25/01/2010

Excerto

"Já lá ia algum tempo desde a última vez que algo semelhante lhe acontecera.
Alguma produção; só o suficiente para agradar, sem chocar. A ansiedade estava presente, como sempre. Maldita. Mas ela fintou-a. À hora marcada saiu.
Esteve. Riu. Falou. E riu mais um bocado. A refeição foi leve, rápida; o tempo bem passado. E ela esqueceu.
Esqueceu o medo.Esqueceu as vezes em que se privara de algo semelhante por se sentir insegura e acossada. Por ter medo.
E riu. E bebeu.E foi ela própria. O grupo gostou. O grupo sorria-lhe, olhava-a de frente, ria das suas piadas, escutava as suas palavras e aceitava o novo membro no seu seio. Ela sentia-se integrada.
E, já no fim, ele chegou. Esteve só um pouco. Só o suficiente. Parabéns à aniversariante. Era tarde. Trabalho no dia seguinte. O pequeno grupo começava a dispersar. Um último cigarro. E ela também foi. Num simbólico acto de rebeldia, ela veio cá para fora e fumou também. E saboreou cada passa. E depois era só ele e ela. Conversa leve, de ocasião. Ela ouvia-se falar sem saber bem o que estava a dizer, sem conseguir fazer-se entender. Efeito da sangria bebida ao jantar? Efeito da noite fria e brilhante? Efeito dele? Efeito talvez do cigarro fumado após tanto tempo, que lhe toldava a mente.
Cigarro, esse, que acabou demasiado depressa. Despediram-se. Rapidamente.
Nessa noite ela não se reconheceu, porque já não se reconhece sem os seus fantasmas.
E ao voltar, sozinha, para casa, não deixou de desejar encontrar-se a si própria daquela forma mais vezes.
Mas o cigarro acabou demasiado depressa."

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