25/05/2012

Maravilhosa presunção...

Passo por aquela montra quase todos os dias... e gosto de imaginar que, lá de dentro, ele me observa. Que lhe completo o dia. Que, ali metido todo o dia, todos os dias, de ar condicionado, mede a temperatura do ar cá fora pela quantidade de agasalhos que ponho; a velocidade e direcção do vento pelo embalo que levam os meus cabelos. Que adivinha que o meu dia correu bem se caminho sozinha com um sorriso nos lábios, ou que se apercebe que as coisas não andam famosas se passo de ombros encolhidos e olhos postos no chão... Quando passo carregada de compras sou uma dona de casa zelosa, quando levo a mochila do ginásio ou a raquete do ténis sou a vizinha desportista e enérgica, quando vou acompanhada ele deve imaginar-me uma vida social mais interessante do que é de facto, se vou sozinha sou a desocupada solitária a gastar o tempo da folga... Gosto de imaginar que se lhe ilumina o dia se, por acaso, encontro alguém por ali e paro e converso e rio. E cumprimento-o, caso esteja à porta a fumar o seu cigarro, e sigo o meu caminho enquanto o abandono naquelas cogitações acerca de mim.
Confúcio disse "faz tudo como se alguém te contemplasse". Pois bem... Por muito Big Brother que estas minhas fantasias possam parecer, eu passo ali sempre como se fosse ele o meu contemplador exclusivo.

9 comentários:

  1. Gostei! No entanto fiquei também na dúvida... não dará a minha amiga demasiada importância ao que posam pensar de si? É a minha costela de psicólogo a funcionar, não ligue!
    Entretanto, convido-a a passar pelo meu novo blog de crónicas, onde hoje publiquei o último capítulo de um conto que durou a semana toda.
    Passe a publicidade, aqui fica o endereço:

    http://cronicasontherocks.blogspot.pt/
    Bom fds

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  2. Oh, caro Carlos... isso do psicólogo é mesmo só uma costela?? pois a mim parece-me toda uma caixa torácica, porque esse palpite é mais do que acertado, para minha infelicidade... Ando a ensinar-me a contornar o problema, aos poucos... =) Passarei, com certeza, no citado blog para ler a história e deixarei o meu comentáriozinho... Bom fim de semana também para si!

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  3. Eh, eh eh! É mais do que uma costela, é verdade,como adivinhou?
    Na sequência do post que me deixou no Crónicas On the Rocks e porque considerou que o conto está muito condensado ( concordo em absoluto e explico lá porquê) digo-lhe que ado a publicar um outro conto, muito extenso, no CR. Amanhã publicarei o sexto capítulo sobre a (pouco) fascinante vida de Cátia Janine.

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  4. Não adivinhei... o diagnóstico é que foi muito acertado... =) O conto realmente estava condensado, mas também é verdade que em geral o pessoal não tem muita disponibilidade para acompanhar os posts com muita frequência nem ler textos muito longos. Por isso, embora as personagens fossem giríssimas, o conto tinha um tamanho "agradável". =)

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  5. Mildness, por incrível que pareça, ninguém de muito importante ou que valha a pena descrever... apenas um conhecido. Menos que isso, até. Os Ingleses chamam "acquaintance". É alguém que conhecemos apenas de nos cruzarmos no dia-a-dia. =)

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  6. Ahhhh olha que fofooooo! não sabia que "acquaintance" tinha esse significado tão próprio ;) thanks *

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  7. Foi uma professora de inglês que me ensinou. Lembro-me que na altura ela teve um bocadinho de dificuldade em explicar o significado. Acabámos por traduzir como "transeunte", embora não seja muito correcto... e depois nunca mais me esqueci. Acho graça à palavra... =)

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  8. Olá, vim aqui parar por mero acaso, muito giro o texto, parabéns:)
    Uma nota, a citação é de Epicuro;)

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