Esforço-me muito por tentar explicar e encontrar comparações ou metáforas para a ansiedade, porque tenho noção que seja muito difícil compreender por quem está de fora. Por quem nunca viveu uma crise de ansiedade ou pânico sem motivo racional, pelas pessoas que dizem "acalma-te" ou "não te preocupes, não penses nisso". Cheias de boas intenções, mas é inútil como tentar reter uma maré com uma muralha de areia.
Às vezes, a ansiedade é como um carro sem travões. Estamos ao volante mas não temos controlo nenhum porque os nossos pensamentos, tal como o carro, seguem desgovernados, velozes, caóticos... Cada pensamento mais aterrador ou paralizante que o anterior, cada vez mais esmagadores e asfixiantes. E vamos seguindo, em pânico total, à espera que a qualquer momento, uma curva apertada ou uma ribanceira nos derrube de vez. Sem controlo, sem conseguir abrandar e sair. E sem hipótese de alguém interferir a nosso favor.
E depois, como um milagre, uma inspiração de ar mais profunda ou uma ideia nova e tranquilizante saída nem se sabe de onde, surge e faz o carro abrandar. Continua-se com os travões a falhar, mas pelo menos recuperou-se o controlo do carro, pode-se tentar escapar para uma estrada mais segura, onde seja menos provável voltarmos a ver-nos sem controlo. Há sempre o medo, mas um milagre resgatou-nos. Às vezes, este milagre acontece. Outras vezes segue-se e só um grande choque, que deixa sequelas e lembranças tristes, nos pára a marcha descontrolada.
Não é fácil. Toda a gente sabe que não é fácil. Mas só cada um sabe, dentro de si, como é difícil e penosa a sua caminhada.
Neste final de ano eu desejo de todo o coração que toda a gente tenha sempre cada vez mais controlo do seu "carrinho", que a vida seja feita de momentos serenos e felizes. Tudo o resto vem por arrasto, logo que haja serenidade no nosso coração.
(para quem se lembra que no dia 21 escrevi acerca da possibilidade de ver o meu pai... Ele veio, quis ver o corpo da mãe. Mas nem o vi, nem telefonou para marcar encontro comigo e a minha irmã. Não nos quis ver. Melhor assim...)