10/08/2012

"Nenhum Olhar", de José Luís Peixoto


(suspiro).........e pronto... É o Peixoto.
É um dos seus primeiros romances, desse longínquo ano de 2000. O que lhe valeu o Prémio Literário José Saramago e o catapultou.
Eu conheci o JLP numa fase madura. Li o "Livro" e o "Abraço" e neste "Nenhum Olhar" percebi uma avidez, um esforço, uma tempestade criativa, muitas ideias, muitas ideias... tantos símbolos! Tantos pormenores, tantos elementos a desenrolarem-se ao mesmo tempo, tanto na trama de que trata a história, como na pena/caneta/teclado de quem a relatou.
Gostei muito deste livro. Gosto mais do JLP que conheci no "Livro" e reencontrei no "Abraço".
É brilhante, realmente. E triste, muito triste. Uma tragédia, um fado. E, mesmo no meio da tragédia, as imagens pintadas pelas palavras escritas são belas... E são as repetições melodiosas que nos embalam...que fazem com que, a dada altura, sejamos capazes de terminar as frases antes de as ler...

Talvez o céu seja um mar grande de água doce e talvez a gente não ande debaixo do céu mas em cima dele

Talvez o sofrimento seja lançado às multidões em punhados e talvez o grosso caia em cima de uns e pouco ou nada em cima de outros.

No corredor maior, a voz fechada numa arca, a repetir, a repetir, e a avisar...

o homem que está fechado dentro de um quarto sem janelas a escrever parou de repente a meio de uma frase e o fim, para ele, foi a tinta que desapareceu das páginas que tinha vivido...

É um romance onde reconheci razão naqueles que dizem que JLP é de uma escrita difícil, complexa... Aliás, a escrita, em si, é encantadora; difícil é digerir e processar tudo o que os olhos absorvem numa frase e estar fresco e limpo para a próxima.
Nesse aspecto, é um livro frustrante. Mas frustrante-bom. Um desafio, algo que temos que desbravar. Não aconselhado a leitores-light.

Nota: A capa.... a capa.... não a percebo.... além de que é medonha!

6 comentários:

  1. Li "Livro" e "Cemitério de Pianos" e tenho "Abraço" para ler em breve, que também gosto de José Luis Peixoto!

    Mas gostei da tua opinião sobre este livro! :)

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  2. Teté, fico contente por saber que agucei o interesse por este livro... Espero que gostes!

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  3. Sou viciada em Peixoto, e o meu livro favorito é "Uma Casa na Escuridão". Ainda me falta o ar quando penso no final daquelelivro...

    Boas leituras

    Joana Carvalho

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  4. Hum... tenho que ler esse também... =)

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  5. Admito que só à pouco tempo comecei a "consumir" a literatura do JLP. Comprei 3 livros de uma vez: Uma Casa Na Escuridão; Abraço; Cemitério de Pianos. Assim que encontrar o Nenhum Olhar, comprarei. Ainda só li na totalidade Uma Casa Na Escuridão, livro que merece um lugar de destaque em toda a literatura nacional, pois é qualquer coisa de brilhante. Agora vou a meio do Abraço, que encaro como uma compilação de memórias. Nota-se na escrita deste autor uma profundidade inigualável e intensa, apesar de não ser um poeta da alegria, é um poeta da reflexão, do ser humano no seu sentido mais complexo e profundo. É isso que dá gozo na leitura dos livros dele, o desafio de entrar numa personagem real, mas não banal. Não conheço muitos autores (mesmo portugueses, pois só à pouco tempo comecei a ler, a bom ler), mas o autor contemporâneo que penso estar-lhe mais próximo é o Fernando Ribeiro (também conhecido por ser vocalista dos Moonspell). Apesar de ser músico profissional num género musical desagradável para a maioria das pessoas, é uma pessoa de uma inteligência, cultura e profundidade muito acima da média.

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    1. Obrigada pelo comentário! JLP merece muito ser descoberto por toda a gente porque usa palavras que todos nós usamos mas dá-lhes um peso diferente. Também li e comentei aqui o "Abraço"
      (http://domeupedestal.blogspot.pt/2012/01/abraco-de-jose-luis-peixoto.html)
      Ainda assim, preferi o "Livro" (http://domeupedestal.blogspot.pt/2011/05/livro-de-jose-luis-peixoto.html). =)

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