28/02/2013

Flutuo


Flutuo e não tenho medo.
Assusta-me só a possibilidade de, agora que me mostraste o que posso ser, não saber voltar ao que era, se tiver necessidade disso...
Mas só me assusta quando páro para olhar. Então, não olho! Escondo a cara no teu pescoço e deixo o teu cheiro inebriar-me e não olho e não penso em nada... Só em como sabe bem estar assim!
...e penso também que deves ter algum pacto com o Demónio para teres sabido e conseguido levar-me assim, sem eu própria me aperceber...

23/02/2013

"O apocalipse dos trabalhadores", de Valter Hugo Mãe


Primeiro livro que li do homem... e marcou logo 500 pontos negativos porque os únicos sinais de pontuação que ele conhece são os pontos finais e as vírgulas.... e olhem que os outros fazem taaaaaaanta falta! Tipo, não é giro acabar de ler uma frase de três linhas e ter que voltar ao início porque só agora me apercebi que aquilo era discurso directo, ou uma pergunta, e tenho que reler a frase com a devida entoação... Não é fixe.
E depois, achei a história uma tristeza. Uma Bragança inóspita e duas mulheres às portas dos 40, empregadas domésticas de ocupação e carpideiras nos tempos livres... e homens repelentes... e nem sei que mais... não lhe achei beleza nem poesia nas palavras. É demasiado frio, demasiado cru e seco... Demasiado real, próximo de algumas realidades que conheço. Talvez por isso não o ache merecedor de constar em livro. Talvez por isso me pareça tão repugnante...

20/02/2013

I trust

Caminhamos num trilho estreito, sobre a borda do precipício, mas eu não temo. Há pedras e espinhos a bordejar o caminho mas eu agarro a tua mão com confiança e não duvido nem por um momento que a tua firmeza de carácter basta para me impedir de me desviar, quando cegamente me distraio e divago. Os espinhos não me arranham as roupas e as sombras que dançam não me devoram. E confio. Confio o meu equilíbrio e a minha segurança à tua sabedoria e valentia.
E corro alguns passos à tua frente, aventurando-me, sem sentir medo, porque vens logo atrás. E nunca fui assim. Nunca me senti assim. Mas não duvido de nada. E tranquilizo quem me quer bem e se preocupa, por me ver tão ousada. Poria as mãos no fogo por ti.
Não temo, não me preocupo, ainda que as nuvens se movam cinzentas e ameaçadoras, e o vento uive e as pessoas à minha volta rosnem por simples incapacidade de lidar ou tolerar o bem que acontece aos outros.

Because...

...and someone that hugs like that can't possibly harm me.

17/02/2013

Tenho dito.

(imagem retirada de http://filmgrab.wordpress.com/movies-a-z/, do filme American Beauty)
 
Estou a aprender. E vou caminhando aos poucos e vou-me aventurando. E tento enxotar convictamente aquela sirenezinha irritante de alarme que grita: "quando olhares para baixo, a vertigem vai-te paralizar". Mas eu não vou olhar. E, se olhar, não vou ter medo porque me vou lembrar que os passos que dei para chegar ali foram dados com segurança.
 
Não vou ser aquele cão. E quando hesitar, vou decidir, conscienciosamente, não dar tempo de antena à vozinha que guincha na minha cabeça e que gosta de pensar e repensar e dissecar tudo até ao infinito.
Ohhhhhh... tivesse eu um botaozinho que dissesse "Mute"!
Mas, como não tenho, é a minha vontade férrea que vai fazer a diferença.
E, na falta dela, a minha mãe que me empurra para fora de casa!

13/02/2013

"A Insustentável Leveza do Ser", de Milan Kundera

 
Há anos que tenho intenção de ler este livro... Anos. Calhou desta vez, na biblioteca, os meus olhos pousarem nele... e acho que foi o momento certo...
Antes de mais, fiquei absolutamente fã da escrita de Milan Kundera. Se eu pudesse aspirar a um dia escrever como alguém, atrevo-me a dizer que seria como ele. O meu Eça que me perdoe...
É uma musicalidade belíssima de pôr tudo, objectos concretos e sentimentos indizíveis, numa frase simples e inspiradora.
Tomas, Tereza, Sabina e Franz serão das personagen mais ricas que já conheci, com as suas singularidades, que residem em coisas tão simples e tão infinitas como um chapéu de coco, um cão chamado Karenine ou uma sinfonia de Beethoven chamada "Es muss sein".
Por fim, além de toda a beleza literária, o livro dá a conhecer de uma forma comovente, vista a partir "de dentro", a história da ocupação Russa na Checoslováquia, em 1968. E levanta muito de fininho a questão perturbante acerca da massificação das mentalidades e identidades e a repetição exaustiva da História em todos os seus erros e atrocidades.
Tenho que o comprar... =)

10/02/2013

We Trust & Best Youth












Eu fui! ... muito por insistência da minha mãe, porque andei sonolenta e macambúzia o dia todo...
E valeu milhões, o concerto e a companhia!

08/02/2013

Saber recuar



Desistir não é bom. Não arriscar é a frustração suprema de aceitar permanecer ad eternum com mais um "e se...?".
Mas eu acho que a prova maior de sanidade é reconhecer quando o preço a pagar (a perda da serenidade) e o risco de não conseguir são maiores do que a recompensa de ir e vencer. Eu reconheço isto.
 
Eu não gosto de desistir. Eu luto, sempre que posso e que me é fisicamente suportável. Mas às vezes a luta agiganta-se ainda antes de começar. E o meu sono, as batidas serenas do meu coração, as minhas mãos quentes, a minha sanidade e o meu apetite não merecem ser sacrificados desta forma. Não sempre. Não porque é o normal e o esperado. Eu não sou normal, não reajo normalmente às coisas e o que é esperado de mim pesa-me de uma forma insuportável.
Não me orgulho de fugir. Vou ter vergonha e vou pedir desculpa, mas estou a aprender a caminhar sem medo e é um erro desatar a correr só porque me desafiaram a isso.
 
Sanidade é reconhecer onde estou e sopesar aquilo que tenho a perder contra o que poderei ganhar. E desta vez, para minha vergonha e frustração, mas para meu sossego também, vou recuar perante um desafio.

06/02/2013

tic-tac

 
Tic-tac, faz o relógio, tic-tac... e eu vou em pontas de pés, executando o meu bailado, tentando respeitar o ritmo... Tic-tac, tic-tac...
Sou sonhadora todos os dias. Nuns mais do que outros. Não exijo música. Basta o toque cadenciado das horas e eu vou saltitando e rodopiando, e bato palmas e rio sozinha. Tenho música nos ouvidos, música que me diz que tenho graça, que sou linda, que faço o tempo correr, que tudo o que vem de mim é maravilhoso... Então danço e tento não perder o equilíbrio. Não me aplaudam, não me distraiam nem me assustem nem me perturbem; cantem, só. Cantem baixinho a música que ouço, a que diz que tenho graça, que sou linda, que faço o tempo correr, que tudo o que vem de mim é maravilhoso. Cantem, que eu continuarei a dançar.

04/02/2013

Levo carros à inspecção

...amigos e camaradas... pela módica quantia de 5€, garanto que o vosso trambolho passa na IPO...
 
Passo a explicar:
Levei hoje o meu pequenote à inspecção. Tudo fino, nem eu esperava outra coisa... excepto uns valores um bocadinho anormais nos amortecedores... O senhor andou ali com o pequenote para trás e para a frente na maquineta... disse que podia ser mau sinal... chamou um colega para trocar ideias, voltou a experimentar... no final, veio ter comigo com um ar sorridente, cartinha de aprovação na mão, e disse (juro que por estas palavras): É um prazer aprovar o carro de uma menina tão simpática... ainda para mais, com o nome tão bonito! É o mesmo nome da minha filha!
Abri um sorriso aparvalhado e balbuciei um muito obrigada e que tinha a certeza que a filha do senhor era umaexcelente pessoa, só por ter o nome que tem...
E pronto, foi este caso singelo que me fez pensar e vir aqui afirmar: dêem-me os vossos carrinhos, eu levo-os à inspecção.... Eles ficam bem entregues... =)

02/02/2013

Ainda os sonhos...

Esta noite, eu dei um abraço. Eu (quase) nunca dou abraços... Mas, esta noite, a ideia de um abraço surgiu, assim muito espontaneamente. Então levantei os braços e vi, pelo canto do olho, que os dele também se erguiam mas, no último momento, eu hesitei. Então fiquei parada, de braços no ar, sem o olhar nos olhos, a ponderar no propósito de tudo aquilo. Ele também não se mexeu, deve ter visto ou adivinhado a minha hesitação.
E, depois, sem a minha vontade o ditar, tão lentamente que nem percebi quando aconteceu, dei por mim abraçada a ele, como um polvo, a envolvê-lo. E, no momento em que seria normal desfazer o abraço, hesitei novamente, pois não via nenhuma razão para o fazer. Ainda não tinha acabado. Fiquei ali, alapada, a pensar mil e uma coisas, sobre tudo e sobre coisa nenhuma, enquanto o sol caía e o mundo girava... e eu ali à espera de um motivo para me separar dele.
 
Este foi um sonho bom...