19/01/2013

Imortais



A Imortalidade é uma ilusão, quase sempre. Uns poucos eleitos foram bafejados por ela mas a ignorância que grassa na nossa sociedade de culturas-gerais que sabem um pouco de tudo sem saberem nada de coisa nenhuma, até a esses ameaça.
Mas ele insiste que não é assim. Que basta partilhar uma música para que fiquemos imortalizados na memória um do outro. Uma música, é quanto basta... quanto mais tudo aquilo que já partilhámos...!
Não tenho ilusões a esse respeito. E comove-me tanto perceber que, embora escaldado, ele continua a mantê-las...
Será o meu pessimismo crónico, a minha mesquinhez embutida que me fazem ver as coisas desta forma? Uma forma efémera, frágil como vidros. Hoje somos tudo e todos os dias o meu primeiro pensamento vai para si... Mas, amanhã, a vida acontece, um azar acontece, a verdade acontece, e seremos repelidos um pelo outro à mesma velocidade com que fomos atraídos, mas em vez da inocência que nos trouxe, agora é algo corrosivo que nos leva...
E eu leio os seus livros, e ele ouve as minhas músicas, e eu acarinho o que é seu, e ele aceita e ri do que vai de mim, e eu vejo-me rodeada daquilo que é dele... Mas vejo sombras em tudo. Sombras que dizem "aproveita enquanto tens"... ao passo que ele anda encandeado por luzes que parecem gritar-lhe "constrói, porque será eterno".
Qual de nós andará mais equivocado?

12 comentários:

  1. O Homem morre, a sua obra persiste. É essa a única imortalidade em que acredito e aí é óbvio que é só para alguns... para além de familiares e amigos, que se lembrarão sempre, até eles próprios desaparecerem!

    Aproveitar enquanto se tem parece-me um bom mote, para tudo e não apenas para as coisas materiais! Seja lá ele de quem for... :)

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    1. Obrigada, Teté! É o que eu estou a fazer: a aproveitar... =)

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  2. Sinceramente, penso que é ele...

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  3. Eu acho que enquanto alguém for recordado de certo modo existe :) E as obras sejam de que tipo (pintura, música, livros) também imortalizam de algum modo algumas pessoas.

    O ideal é ir vivendo cada dia como fosse o último mas conscientes que pode não ser, porque não gosto de cair em carpe diems radicais :) Mas claro que se soubesse quando iria morrer, faria coisas diferentes.

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    1. A resposta fundamental é, em última análise, gostarias de saber quando vais morrer??

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    2. Respondendo à pergunta que ficou perdida, é uma pergunta que já fiz várias vezes a mim própria, julgo que toda a gente pelo menos uma vez já tenha pensado nisso, eu respondo com outra pergunta, haverá resposta a essa pergunta? Tenho momentos em que penso que sim, outros em que penso que não, e fico assim nesse impasse sem resposta concreta.

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    3. E é assim que deve ser... se tivessemos uma resposta definitiva, algo estava mal... =)

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  4. Acho que andam os dois. Um é demasiado pessimista e o outro demasiado optimista e a virtude está sempre no meio. Nada é eterno nesta vida já que todos somos mortais e por isso a memória pode desaparecer apesar do que já se inventou para a imortalizar. Nós lembramos o que queremos e o que nos tocou profundamente. O que é mau, o que nos faz sofrer acabamos por esquecer, pelo menos comigo acontece, como tal há registos de memórias que jamais lhe tocamos por não nos interessar recordar o que não tem valor, ou tem conotação negativa. Partilhar não chega para que se recorde, nem construir. O que construímos pode interessar-nos só a nós e depois de morrermos pode ser destruído. Não conheço nada que seja imortal, nem o amor, já que depois de mortos os intervenientes nesse amor ele também morre, desaparece. No entanto, apesar de a vida ser mortal, de nada nascer para ser eterno, há que aproveitar cada minuto sem pensar o quanto tudo é efémero. Beijinhos

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