos elementos a desenrolarem-se ao mesmo tempo, tanto na trama de que trata a história, como na pena/caneta/teclado de quem a relatou.
Gostei muito deste livro. Gosto mais do JLP que conheci no "Livro" e reencontrei no "Abraço".
É brilhante, realmente. E triste, muito triste. Uma tragédia, um fado. E, mesmo no meio da tragédia, as imagens pintadas pelas palavras escritas são belas... E são as repetições melodiosas que nos embalam...que fazem com que, a dada altura, sejamos capazes de terminar as frases antes de as ler...
Talvez o céu seja um mar grande de água doce e talvez a gente não ande debaixo do céu mas em cima dele
Talvez o sofrimento seja lançado às multidões em punhados e talvez o grosso caia em cima de uns e pouco ou nada em cima de outros.
No corredor maior, a voz fechada numa arca, a repetir, a repetir, e a avisar...
E o homem que está fechado dentro de um quarto sem janelas a escrever parou de repente a meio de uma frase e o fim, para ele, foi a tinta que desapareceu das páginas que tinha vivido...
É um romance onde reconheci razão naqueles que dizem que JLP é de uma escrita difícil, complexa... Aliás, a escrita, em si, é encantadora; difícil é digerir e processar tudo o que os olhos absorvem numa frase e estar fresco e limpo para a próxima.
Nesse aspecto, é um livro frustrante. Mas frustrante-bom. Um desafio, algo que temos que desbravar. Não aconselhado a leitores-light.
Nota: A capa.... a capa.... não a percebo.... além de que é medonha!
"Agosto" é uma palavra complexa que encerra em si mil significados derivados de calor, excesso, gente e sabor.
Busca-se um pouco de sentido espiritual que justifique toda esta perdição nas paredes da Igreja, iluminadas e gloriosas, nas imagens de santos que colocamos em andores, a quem cantamos e rezamos.
As novenas.
Fui à novena.
Igreja cheia, fiquei de pé. O braço nu, encostei-o ao pilar de pedra, para descansar as pernas e, ao mesmo tempo, para me permitir sentir o frio que o granito emanava, enquanto eu ia exalando o calor, como me é habitual. Eu, xisto. O pilar granito.
Ao começar o Primeiro Mistério, sinto o restolhar de uma presença atrás de mim. Um atrasado. Quando o ouço começar a acompanhar a oração, a voz soou-me familiar. Olhei para trás para encontrar e cumprimentar o rosto que já sabia.
Sentia a respiração sincronizada com a minha. As orações são inocentes mas, se tivermos maldade em nós, vemos esse seu lado indecoroso. A t-shirt que me tapava os ombros, era folgada na zona do pescoço e eu só pensava "shame on you" de cada vez que mexia a cabeça porque, caso algum pensamento da natureza dos meus lhe tivesse atravessado a cabeça, aquele simples movimento poderia ser um rastilho.
Mais do que ouvir-lhe a voz, sentia-lhe o vibrato grave dentro da cabeça. E as respirações sincronizadas ainda...
Num gesto casual, passei as unhas no pescoço. E, só depois, me lembrei que a pele me fica com vergões avermelhados quando o faço. Imaginei que ele imaginava coisas acerca disso...
Quando a novena acabou, findo o ritual, virei-me para trás, já a respirarmos normalmente, cumprimentei-o decentemente, dois beijos na cara, conversa de circunstância e vim para casa... feeling dirty...
Regressei. Só hoje tive vagar para vir escrever.
Espinho.
Concerto dos Clã à beira da praia.
Livro "Nenhum Olhar" do queridíssimo José Luís Peixoto.
Os tios e primo que apareceram de surpresa à noite.
Uma deliciosa bola de berlim na praia.
Montras lindas de se ver.
Gente gira a passear ou a correr na praia.
Um empregado de Restaurante que disse "..e aqui na mesa das princesas...? Estão a gostar da comidinha?".
A minha proclamada auto-suficiência a cair por terra quando, por recusar ajuda para espalhar o protector solar (factor 50), ao fim do dia, chego ao hotel e noto que tenho a pele branca com ocasionais manchas vermelhas em zonas dos ombros, do meio das costas e atrás dos joelhos...
E, para dar continuidade ao registo escrito que aqui inaugurei por alturas do meu outro passeio...fica o registo deste:
Vou passar o fim-de-semana fora... Nada de mais. Sair sexta à tarde, regressar no Domingo, porque segunda já se trabalha... Hei-de estar por aí em alguma terra litoral, confesso que ainda não tenho a certeza onde, a apanhar banho de sol, já que os de mar não são muito para mim...
Mas não deixarei o blogue abandonado, respeitando a campanha a que muito prontamente aderi, quando foi lançada... Não é à toa que nos últimos dois dias escrevi 4 posts... Sem contar com este.
Não quero que lhe falte nada. A ausência é curta, nem vai ser notada; a tigelinha da comida está cheia, água também há... Estou confiante que os vizinhos e seguidores passarão de vez em quando a ver se está tudo bem...Obrigada a todos por isso... =)
Deste autor conhecia apenas "Os Pilares da Terra", que comprei depois de ver a série e que muito me agradou... mas também, tudo o que seja romance histórico e Idade Média me agrada...
Quis experimentar esta faceta diferente de Follett, a do romance moderno e suspense... Comecei com poucas expectativas, confesso, muito por causa de algumas críticas que li em blogues e sites... Mas acabou por me dar um enorme prazer ler este livro. Primeiro que tudo, os últimos livros que tenho lido são, na maior parte, de uma linguagem que, se não erudita é, pelo menos, cuidada. Diferente da que usamos coloquialmente. Foi refrescante encontrar este estilo simples e directo, que possibilitou que o lesse rapidamente.
A trama desenrola-se nos anos 80, em pleno conflito no Afeganistão, a guerra contra os invasores comunistas Russos e o apoio "discreto" dos EUA. Quando era pequena vi inúmeras vezes o Rambo 3, que o meu pai adorava... Assim, esta história trouxe-me recordações de paisagens, rostos, formas de vestir, práticas, bombardeamentos e um lado mais terno e poético da guerra, como se vê no filme. A trama não é complicada. Tem um pouco de romance, um pouco de espionagem e traição.
O Verão e o calor lá fora tornavam agradável a leitura, a viagem até um tempo passado e longínquo... Gostei muito. Mais do que esperava.
...o Duarte tem um dom. Eu nunca acreditei muito nessas coisas... Sou um pouco como aquele do "eu não acredito em bruxas, mas que as há, há". Ou seja, escolho não acreditar para não me perder depois no labirinto da busca e do entendimento destas coisas que em muito nos ultrapassam...Ouço, mas enquanto não me cair em cima uma evidência inequívoca sou uma céptica auto-imposta.
Ontem encontrei o Duarte por acaso. Na piscina. Contou-me histórias de coisas e de pessoas, dele próprio... Atirei-lhe com o meu cepticismo consciente e ele ia partilhando histórias, muito pouco fantásticas (no sentido de "oculto") mas de coincidências profundas. Acabou por me revelar ter ele próprio uma certa tendência para "ler" as pessoas. De ter casos concretos em que, não tendo ele feito nada no sentido de explorar essa sua faceta, ela acabou por lhe aparecer à frente de forma gritante... Enfim... Fiquei intrigada, naquela de pôr um meio sorriso, olhá-lo de lado e perguntar-me "hum... será...?!"
Ao prepararmo-nos para vir embora, ele perguntou-me casualmente, vendo a minha tatuagem na omoplata: "Então e para quando outra tatuagem?".
Eu respondi "quando souber onde a hei-de pôr, porque já sei qual será o desenho".
Perguntou-me qual, se não fosse indiscrição. Respondi-lhe que seriam os 4 naipes das cartas, e a ordem pela qual os queria... Ele emitiu um "ah..." pensativo e, logo a seguir, sem eu lhe ter encomendado o sermão, revelou-me o seu entendimento do significado da ordem que eu estabelecera...
Arrepiei-me ligeiramente, porque se eu própria tentasse descrever a minha personalidade e a minha história em 2 minutos, não o teria feito tão bem como ele o fez naquele momento.
Continuo céptica... mas vim todo o caminho para casa a rir-me sozinha e a relembrar as palavras do Duarte... Aquele maroto... Deixou-me intrigada...
Euzinha... que sou cheia de tiques e não-me-toques, que "DEUS ME LIVRE que alguém me toque nos pés", que me arrepio toda se me tocam nas costas... Euzinha, teve ontem uma mui very fenomenal aromassage relax, oferta generosíssima, muito querida e deliciosa da minha Papoila, lá no Hotel onde ela trabalha...
Senhores...ou senhoras, que se calhar se interessam mais por estas coisas, eu vim de lá toda pegajosa... mas um pegajoso bom. Nada como quando saímos pegajosas da depilação por causa dos cremes que a esteticista põe para eliminar os restos de cera... Não, pegajosa brilhante e cheirosa e voluptuosa... Foi preciso chegar a casa e olhar-me ao espelho para ter noção do ar extasiado com que saí de lá...
Mas enfim, Papoilinha, ofereceste-me uma das experiências mais deliciosas que tive na minha curta e reles vidinha... Adorei. =)
...e cá estão eles outra vez... Ao contrário dos outros anos, em que brotavam do chão do dia 31 de Julho para o primeiro de Agosto, qual praga de cogumelos viscosos, este ano foram chegando aos pouquinhos, insuspeitadamente, a partir da terceira semana de Julho... Fizeram a coisa bem feita, os marotos... Mandaram uma centena de batedores, fazer o reconhecimento, estudar a fauna nativa e, ao mesmo tempo, fazer com que esta se habituasse à sua presença... Aos pouquinhos, a nossa vista habituou-se novamente às matriculas esquisitonas, aos carros personalizados com os símbolos nacionais bem à vista, à música popular ou, em alternativa, o Best of do falecido Michael Jackson a berrar de lá de dentro...
Mas eis que o primeiro de Agosto chega e a táctica muito habilmente adoptada se revela inútil, porque é impossível disfarçar a chegada do resto desta manada ruidosa... E uma distância de 500 metros passa a ser uma morosa viagem de meia hora... e as rotundas verdadeiros lugares de carnificina e tangentes arrepiantes, e os passeios, por muito largos que sejam, são pequenos, porque esta gente vai em bando para todo o lado... Valha-me...
E depois há momentos, aqueles momentos de beleza e cómico surpremos, como o condutor barrigudito, dono do carro cor de laranja, de onde vem Michael Jackson, que sai da viatura enquanto está parada no meio do trânsito e fica ali, um passo para cá, um passo para lá, apoia-se na porta aberta, a mirar as redondezas... Ou a dos papás babados que passeiam os filhotes, que aparentam ter coisa de 5 e 8 anos, totalmente vestidos com o equipamento da selecção nacional... incluindo meias pelos joelhos... em pleno calor do Verão duriense... Isto é de uma violência que só visto...
Novamente repito: nada contra o emigrante. Tenho uma carrada deles na família. Mas não há pachorra. Em Roma, sê romano. Em Portugal, sê simplesmente Português...caladinho.